Sempre presentes no setor gastronômico, as mulheres estão cada vez mais assumindo funções protagonistas e sendo reconhecidas pelos seus trabalhos. Como forma de celebração do Dia Internacional da Mulher, convidamos Ana Zita Fernandes, Natalia Tussi, Natalie Machado, Daniela Craidy, Liliana Andriola, Aninha Comas e Elisa Prenna para responder seis perguntas sobre suas vidas e suas áreas de atuação.
Seja como proprietária de um estabelecimento, como chef de cozinha ou como confeiteira, cada uma delas é dona da sua própria história e nos inspira todos os dias. Elas são grandes exemplos de sucesso e de amor pela boa comida.
NATÁLIA TUSSI
Nati é chef de cozinha do restaurante Roister, projeto que tem apenas um ano, em Porto Alegre. Ela também trabalha como consultora, com eventos, com aulas para grupos e como personal chef.
Uma mulher em quem você se inspira.
Minha mãe, Diva, uma pessoa doce, forte e determinada, que me mostrou os primeiros passos na cozinha e me ensinou que a vida levada com bom-humor e motivação é muito mais divertida. Compartilhamos da melhor forma de demonstração de amor: a comida.
Como você se vê daqui a 10 anos?
Gosto de estar envolvida em atividades diferentes e dinâmicas. Espero que em algum projeto novo.
Você já passou por alguma situação na qual duvidaram da sua capacidade profissional por ser mulher?
Tive a sorte de conviver com gente do bem que sempre apostou no meu trabalho. Com apoio desde o início, não dou muita bola para esse tipo de coisa e tento passar o mesmo para as mulheres com quem trabalho.
Qual você acredita ser o principal desafio em sua área de atuação?
Gestão de pessoas e controle de padrão de qualidade. Ter uma equipe bem estruturada e estável é sempre um grande desafio.
Você acredita que a gastronomia gaúcha ainda é um ambiente comandado por homens?
Acredito que o momento seja de integração e respeito, sem espaço para tantas diferenças. O que importa é a qualidade do trabalho, independentemente de quem o faça. Vejo cozinhas e turmas de estudantes de gastronomia bem variadas, chefs mulheres reconhecidas internacionalmente, além de muitos dos meus melhores amigos serem cozinheiros homens, humildes e agregadores.
Que conselho você daria para a Natalia adolescente?
Falar menos, saber esperar e entender que tudo se encaixa. A cozinha é um ambiente incrível para se amadurecer.
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ELISA PRENNA
É a sócia-proprietária do Chicafundó, restaurante em Porto Alegre que tem como essência servir uma comida repleta de afeto e amor. Elisa está à frente do negócio e, além de cuidar da organização geral da casa, comanda as funções administrativas.
Uma mulher em quem você se inspira.
Neide Rigo. Por sua simplicidade e coerência diária.
Como você se vê daqui a 10 anos?
Longe da confusão, do consumo excessivo. Meu ideal de futuro é construir uma comunidade com pessoas com as quais me conecto. E, claro, seguir guiando a minha filha para ser livre, integrada, socialmente competente e moralmente responsável.
Você já passou por alguma situação na qual duvidaram da sua capacidade profissional por ser mulher?
Milhares de vezes. Além de ser mulher, sou pequena. Então, o trabalho é dobrado. Trabalhei por 10 anos na área de comércio exterior e, desde 2009, com gastronomia. Ambos setores são muito machistas.
Qual você acredita ser o principal desafio em sua área de atuação?
O desafio sempre será seguir com nossa essência, com aquilo que acreditamos, sem nos deixarmos influenciar.
Você acredita que a gastronomia gaúcha ainda é um ambiente comandado por homens?
Em geral, a gastronomia é machista. Historicamente falando, a cozinha pesada, do dia a dia, com todas as implicações que estão relacionadas, são de força não só física, mas também mental. É um local onde uma voz deve “rugir” mais do que as outras. A mulher, por natureza, se envolve com tudo de forma mais emotiva, mais leve. Na hora do fogo pegando, isso pode ser fatal. No dia a dia, pesa. Minha forma de lidar com isso é simplesmente seguindo a minha essência. E cada uma sabe da sua.
Que conselho você daria para a Elisa adolescente?
Tive uma adolescência rica em referências. Tive a sorte de ter à minha volta excelentes conselheiros. Acredito que observar mais a mãe natureza e o que ela tem a nos dizer é um conselho que não pode faltar.
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DANIELA CRAIDY
Daniela é chef-proprietária do restaurante Iaiá Bistrô, na zona sul de Porto Alegre. A casa oferece o que há de melhor na culinária brasileira, de diferentes regiões do país.
Uma mulher em quem você se inspira.
Mara Sales, por ter sido uma das primeiras mulheres a investir na gastronomia regional brasileira e a pesquisar e a implementar em seus restaurantes.
Como você se vê daqui a 10 anos?
Ainda praticando a gastronomia. Mas, com mais tempo livre para mim, conseguindo delegar as funções e deixando o restaurante andar sozinho, para que eu tenha tempo para relaxar, pesquisar e buscar novidades em outros locais.
Você já passou por alguma situação na qual duvidaram da sua capacidade profissional por ser mulher?
Passamos por situações difíceis em todas as etapas da nossa caminhada. Certamente, por sermos mulheres, encontramos mais situações do que os homens. Mas, acredito que na gastronomia já temos mais tempo de caminhada e conseguimos nos impor com mais facilidade, até porque a área está ligada à cozinha, que sempre foi considerado espaço da mulher. Então, não é um dos setores mais difíceis de sermos aceitas. Eu, pessoalmente, não passei por nenhum constrangimento quanto a isso.
Qual você acredita ser o principal desafio em sua área de atuação?
Conseguir inovar sempre, com responsabilidade, mantendo o foco no produto, em suas criações, no que tu vais fazer. Cuidar dos números também, analisar bem a empresa, olhando para o passado e para o futuro com responsabilidade.
Você acredita que a gastronomia gaúcha ainda é um ambiente comandado por homens?
É um ambiente machista como todos os outros, mas acho que um pouco menos. Temos que lidar com muita propriedade, confiar na nossa habilidade, na nossa experiência e enfrentar tudo com inteligência e firmeza. Se nos achamos boas no que fazemos, temos que nos importar. Não adianta partir para a violência porque estamos falando na mesma linguagem. Temos que usar a perspicácia, o jogo de cintura e confiar na gente. Assim, conseguiremos vencer qualquer coisa.
Que conselho você daria para a Daniela adolescente?
Para não ter tanta pressa de se tornar adulta e aproveitar melhor a sua fase mais tranquila e livre da vida.
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LILIANA ANDRIOLA
Conhecida como Lili, a sócia-proprietária do Mandarinier também comanda as panelas do lugar. Confeiteira de mão cheia, ela transforma ingredientes de qualidade em pratos muito saborosos.
Uma mulher em quem você se inspira.
Bel Coelho, pelo seu posicionamento frente à gastronomia, mais inclusiva e mais limpa.
Como você se vê daqui a 10 anos?
Não sei. Faço planos, mas imagino que tudo pode mudar para melhor.
Você já passou por alguma situação na qual duvidaram da sua capacidade profissional por ser mulher?
A profissão de cozinha é muito machista. Já passei por mais do que uma situação em que me senti menosprezada por ser mulher.
Qual você acredita ser o principal desafio em sua área de atuação?
Acho que as mulheres serem valorizadas como cozinheiras e confeiteiras profissionais. Praticamente, todos cozinheiros que começaram quando criança aprenderam com uma mulher. Mesmo assim, são pouquíssimas as chefs mulheres em destaque no mundo.
Você acredita que a gastronomia gaúcha ainda é um ambiente comandado por homens?
Sim, acho que às vezes os homens também devem ter a noção do quanto são privilegiados. Eles deveriam dar mais espaço para que as mulheres, por vezes, também sejam destaque. E é lógico que nós também devemos lutar por espaço.
Que conselho você daria para a Lili adolescente?
Gostaria de dar um conselho para todas as adolescentes: não deixe que uma sociedade machista dite a sua vida, faça suas escolhas e lute pelo o que você acredita.
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NATALIE MACHADO
É proprietária e chef de cozinha do Studio dos Aromas, bistrô localizado no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.
Uma mulher em quem você se inspira.
Tenho duas mulheres que me inspiram. Frida Kahlo, por ter sido uma mulher extraordinária, à frente do seu tempo, que nunca desistiu da vida e que sempre correu atrás dos seus sonhos e das coisas que a inspiraram. E Roberta Sudbrack, que é um exemplo a ser seguido, por ser uma guerreira, que acredita na gastronomia brasileira, nas pessoas, no trabalho que faz e que nunca desiste.
Como você se vê daqui a 10 anos?
Sou uma pessoa muito inquieta. Então, é complicado descrever como eu me vejo daqui a 10 anos. Só sei que pretendo estar plena e atuando na gastronomia.
Você já passou por alguma situação na qual duvidaram da sua capacidade profissional por ser mulher?
Não sei se seria duvidar, mas muitas vezes tentam nos colocar em atividades “mais leves”, “mais suaves”, como por exemplo, preparar saladas ou doces. Isso acontece muito em um ambiente que ainda é predominantemente masculino. Aos poucos, já estamos conseguindo mudar este cenário.
Qual você acredita ser o principal desafio em sua área de atuação?
Abrir o estabelecimento todos os dias como se fosse o primeiro dia. Tudo tem que ser feito com muita dedicação e carinho.
Você acredita que a gastronomia gaúcha ainda é um ambiente comandado por homens?
Sim. Lido mostrando capacidade de execução, liderança, administração e dedicação.
Que conselho você daria para a Natalie adolescente?
Nada é para sempre; o mundo é mais cruel do que parece; não tenha medo de pedir ajuda; o tempo passa muito rápido; nenhuma verdade é absoluta; saiba se dar valor; seja quem você quiser ser.
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ANINHA COMAS
Referência para quem gosta de gastronomia, Aninha Comas é uma das pioneiras na apresentação de culinária na televisão. Há mais de 30 anos, ela inovou e abriu o seu próprio negócio: uma marca de pratos prontos congelados que seguem a autêntica cozinha brasileira.
Uma mulher em quem você se inspira.
Julia Child.
Como você se vê daqui a 10 anos?
Passando uma temporada em Paris, aperfeiçoando meu francês.
Você já passou por alguma situação na qual duvidaram da sua capacidade profissional por ser mulher?
Não.
Qual você acredita ser o principal desafio em sua área de atuação?
Manter qualidade e padrão. É por isso que a Aninha Comas tem 37 anos de história.
Você acredita que a gastronomia gaúcha ainda é um ambiente comandado por homens?
Não. Na época em que atuava na televisão, era complicado ser mulher e trabalhar na cozinha. Eu não era a cozinheira daqueles tempos, rompi com esses padrões, essa é a grande verdade. Eu tinha cabelo preto e usava meus balangandãs.
Que conselho você daria para a Aninha adolescente?
Determinação, força, foco e fé.
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ANA ZITA FERNANDES
Com formação em Engenharia de Alimentos, Ana Zita é proprietária da Barbarella Bakery, uma padaria deliciosa em Porto Alegre.
Uma mulher em quem você se inspira.
Luiza Trajano.
Como você se vê daqui a 10 anos?
Cuidando e expandindo a Barbarella Bakery.
Você já passou por alguma situação na qual duvidaram da sua capacidade profissional por ser mulher?
Inúmeras, inclusive dentro e fora da família.
Qual você acredita ser o principal desafio em sua área de atuação?
Agregar as pessoas dentro da visão de excelência, compromisso com o trabalho e a felicidade que o desempenho pode trazer.
Você acredita que a gastronomia gaúcha ainda é um ambiente comandado por homens?
O Estado é bastante machista. Isso se espelha na gastronomia como também em vários outros setores. Mas, talvez, esteja aí a grande arma escondida em nossa bota: a dificuldade! A melhor maneira de lidar com isso é sendo muito competente e confiante.
Que conselho você daria para a Ana adolescente?
Seja você mesma e siga em frente.
* Conteúdo produzido por Victoria Campos