*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
Há pouco mais de um ano, escrevi neste espaço um artigo que chamei de “Leite Derramado”. Era sobre uma onda de fechamentos de restaurantes tradicionais, que decorria não só da recessão, mas de situações particulares de cada estabelecimento. Meu ponto: a gente lamenta e tal, mas não adianta reclamar depois que a casa cerra suas portas. Para manter um lugar vivo, é preciso frequentá-lo. Não apenas lembrar dele quando já não tem mais jeito.
A situação do país ainda é delicada e muitos endereços continuam encerrando as atividades. Por outro lado, fico feliz em ver despontarem iniciativas como o recém-lançado 50 Restaurantes Com Mais de 50 (Ed. Melhoramentos), da chef Janaina Rueda e do jornalista Rafael Tonon. O livro, fazendo uma bem-humorada alusão às listas de “melhores”, traça um painel dos decanos da restauração paulistana. Conta, sucintamente, a trajetória de empreendimentos de várias estirpes, do Fasano à Di Cunto, do Rubaiyat ao Marcel, da Castelões ao Star City. Todos fundados há mais de cinquenta anos, e ainda vivos – um feito colossal, num mercado como o nosso.
Apresentando histórias e receitas icônicas, este livro-guia não destaca apenas alguns dos restaurantes-bandeira da cidade, clássicos já de dimensão nacional; mas joga luz sobre casas que nem sempre recebem a devida atenção (do público, da imprensa, de quem circula pelo meio). Eu torço, quem sabe, para que a obra se torne um convite para que novas gerações se aventurem por salões e cozinhas que nada têm a ver com os modismos. E que estimule os aficionados, em outras cidades brasileiras, a olhar com respeito – e sem piedade condescendente: é preciso cobrar melhorias, quando necessário - para o cenário gastronômico mais tradicional de sua terra.
LEIA OUTROS TEXTOS DE LUIZ AMÉRICO CAMARGO
// À mesa de uma boa brasserie
// Você conhece o seu gosto?