Para um admirador de moda, o nome Halston pode não soar tão coloquial quanto Calvin Klein, Saint Laurent ou Versace, mas, sem dúvida, o legado deste criador é um dos principais fundamentos do estilo contemporâneo. Infelizmente, o estilista norte-americano Roy Halston Frowick teve seu talento para interpretar os desejos femininos quase esquecido em meio a polêmicas e escândalos - tudo muito bem retratado no seriado Halston, do criador Ryan Murphy e com um perfeito Ewan McGregor no papel-título. A série de cinco episódios, que acaba de estrear na Netflix, é rápida, envolvente, glamorosa e uma aula dos momentos que definem os princípios da moda do agora.
Entre os anos 1970 e 1980, Halston encantou as mulheres com um closet confortável e versátil. Simplificou estampas, reduziu costuras, recuperou o corte enviesado que se envolve ao corpo, que celebra a silhueta. Foi um dos criadores do que se convencionou chamar casual-chique, descomplicando a vida das mulheres, mas mantendo o glamour e a sensualidade – uma fórmula que inspirou muitos outros talentos, como Tom Ford à frente da Gucci duas décadas depois do auge de Halston.
Cercado por mulheres intensas e maravilhosas, como Liza Minnelli (uma de suas melhores amigas), a designer de joias Elsa Peretti e a modelo Pat Cleveland, uma de suas Halstonettes, o costureiro transformava qualquer passeio em uma verdadeira aparição, antecipando o flerte entre a moda e o entretenimento. Halston, como bem anuncia McGregor em um dos capítulos da série, não é uma pessoa, é uma marca. Mas foi mesmo a pessoa que não soube conduzir o negócio gigantesco que criou com sua genialidade em vestir as mulheres.
O boom
O estilista começou um negócio de chapéus aos 20 anos, na cidade de Chicago, mas foi apenas em 1957, já morando em Nova York, que a marca passaria a se chamar Halston e ele se tornaria o responsável pela chapelaria da Bergdorf Goodman’s. O primeiro sucesso veio anos mais tarde, em 1961, quando Jackie Kennedy usou um chapéu assinado pelo designer para a posse do marido na presidência dos Estados Unidos. O modelo "pill box" fez com que todas as mulheres procurassem um chapéu criado por Halston.
Vestindo a onda disco
Ao final dos anos 1960, a moda dos chapéus era coisa do passado. E Halston rapidamente criou sua linha de roupas que traduziram o estilo da geração disco: vestidos fluidos que deixavam o corpo livre para dançar, silhuetas sexy, decotes arrebatadores. Entre as criações mais marcantes, o vestido-camisa de camurça sintética, que não estragava ao molhar e se tornou um hit do pronto para vestir do closet das americanas nos anos 1970. Também entram na lista os caftãs, além dos famosos vestidos de chiffon.
A Batalha de Versalhes
Halston participou de um dos momentos mais interessantes da moda mundial: o desfile internacional que ficou conhecido como a Batalha de Versalhes, em 28 de novembro de 1973, com objetivo de arrecadar fundos para a restauração do palácio do rei Luís XIV. No evento, cinco ícones da alta-costura francesa (Yves Saint Laurent, Hubert de Givenchy, Pierre Cardin, Emanuel Ungaro e Marc Bohan, representando a Dior) e cinco designers norte-americanos (Oscar de La Renta, Bill Blass, Anne Klein, Halston e Stephen Burrows) desfilaram as peças para uma plateia estreladíssima.
O encontro era perfeito para apresentar a recente moda autoral americana, já que, até os anos 1960, o que se fazia eram apenas cópias do que era criado em Paris. Foi um embate entre a tradição e o contemporâneo, um momento histórico, uma noite extravagante. Liza Minnelli abriu e fechou o show dos americanos – e tudo é retratado maravilhosamente em um dos episódios da série. Ah! No fim da noite, para se ter uma ideia do poder deste evento, foi arrecadado três vezes mais que o orçamento necessário para a reforma do palácio, calculada na época em US$ 60 milhões.
O crescimento
Em 1973, Halston vendeu a marca e seu nome para as indústrias Norton Simon em busca da globalização de sua etiqueta, uma ação também pioneira para a época. Lançou cosméticos, acessórios, malas, roupas de cama, tapetes, vestiu a delegação americana nas Olimpíadas de 1976, criou uma linha aérea de uniformes para a Braniff International Airways. Colocou no mercado ainda um lucrativo perfume em um icônico frasco oval inclinado desenhado por Elsa Peretti – a fragrância, produzida pela Max Factor, foi um sucesso estrondoso, vendendo US$ 85 milhões em apenas dois anos. Graças a essas collabs e licenciamentos, a empresa teve um crescimento exponencial.
No princípio dos anos 1980, Halston criou uma coleção de baixo custo com a JCPenny. A estratégia hoje é bastante comum, mas, na época, também era uma novidade que impactou o mercado de luxo – a Bergdorf Goodman’s respondeu ao contrato popular retirando tudo de Halston das araras.
A queda
Em 1983, a Norton Simon seria adquirida por outra empresa, a Esmark, que não honrou o contrato com Halston de mantê-lo como criador e o designer foi afastado da própria marca em 1984. Acredita-se – e assim é retratado na série – que o afastamento se deve a uma série de atritos e gastos exorbitantes do designer.
Curta, sem a pretensão de se aprofundar ou de ganhar o título biografia autorizada, narra alguns dos principais momentos da vida do estilista de uma forma glamorosa, intensa e envolvente
AS PATRICIAS
A morte
Halston viveu de forma intensa. Foi o primeiro estilista-celebridade que se tem memória, um retrato dos excessos da época. Noitadas no Studio 54, festas luxuriantes, dependência de bebida e drogas, polêmicas nas colunas sociais. Proibido de criar para a própria marca, que continuava a usar seu nome, e sem sua vida de luxos, Halston começou a se afundar no uso da cocaína. Alguns anos depois, em 1988, descobriu que havia contraído o vírus HIV e voltou para São Francisco, para passar esses anos recluso, perto de sua família. O designer morreu em 1990, aos 57 anos.
A série
Halston, de Ryan Murphy, é inspirada no livro Simply Halston, de Steven Gaines, e provocou manifestos contrários da família do estilista, que considera o conteúdo inconsistente. Curta, sem a pretensão de se aprofundar ou de ganhar o título biografia autorizada, narra alguns dos principais momentos da vida do estilista de uma forma glamorosa, intensa e envolvente. Programa maravilhoso para saber um pouquinho mais desta história tão pouco conhecida por iniciantes da moda, mas que mudou a trajetória do estilo mundial – e tudo com o olhar magnifico de Murphy.