*Texto por Luiz Américo Camargo, autor do livro Pão Nosso
Houve um tempo, décadas atrás, em que comer em lanchonetes fast food era algo diferente, moderno. No início dos anos 1980, a molecada de São Paulo gostava de ir ao Jack in the Box e, em particular, a uma lanchonete que despontava num shopping ali, numa avenida acolá, chamada McDonald’s. Comer um hambúrguer com fritas nesses lugares, que traziam um ar novidadeiro ao estilo americano, era uma atração de classe média.
Com a transformação da referida empresa em rede mundial, o programa virou opção de almoços e lanches para estudantes e trabalhadores. O esquema veloz e os preços razoáveis compensariam, em tese, a falta de predicados nutricionais e gustativos do cardápio. O tempo passou, as pessoas começaram a se informar melhor sobre nutrição e a ficar mais exigentes com a comida. Perceberam que fast food, de maneira geral, não faz bem e, provavelmente, nem é a alternativa mais em conta.
Meu ponto? Restaurantes simples e bares têm em mãos uma boa chance de conquistar novos clientes, justo por causa disso. Já repararam que, pela soma que se paga em um daqueles famosos “combos”, dá para comer arroz, feijão e pratos de resistência variados (vaca atolada, bife à rolê, frango ensopado etc)? Outro segmento que parecia promissor, em qualidade (acima do fast food) e preço (abaixo da média nos restaurantes), era o dos food trucks. De fato, surgiram no mercado “carrinhos” com trabalhos muito bem feitos; contudo, a realidade é que a maioria é cara e pouco interessante.
Se gastar R$ 30 para matar a fome com fast food virou rotina, se um valor semelhante se desembolsa para almoçar em um truck genérico, será que não compensa mais para o consumidor se acomodar em um salão, humilde que seja, e comer na mesa e com talheres? E se a questão for mesmo o orçamento curtíssimo, será que não é melhor recorrer à comida de rua de fato popular, como pastéis, acarajés e afins? Gostos à parte, o fato é que o cliente tem mais opções do que imagina, mesmo com pouco dinheiro. E talvez seja esse um dos poucos lados positivos da crise: as propostas ficam mais claras e, as escolhas, mais conscientes.