Há milhões de anos, uma propaganda na televisão convocava: jovem, ao completar 18 anos, aliste-se no serviço militar. A partir daí apareciam imagens de jovens se arrastando no chão em exercícios, cantando o hino ao lado da bandeira e etc. Para os que ambicionavam a carreira militar, era um convite. Para os que não serviriam a Pátria, se pudessem escolher, era uma ameaça que podia durar até o dia do exame médico e do veredito: apto.
Pois agora os jovens de todos os sexos e orientações estão sendo convocados outra vez. Em lugar da voz quase caricata do locutor da velha propaganda das Forças Armadas, são muitas e diversas as vozes que martelam nas redes sociais: jovem, se você vai completar 16 anos até o dia 2 de outubro, tire já seu título de eleitor.
É a grande tarefa de agora, porque logo ali tem uma eleição que pinta desde já como a mais importante desses nossos conturbados tempos.
Entre os que compraram a causa, Anitta tem feito um trabalho e tanto para convencer a gurizada. Milionária, poderosa, dona de carreira internacional, primeiro lugar nas plataformas digitais, amada por milhões e odiada pela Damares, tudo isso aos recém-completados 29 anos. Gostem ou não dela, Anitta é uma embaixadora legítima do voto jovem, e seu engajamento na campanha movimentou os números — que andavam meio parados.
E não só a Anitta tem se mexido para convencer a turma dos 16 em diante a fazer logo esse título, pelamor. Zeca Pagodinho está na batalha também. E mais Luísa Sonza, Juliette, GKay, Whindersson Nunes, Gil do Vigor, Bruna Marquezine, Casimiro, Felipe Neto, Larissa Manoela e muitos outros artistas e influenciadores. Se você não sabe quem são alguns dos citados acima, não tem problema. Seu filho e sua filha sabem.
Fato é que tirar o título de eleitor é a coisa mais fácil que há. Lembra que precisava ir ao cartório eleitoral da Praia de Belas e pegar uma fila imensa, já que a gente sempre deixava para a última hora? Pois agora é tudo pela internet. Dá para tirar o título a qualquer hora do dia ou da noite, depois e até durante uma festa, trabalhando, estudando, namorando, azoeirando. Basta entrar em bit.ly/titulofacil, escolher a opção NÃO TENHO quando abrir a tela de identificação do requerente, preencher tudo, anexar foto do documento de identidade, comprovante de endereço — que pode estar no nome dos pais ou do responsável —, uma selfie segurando o RG, e pronto. Prontíssimo.
A coisa é simples, mas tem prazo: até as 23h59min do dia 4 de maio. Deixar para os últimos minutos é correr os conhecidos riscos do mundo digital, internet que cai, página que não carrega, sem falar na luz, que anda faltando a qualquer vento ou chuva. Melhor procrastinar até o fim da tarde, no máximo dos máximos.
Procrastinar, se algum jovem leitor não entender, é fazer qualquer coisa, até mesmo nada, antes do que precisa ser feito.
O voto das pessoas de 16 anos em diante é importante para definir de que jeito temas muito sensíveis aos jovens serão conduzidos nos próximos anos. A Educação talvez seja o mais gritante, junto com a reconstrução de uma economia abalada pela pandemia e por medidas duvidosas, para se dizer o mínimo. Também tem a Saúde. A Cultura. As questões sociais e ambientais. Trabalho é o que não falta.
Quem já foi jovem lembra bem de como a gente odiava que decidissem as coisas por nós. No máximo, aceitava dentro da máxima aquela, o respeito é bonito e conserva os dentes. Agora a gurizada está sendo chamada a participar de uma escolha que vai decidir a vida de um país inteiro.
Presidente, Congresso, Senado, governador, Assembleia. Sejam quem forem os eleitos, serão democraticamente respeitados, como é do jogo. Mas jura que, tendo a chance de participar, tem jovem que vai deixar esse cavalo encilhado passar?
No meu tempo (tem coisa mais antiga do que dizer “no meu tempo”?), eu não deixaria. Bora fazer esse título de eleitor, meu povo.
E aí, vai ficar só olhando a eleição passar?