Eu amo lavar louça. É um momento muito meu. Boto para tocar a minha lista do Spotify e começo a tirar os pratos com calma, do meu jeito, sem jamais empilhá-los. É uma tremenda sacanagem empilhar pratos, só faz isso quem nunca lavou louça. Passo um guardanapo em cada um e escorrego os excessos no lixo. Em seguida, vou mandando ver um por um. Em ordem decrescente de tamanho: primeiro os pratos grandes, depois os menores, daí os copos e por último os talheres.
As panelas também entram no ritual, sou ciumento com elas e morro de medo que alguém lave com o lado errado da esponja. Fico neurótico. Talvez goste tanto disso por ser algo que a maioria das pessoas não curte. Não que eu seja antissocial, muito pelo contrário.
Entendo quem não gosta, porque logo após as refeições é natural o povo se acomodar no sofá ou seguir a prosa adiante. Isso tudo cria um campo de proteção quase terapêutico, deve ser o chamado “flow”, ou o mais puro conceito de felicidade que as pessoas tanto falam. Enfim, em uma dessas tantas terapias, andei refletindo sobre meus restaurantes preferidos e percebi que todos eles têm um ponto muito importante em comum.
Na contra mão dessa loucura desenfreada que a maioria dos lugares vive, de querer se reinventar e surfar a onda do momento, de modo que evidencie às pessoas seus alinhamentos com as tendências discutidas nos festivais de gastronomia mais poderosos que tem por aí, eu gosto mesmo sabe do quê? Daqueles que nunca mudam. Daqueles que são iguais desde o primeiro dia, que servem os mesmos pratos, da mesma maneira, preparados pelas mesmas pessoas, com a mesma crostinha queimada nas beiradas e a caipira no mesmo copo old school .
Eles são a nossa zona de conforto, que, por melhor ou pior que a gente esteja, sempre nos faz sair mais feliz do que entramos em função do efeito medicinal conferido a estes clássicos. Não tem surpresas nem invencionice. É o de sempre, desde sempre. Por favor não caiam em modinhas. Nunca mudem. E querendo ajuda para lavar a louça depois, me chama!