Lembro de uma palestra de Gastón Acurio a que assisti em Lima. O influente chef peruano se dirigia a novatos na gastronomia e lançou uma pergunta à plateia: “Quem aqui gostaria de ser Gastón Acurio?”. A maciça maioria dos jovens levantou a mão, claro. Pois eis que o chef arrematou: “Então, quero dar uma má notícia. Já existe um Gastón, e sou eu. Vocês terão de ser vocês mesmos, o que é muito bom”. E seguiu comentando que cozinheiro não precisa liderar um restaurante e ambicionar ser famoso. Ele pode explorar muitos campos.
Esse é um ponto que abordei por esses dias, em duas palestras com alunos do curso superior de Gastronomia. Mais ainda do que nos tempos de iniciante de Gastón Acurio, mais do que na década passada, os estudantes de hoje podem se arriscar por várias perspectivas profissionais. É legítimo querer comandar uma casa de sucesso, ser celebridade, estar na TV. Faz parte do sonho. Só que a carreira vai bem além disso. Hoje, mesmo com mercado em recessão, mesmo com incertezas do que vem por aí, nunca houve tanta diversidade possível de caminhos.
Um profissional de cozinha pode trabalhar com bares gastronômicos, com botecos. Mas também com food trucks, com restaurantes pop-ups, em eventos. Ou criar negócios apenas voltados para a entrega, sem serviço à mesa. Trabalhar com caterings e buffets, atendendo empresas, fornecendo refeições, por exemplo, num set de filmagens. Pesquisar o que pode ser feito em hospitais, ou mesmo criar pratos para quem tem restrições de saúde – mas deseja provar receitas com sabor. Produzir conteúdo educativo, formativo. E, na minha opinião, atuar numa frente importantíssima: atender escolas, melhorar as cantinas e as merendas, criar consciência alimentar nas crianças.
São alternativas com o mesmo glamour dos restaurantes premiados? Provavelmente não. Mas quem sabe elas também não garantam um futuro muito próspero, talvez até brilhante? Cozinheiros, eis então uma boa notícia: vocês estão livres.