Acordo muito cedo e com fome. Tomo café por volta das 6h. Lá pelo final da manhã, sinto vontade de almoçar. Mas tenho de esperar para comer em horários ditos mais normais, entre 12h ou 13h. Porque é um tanto fora de hora, porque não dá tempo ou simplesmente porque não há muitos restaurantes abertos... No extremo oposto, pode calhar de o ritmo de trabalho me levar à impossibilidade do repasto ao meio-dia, e eu só me ver liberado já com a tarde avançada – o que é uma outra dificuldade, em termos de opções.
Estou contando isso sem intenções de tornar pública a minha rotina, que realmente não vem ao caso. Mas para comentar que, assim como eu, conheço outras pessoas que sentem fome cedo, ou que nem sempre podem fazer as refeições nos horários padronizados. E, ao que parece, um número cada vez maiores de cozinheiros e empreendedores vêm se dedicando a serviços mais longos ou em momentos mais alternativos.
Casas que não fecham, entre almoço e jantar, já não são incomuns. Casas que servem do café da manhã ao “último drink” da noite também vão despontando. Sem falar nos japoneses tradicionais, que oferecem suas especialidades a partir das 11h, de dia, e das 18h, à noite. Agora, aos poucos, pipocam aquelas que até permitem que se comam entradas e pratos a qualquer instante. Isso já existe em vários países, mas ainda é novidade no Brasil. Como negócio, não é tão simples: é preciso mudar turnos, rever a produ- ção, realinhar o serviço.
Nos EUA, há restaurantes de alta gastronomia que servem o jantar a partir das 17h. Oferecem seu cardápio completo, inclusive com desconto, estimulando as visitas fora do horário de pico. Quem sabe essa prática também chega até aqui. Torço não por uma mera idiossincrasia nem por, sei lá, pregar a anarquia. Reflito apenas sobre a possibilidade de que nossas refeições traduzam um estilo de vida que, há muito tempo, não cabe mais no esquema nine to five.
Por Luiz Américo Camargo crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
lamerico.camargo@gmail.com
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