*Luiz Américo Camargo é crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso (Editora Panelinha)
"Dizer que a economia está ruim é olhar só parte do problema. Tem também o nosso lado: se os clientes sumiram é porque não estamos oferecendo soluções atraentes para eles." Ouvi a afirmação há alguns anos. Não tinha a ver com a situação atual nem com restaurantes. Foi dita por um amigo, executivo da publicidade, falando sobre as agruras do mercado anunciante na crise de 2008. Mas podemos trazê-la para os nossos dias. E estendê-la à cena gastronômica.
Deixemos de lado o tom grandiloquente da frase do líder que conclama sua equipe. Meu ponto é o seguinte: em tempos difíceis, como o atual, o perigo é justamente o rompimento entre as partes. Vou explicar melhor. Seria péssimo se as pessoas simplesmente deixassem de ir a restaurantes, como corte de despesas diante de uma temporada dura (estou me referindo a quem ainda dispõem de reservas para comer fora, é óbvio). E seria péssimo se os restaurantes, por não enxergarem nenhuma margem de manobra, simplesmente perdessem seus clientes.
Entidades como a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) vêm falando em quedas de movimento que podem chegar a 13% em relação a 2014 (números de julho). Os proprietários, por sua vez, detectam que os comensais mudaram de comportamento: pedem menos pratos; tomam vinho em taça, não a garrafa toda; e, pior de tudo, reduzem drasticamente a frequência de visitas. Na prática, isso resulta em faturamento menor, demissões e estabelecimentos fechados.
Voltemos a 2008 e ao que ocorreu no cenário europeu: a alta gastronomia sofreu e foi sustentada graças aos turistas mais abonados. Já a classe média, que cortou tudo o que podia, não deixou de comer nos bistrôs, nas tascas, nas trattorias. Porque é um prazer, porque faz parte da cultura. Assim sendo, eu espero que o público brasileiro, mesmo neste ano bicudo, não abandone de vez os salões, evidentemente gastando com sabedoria. E que os restaurantes, como dizia o meu amigo, insistam em soluções _ menus econômicos, pratos mais simples, bebidas com preços melhores _ que caibam no bolso da freguesia. Juntos, e em torno da mesa, será menos difícil atravessar a crise.