É documentário da Netflix, mas também está, ou já esteve, em cartaz na vida da sua amiga, da sua irmã, talvez até na sua própria.
O Golpista do Tinder era um chinelão que se fazia passar por um bilionário israelense chamado Simon Leviev para extorquir mulheres após o match no aplicativo. O que, por si, já parece uma contradição: se era bilionário, por que as vítimas entregavam dinheiro a ele?
Justamente porque fingia de ricaço. Dizia ele que precisava da bufunfa para se manter em segurança, mas que devolveria em pouco tempo, tão logo botasse as mãos em sua incalculável fortuna. O tipo de negócio garantido, proposto após alguns jantares caros, noites de amor e muita manipulação emocional.
A respeito de prejuízo: você já teve uma prima que precisou de dólares para o intercâmbio do filho, levou suas verdinhas, guardadas com sacrifício para uma viagem futura, e até hoje não devolveu? Ou uma amiga que, no auge do aperto, arrecadou suas economias e agora nem atende o telefone?
Pois a norueguesa Cecilie, a sueca Pernilla e a holandesa Ayleen, as três vítimas de Leviev, estão em situação bem pior. Juntas, as três transferiram milhões para ele. E enquanto o mequetrefe segue em liberdade, se dizendo inocente apesar das provas, as três continuam pagando as dívidas que contraíram nos bancos.
Não é novidade, muito menos um tipo de golpe exclusivo para enganar as moças. Há pouco, um jogador de basquete italiano descobriu que estava sendo extorquido havia mais de 10 anos por uma compatriota cinquentona que se fazia passar pela modelo brasileira Alessandra Ambrósio.
Um jumento, julgaram alguns.
Um apaixonado, desculparam outros.
Sendo a carência a mãe de todas as roubadas, como bem definiu a escritora Clara Averbuck, ninguém pode dizer que está livre. A recomendação é nunca entrar no Tinder nos momentos de maior fragilidade – estratégia exatamente oposta a que se pratica em casos de pé na bunda.
Quem nunca?
Já tive um affair que dizia morar com a mãe doente e vivia precisando de apoio para os remédios dela, até que apresentou a conta de uma cirurgia particular que a genitora precisava fazer, e ele a nenhum para pagar. Sugeri procurar o SUS e bloqueei. Teve também o que comprou uma viagem de férias para a ex no meu cartão de crédito, o cara de pau. Caí fora assim que percebi a fria, mas passei meses entubando a excursão em suaves prestações. Outro queria me vender de tudo, de terrenos e móveis a carros, tudo supostamente dele, com grandes descontos e pagamento à vista. Mandei procurar a OLX.
Foi Cecilie quem primeiro divulgou o caso para um jornal norueguês, em 2019. Leviev, que, na verdade, é israelense e se chama Shimon Yehuda Hayu, fugiu para Atenas com um passaporte falso, foi preso, extraditado e, condenado a 15 meses de prisão em Tel Aviv, cumpriu cinco e acabou solto por conta do coronavírus. Promete que, em breve, vai contar a sua versão da história.
Esperemos para ver. Mas quem assistir ao documentário não vai ter muitas dúvidas, tal e qual o ministro Barroso, dia desses, ao comentar os eventos de 2016 no Brasil.
Foi golpe.