Na contramão de outros crimes, os feminicídios cresceram no Rio Grande do Sul em 2021. O aumento foi de 23% entre janeiro e novembro na comparação com o mesmo período de 2020.
Feminicídio, como se sabe, são os assassinatos de mulheres motivados por gênero. E, a se julgar pela quantidade desses crimes que o jornal nos traz nesse começo de 2022, nada indica que os números vão melhorar.
Matou porque ela quis terminar o relacionamento.
Matou porque ela começou outro relacionamento.
Matou em uma briga por ciúme.
Matou porque ela contou para a mãe que apanhava. Matou a mãe dela junto.
Matou porque bateu nela desde sempre e, dessa vez, exagerou.
O outro lado desse drama acontece quando a mulher quer romper com a situação de violência e não sabe a quem recorrer, seja por não ter família ou morar longe dela, seja por não ter para onde ir. É aí que entra o tema desta coluna, a Casa de Referência Mulheres Mirabal.
A Mirabal surgiu em 2016, primeiro em uma ocupação na Duque de Caxias. De propriedade dos Irmãos Salesianos, o casarão estava desocupado havia quatro anos, e assim permanece desde que as acolhidas e seus filhos foram despejados de lá em 2018. Desde então, a Mirabal funciona em uma escola abandonada de Porto Alegre e atende as mulheres em situação de risco com uma rede já estruturada que inclui assistentes sociais, advogadas, psicólogas e outras voluntárias coordenadas pelo Movimento de Mulheres Olga Benario.
Hoje as meninas têm uma horta comunitária, promovem feiras, oficinas de recreação e artes para as crianças e de qualificação profissional para as mulheres acolhidas. Dentro de uma realidade de incontáveis necessidades e privações, as coisas estavam nos eixos. Até que, em 1º de dezembro, a CEEE cortou a luz da Mirabal por dívidas anteriores às da ocupação.
Isso significa que adultas e crianças estão passando o verão mais quente dos últimos tempos sem sequer o consolo de um ventilador e de uma geladeira. Procurada para negociar, a prefeitura respondeu que o grupo não é regularizado, nem conveniado com o município, o que impede qualquer tipo de acordo.
Parece bem ruim, mas senta que vai piorar.
Há pouco, um promotor classificou o local como “inadequado para receber famílias na modalidade de acolhimento institucional”, além de “não preencher os requisitos necessários para funcionamento na condição de casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar”. Argumentos, vamos combinar, que em nada importam para quem encontrou dignidade e segurança na Mirabal.
Resumindo: um abrigo para vítimas da violência doméstica em que as mães não são separadas de seus filhos e que, como casa de passagem que é, trabalha pelo encaminhamento de mulheres que não tinham horizonte algum, corre o risco de um novo despejo.
De mais uma violência.
Enquanto tenta convencer o Ministério Público de que precisa continuar em atividade, a Mirabal segue lutando para sobreviver. Doações de alimentos e produtos de limpeza podem ser entregues na Rua Souza Reis, 132, das 9h às 17h, todos os dias. Também é possível apoiar com qualquer quantia pelo Pix mulheresmirabal@gmail.com. Maiores informações pelo celular (51) 99332-6597.
Prefeito Melo, que tal conversar com as meninas da Mirabal?