Camila Maccari, Especial
Que a gente vai envelhecer é fato e ninguém quer parar os efeitos do tempo na nossa pele. Nem mesmo a própria área da dermatologia voltada para a estética, que busca cada vez mais um resultado próximo do natural. Mas, com uma série de cuidados – que engloba desde uma rotina de limpeza da pele até uma alimentação balanceada, passando por procedimentos não invasivos ou minimamente invasivos –, é possível encontrar aquilo que muita gente chama de sua melhor versão. Até porque, de acordo com as dermatologistas Gabrielle Adamés, Márcia Donadussi e Fernanda Casagrande, a forma como envelhecemos é muito pessoal.
– Existem dois tipos de envelhecimento, o intrínseco e o extrínseco. O intrínseco é aquele cronológico, que independe da gente e vai acontecer de qualquer forma. Nosso corpo é uma máquina que envelhece porque isso é geneticamente predisposto. Já o extrínseco é aquele que leva em conta outros fatores que funcionam como catalisadores, como a má alimentação, o fumo e exposição ao sol e às luzes, por exemplo – diz Gabrielle.
Para quem curte acompanhar as novidades estéticas e dedicar um tempo aos cuidados com a pele, Márcia afirma que cada vez mais é possível alcançar bons resultados de forma gradativa e começando desde cedo. Se antes a flacidez e as rugas eram creditadas apenas à falta de colágeno, hoje já se sabe que a mudança no aspecto do nosso rosto envolve um processo ainda mais complexo:
– Cada vez mais temos o entendimento sobre como o envelhecimento da face é multicamadas. Nos últimos anos, com base em estudos com exames de tomografia e ressonâncias, a gente conseguiu ver isso. Ocorre, sim, o envelhecimento da pele e a perda de colágeno, mas existem outras mudanças importantes, como o envelhecimento ósseo, que é uma descoberta relativamente recente. Com o tempo, nós vamos perdendo o volume de osso em toda a cabeça, o buraquinho ósseo do nariz (também conhecido como fossa piriforme) vai aumentando, a mandíbula vai diminuindo.
Dermatologista Márcia Donadussi dá dicas para cuidar da pele em todas as fases da vida:
E a repercussão estética disso é aquele aspecto derretido.E aqui, de acordo com a dermatologista, também entra a questão genética:
– Quem possui um rosto mais “ossudo” tem mais estrutura e envelhece menos do que quem tem um rosto mais redondinho, com menos estrutura óssea. Existem, sim, os fatores externos que influenciam no envelhecimento, mas sempre reparamos que o padrão pessoal não fica muito longe do padrão do resto família, sabe?
E, como lembra Gabrielle, além do colágeno e do desgaste ósseo, a própria gordura do rosto também influencia. Com o passar dos anos, a gordura vai se depositando em outros lugares, principalmente no terço inferior da face – em grande parte, também, por causa da alteração óssea. Sabe quando você olha uma foto sua de alguns anos atrás e percebe que, mesmo sem alteração de peso, tinha um rosto mais “redondinho” ou mais “cheinho”? Pois é. E agora você se pergunta: “Ok, mas, e o colágeno?” Sim, também influencia, já que é o que dá sustentação para a pele.
– É a partir dos 30 anos que começamos a ter uma perda significativa na produção de colágeno e começamos a degradar o que já temos formado. A cada década essa queda na produção aumenta progressivamente em conjunto com o que é degradado. Assim, as primeiras linhas começam a aparecer – explica a dermatologista Fernanda Casagrande.
Entender que o envelhecimento é um processo natural dá mais liberdade para saber o que está em suas mãos e conhecer o que a medicina estética oferece dá autonomia para você decidir o que fazer para manter a pele do rosto do jeito que mais gosta. E, como cada década vem acompanhada de uma alteração ou potencialização diferente nas mudanças que vemos no espelho, vale saber no que investir em cada período da vida. Veja as dicas das dermatologistas com cuidados que você pode colocar na rotina – e saiba quais procedimentos valem a pena em cada uma das fases.
Aos 20 anos
É consenso entre as três dermatologistas consultadas para esta reportagem: é na casa dos 20 que você começa a plantar os resultados que quer colher mais tarde. Fernanda Casagrande explica que, nessa idade, ainda não há sinais de envelhecimento, mas existem alguns problemas comuns que podem ser tratados.
– É o caso de acne, excesso de oleosidade, poros dilatados e cravos. Pessoas com muita acne, por exemplo, devem investir em um tratamento, já que as espinhas podem gerar cicatrizes que, em alguns casos, podem ser irreversíveis. É comum que aos 30, 40 anos, observemos uma flacidez maior na lateral da face de pacientes que tiveram acne severa no passado. Isto porque as cicatrizes destroem as fibras elásticas da pele e a flacidez é inevitável. Em consultório, os procedimentos a laser são indicados, por ajudar a controlar a oleosidade e a acne – esclarece Fernanda.
Mas não é só a quem tem acne que se recomenda prestar atenção no rosto. De acordo com Gabrielle Adamés, investir em uma rotina de limpeza, hidratação e proteção é importante para qualquer mulher atenta aos cuidados com a pele nesta faixa etária.
– A dica aqui é tentar sempre manter a pele limpa e uniforme, criando uma rotina que vire hábito: lavar o rosto com sabonete específico, usar um tônico adstringente e sempre retirar a maquiagem. Vale investir na água micelar, que possui ativos semelhantes aos da nossa pele e não agridem na hora de tirar a maquiagem.
A hidratação também é indispensável e Gabrielle lembra que, mesmo para quem tem pele oleosa, o uso de produtos que reponham a água é fundamental – para quem fica com o pé atrás, vale ter em mente que a hidratação vem da água e oleosidade vem do óleo. Hoje em dia, existem inúmeros hidratantes com fórmula oil-free, que não vão interferir na produção de sebo e nem deixar a pele mais oleosa.
E, por fim, na lista de cuidados diários que garantem resultados futuros, está o uso do protetor solar. Até porque as agressões vêm de todas as partes: você provavelmente já sabe que os raios solares causam danos para a pele, mas já parou para pensar que até o seu celular e o seu computador emitem luzes nocivas?
– É o que a gente chama de luz visível. Nesses casos, o fator de proteção não é tão importante como criar uma barreira física. Dá para usar protetores com cor, que já protegem dos dois tipos de luz, ou aplicar um em versão normal e depois uma base que vai agir como barreira – ensina Gabrielle.
Embora nessa fase manter a pele saudável e viçosa seja mais fácil, cada caso é um caso. Quem já sente e se incomoda com a presença daquelas ruguinhas estáticas, que aparecem mesmo quando o rosto está relaxado, pode aproveitar para começar, aos poucos, alguns procedimentos, como a aplicação da toxina botulínica.
– A gente fala, hoje em dia, em prejuvenetion, que são aqueles cuidados preventivos para envelhecer da melhor maneira. Se sente que algo está incomodando, o ideal é fazer o mínimo, que vai garantir um resultado natural, ao contrário do que se fazia antigamente, em que a paciente deixava acumular e depois partia para uma tentativa de reestruturação – diz Márcia Donadussi.
Aos 30 anos
Fernanda Casagrande explica que é nessa faixa etária que a nossa “fábrica de colágeno” começa a dar os primeiros sinais de fadiga. Já não produzimos mais como antes dos 30 e partimos para um processo de degradação da proteína já existente.
Os sinais de envelhecimento, como olheiras mais profundas, rugas ao redor dos olhos, na testa e entre as sobrancelhas ficam mais evidentes.
– Por isso, quando falamos em procedimentos, um bom investimento são os estimuladores de colágeno. O ultrassom microfocado é excelente, pois fornece um “banco extra” de colágeno para a pele, e as sessões são anuais – afirma.
Para Márcia, esse é o momento de incrementar aqueles cuidados rotineiros que começaram lá atrás:
– Dá para acrescentar cremes com ação renovadora, como os que contém o ácido retinoico, e antioxidantes, como os antiaging que contém vitamina C. Se necessário, também é possível associar os cuidados ao uso de antioxidantes via oral – afirma.
É aqui, também, que as manchas no rosto podem ficar mais evidentes, especialmente no caso de quem demorou para aderir ao uso diário de protetor solar ou se expôs muito ao sol.
– Procedimentos a laser ajudam a clarear as manchas, além de dar um estímulo no colágeno. Funcionam também para tratar aqueles vasinhos que costumam aparecer no rosto – explica Gabrielle Adamés.
A dermatologista recomenda também peelings semestrais, cujos resultados vão desde o rejuvenescimento até o controle da acne e são aplicados de acordo com a necessidade da paciente. Na casa dos 30, as aplicações de toxina botulínica e ácido hialurônico são mais comuns e indicadas para quando as marcas de expressão ficam bem evidentes. Para as médicas, começar esses procedimentos nessa fase funciona como ação preventiva, evitando que o processo de envelhecimento evolua rapidamente.
– Nós temos ácido hialurônico no organismo, mas ele também vai sendo degradado. O procedimento pode ser por meio de injeções e preenche os espaços. Pode ser usado para as olheiras, a boca, o contorno do rosto e é absorvido pelo organismo – diz Gabrielle.
Aos 40 anos
As manchas ficam mais visíveis, as linhas definitivamente estão aí e você começa a sentir os primeiros sinais de flacidez, acompanhados da perda do contorno do rosto. Conforme Márcia, até os olhos ficam com aspecto mais cansado:
– A perda óssea começou ainda na casa dos 30 e agora aparece mais. Aquela sensação do rosto derretido está mais acentuada. As manchas já são bem mais comuns, inclusive aquelas manchinhas brancas. A renovação da pele diminui, fica mais lenta. A pele fica menos luminosa, às vezes até com um aspecto mais sujo devido ao ressecamento, às manchas e a perda do viço. Levando em conta que a média da idade da menopausa são os 50 anos, mas que os primeiros sintomas podem aparecer até sete anos antes, é possível que algumas espinhas também voltem a surgir, devido às questões hormonais – elucida a dermatologista.
No consultório de Márcia, a busca costuma ser por tratamentos que ajudem a manter o contorno e a sustentação da face, como o Md Codes, método que identifica os pontos de sustentação da face e usa ácido hialurônico para diminuir a perda do volume e devolver o contorno facial. Outra substância que também tem efeito de preenchimento, de acordo com Gabrielle, é o ácido poli-L láctico, que estimula a produção de colágeno e corrige a perda de volume da face.
Fernanda explica que os procedimentos fazem parte do que chama de um “tratamento global”, que envolve todas as estruturas da face, como osso, gordura e pele.
– Aliado a isso, a aplicação da toxina botulínica e ácido hialurônico são importantes porque funcionam como tratamento das linhas já evidentes e como preventivos para a formação das novas linhas – afirma a dermatologista, que também indica o uso de laser e peelings que auxiliam no tratamento das manchas e melhoram a textura da pele, naturalmente mais ressecada.
Exatamente por isso, vale reforçar a hidratação nos cuidados diários e investir em hidratantes e cremes antiaging mais cremosos. Para soluções mais instantâneas, Gabrielle indica o uso de cosméticos com o chamado “efeito cinderela”:
– Esses produtos contam com uma substância conhecida como dmae, que é um antioxidante com resultado de lifting. Para uma situação específica, ajudam a criar um efeito tensionado imediato, além de auxiliar a hidratar e podem ser usados antes da maquiagem – explica.
Aos 50+
Os efeitos do tempo podem ser sentidos de forma mais intensa, mas as dermatologistas explicam que os cuidados com a pele são os mesmos. O que muda é que os ativos dos cosméticos precisam estar mais potencializados do que antes. A ideia é prevenir uma cirurgia plástica no futuro – que pode, sim, ser realizada, caso a paciente sinta necessidade e haja recomendação. Márcia explica que a maior reclamação que ouve em consultório é com relação à flacidez da pele.
– A mulher está em franca mudança hormonal, com perda de 10% do colágeno no primeiro ano da menopausa e, depois, cerca de 1% ao ano. O cabelo afina, a pele fica seca e a sensação que muitas têm é de que envelheceram cinco anos em um. A parte hormonal é muito potente, especialmente em quem não estava se cuidando nos últimos anos. Tanto que leva-se muito em conta se a mulher faz tratamentos hormonais, se tem risco de câncer de mama, por exemplo, como é a qualidade de vida na hora de indicar os procedimentos de maneira individualizada. E com mais frequência do que você fazia antes.
– Eu indico aplicar a toxina botulínica a cada seis meses, assim como os bioestimuladores. Os lasers mais agressivos podem ser feitos uma vez ao ano, enquanto aqueles que querem melhorar a aparência das manchas funcionam bem com quatro sessões anuais – afirma Fernanda.
Vale conversar com seu médico e fazer uma espécie de checklist de quais aspectos da face você gostaria de modificar. Um protocolo que costuma funcionar, de acordo com Márcia, é o que começa melhorando a qualidade da pele até chegar à estimulação do colágeno:
– Primeiro investe-se na luz pulsada, depois o ultrassom microfocado, que já estimula o colágeno e faz o tratamento da camada que recobre o músculo. O MD Codes é um procedimento indicado, já que o ácido hialurônico auxilia na sustentação e, por fim, trabalha-se com os bioestimuladores, que são aplicados pelo rosto todo e ajudam a estimular o colágeno – diz a dermatologista.
A mudança cada vez mais rápida – resultante da soma da perda óssea, flacidez e redistribuição da gordura corporal – pode fazer com que partes do rosto, como o queixo ou a testa, fiquem mais proeminentes nessa fase. Vale lembrar que o seu rosto está sempre mudando, como frisam as dermatologistas. Por isso, a importância de investir apenas em substâncias que sejam reabsorvidas pelo organismo, como o próprio ácido hialurônico e o poli-L láctico.
Em casa, vale seguir com o uso tópico de cremes com ácido retinoico e não descuidar da hidratação. De acordo com Gabrielle, uma das alternativas é iniciar tratamentos com nutracêuticos via oral, como o exsynutriment, que é indicado para o fortalecimento do cabelo, das unhas e da pele.
Ficha técnica
Produção: Carolina Salazar @eucarolsalazar
Fotografia: Júlio Cordeiro @julio_cordeiro
Beleza: Andrea Garcia @andreagarciamakeup
Modelos: Liz Dias, Luiza Nunes, Michele Zini (Agência People) @peopleagencia