Sempre acreditei na sidra como uma bebida respeitável. Que fosse além da condição de mero quebra-galho na falta de vinho, ou até de cerveja. Penso que, quando bem realizada, tem sabor, até certa complexidade, e abre alternativas interessantes na combinação com a comida. Desde que seja vista como o que de fato é – sidra – e explorada em sua personalidade. Sem contar que seu baixo teor alcoólico é algo em sintonia com os movimentos de mercado.
Foi-se o tempo em que a menção da bebida espumante de maçã evocava automaticamente a memória de rótu-
los baratíssimos, ordinários, enjoativos. A produção nacional, no Sudeste e, principalmente, no Sul, já nos lega exemplares com muitas qualidades – e evoluindo. Mas o que me motivou a escrever esta coluna é o fato de que, na França, um dos centros sidreiros do mundo, vai ocorrer, pela primeira vez, um salão totalmente dedicado à bebida, o CidrExpo. Será no mês que vem, em Caen, com muitos expositores do país, além de aulas e debates. Para tratar, enfim, a sidra com o respeito dedicado ao vinho, à cerveja, a destilados.
As possibilidades são diversas. Há sidras de safras especiais; feitas de assemblages de várias maçãs; mais jovens; envelhecidas; com mais acidez, ou mais doçura. Existem opções para tomar como refresco. E outras que brilham num jantar elegante. Por conexões familiares, conheço a sidra da Bretanha há anos, inclusive o que se faz de mais artesanal. Sempre que visito o País Basco, bebo-a nos botecos. Mas foi numa viagem à região espanhola das Astúrias, “nação céltica” como a Bretanha, que descobri a real amplitude da produção sidreira. E que havia garrafas de 2 euros, para comprar no supermercado. Mas também sidras de mesa, de guarda, gastronômicas. Quem sabe 2020, também aqui, seja o ano da virada para a sidra. Na França, o será.