De frente para uma paisagem exuberante e de arrepiar está o mais recente restaurante comandado pelo chef Marcos Livi. Uma experiência que vai muito além da comida. O Vistta, localizado em Praia Grande, em Santa Catarina, une natureza e alta gastronomia em um lugar único.
Em uma área verde preservada de 60 hectares, o Vistta está dentro do sítio Azimuth, dos paulistas Régis e Carolina Duchêne, um casal apaixonado pela natureza. O local foi construído para ser a casa deles, porém, decidiram torná-lo em um destino de gastronomia, de hospitalidade e de bem receber entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A partir disso, convidaram o chef Marcos Livi para desenvolver um menu à altura do que o lugar merecia. Os quartos do casal deram espaço a duas suítes onde é possível se hospedar.
A propriedade está a 500 metros do nível do mar e a mil metros acima estão os cânions do Sul. O conceito de “Cozinha de Altitude”, criado por Livi, busca valorizar ingredientes locais e sazonais, explorando o que de melhor e mais fresco tem na região. Grande parte dos insumos são produzidos na área.
– O Vistta é um presente. Sempre tive restaurantes casuais, para o cotidiano das pessoas. Mas o Vistta é diferente. É uma experiência – conta o chef.
Marcos Livi é um incansável pesquisador e apaixonado pela gastronomia regional. Natural de São Francisco de Paula, o chef é proprietário do Parador Hampel, hospedagem centenária, onde apresenta o menu do restaurante Ana Terra e o A Ferro e Fogo, uma experiência ao redor do fogo que também percorre o país. Além disso, assina o Grupo Bah, uma rede de restaurantes que valoriza a cultura gaúcha em São Paulo, com os bares Verissimo, Quintana, Brique, Napoli Centrale e FFBurger.
Para construir o menu do Vistta, o chef uniu um pouco de tudo o que acredita, mas também impôs desafios para si: não repetir o que já serviu em seus restaurante e não ir para a churrasqueira. Diferentemente do projeto A Ferro e Fogo, em que o fogo é que comanda a experiência, no Vistta, a inspiração vem do ar.
– O ar é um elemento incrível e infinito. Pode estar presente em um forno, em uma espuma, em algo aerado – acredita.
CONTATO COM A NATUREZA
Ao chegar ao Vistta, a primeira e única reação que conseguimos ter foi parar alguns segundos, respirar fundo, sentir a natureza e admirar a paisagem. É impactante. À nossa frente estavam três cânions: Índios Coroados, Malacara e Molha-Coco.
A decoração da casa é rústica e de extremo bom gosto. Como ficaríamos hospedadas por lá, fomos acomodadas nas suítes – recomendo que você faça o mesmo e vá sem pressa alguma para ir embora – e, depois, escolhemos uma mesa para o almoço. O restaurante conta com apenas sete mesas, todas dispostas de frente para a paisagem.
– A propriedade tem de vizinho o Parque Nacional da Serra Geral. Um lugar onde tudo foi pensado, onde todas as plantas e as espécies já foram, inclusive, catalogadas. Você sente a energia que esse lugar tem. É único, não só no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Brasil, mas no mundo – ressalta Livi.
CRIATIVIDADE NO PRATO
Ao lado, está a cozinha aberta onde podemos acompanhar o preparo dos pratos. Tudo é feito na hora e com muitos insumos da própria horta da casa, como os temperos colhidos todos os dias.
O cardápio é dividido em cinco etapas: “bem-vindo” são os snacks; “à primeira vista” estão as entradas; “nosso olhar” são pratos vegetarianos e veganos; os pratos principais com proteínas estão no “desfrutar”; e as sobremesas ficam na parte “nas nuvens”.
Começando com a primeira parte do menu, pedimos o Pirulito de Costela (R$ 58), um snack feito com a carne de costela desfiada e assada lentamente, dentro de uma massa folhada, e servida como um pirulito com o osso.
Antes das entradas chegarem, vem um mimo da cozinha, um pãozinho inflado e quentinho, com uma manteiga defumada no carvão e um azeite aromático com temperos da casa.
Provamos também o Nuvem (R$ 48), um mil-folhas de arroz crocante com patê de crudo, gel de beterraba, gel de bergamota, sour cream, picles da casa e nozes. Uma experiência, cheio de texturas e sensações, mas, ao mesmo tempo, leve e suave. Cada ingrediente poderia ser sentido, mas juntos formavam um único sabor. Fomos surpreendidas na primeira mordida.
Do “À Primeira Vista” a nossa escolha foi a Terra Comestível (R$ 82). Diferentemente do prato anterior, aqui foi uma explosão de sabores mais potentes e acentuados. Uma cama de creme de ervilha era sobreposta com crocante de linguiça, cogumelos e flores comestíveis.
A minha dica principal aqui é: não tenha pressa. Aprecie cada etapa com calma, aproveite para respirar o ar puro e sentir a energia que o lugar proporciona.
Na hora dos principais, fomos em dois carros-chefes do cardápio: o El Trapo e o Arroz e Polvo. Ambos são um convite para que a gente acompanhe o preparo e são um espetáculo à parte, de encher os olhos (e o estômago).
O El Trapo (R$ 128) é feito com uma técnica ancestral. Envolto em um pano úmido, o filé é colocado sobre uma cama de sal grosso, temperos frescos e cebolas assadas, enrolado e levado direto para a brasa. O cozinheiro explica que é o único prato no qual o ponto da carne não pode ser escolhido, afinal, quem está no comando é o fogo, não há como controlar.
Já na mesa, o filé é servido com um purê de batata-doce aveludado e sumo, um molho feito de carne, como um demi-glace, e cozido por três dias. O sabor é surreal. Poderíamos ter parado a experiência por aqui e tudo já teria valido a pena.
O Arroz e Polvo (R$ 138) utiliza outra técnica antiga. Os tentáculos do fruto do mar são assados dentro de um bambu, com algumas frutas cítricas, temperos frescos e um caldo do próprio cozimento do polvo. A taquara é fechada como uma panela e amarrada, para então ser levada ao forno e assar por alguns minutos. Depois, o polvo é servido com um arroz com tomates delicioso.
– São duas técnicas ancestrais de cocção. Quando eu coloco sobre as brasas, além de ser fogo, que é uma assinatura minha, estou trazendo o lúdico para o cliente. Essa cozinha aberta, onde nossos cozinheiros te chamam para ver o preparo, faz parte da experiência. A gente está buscando a ancestralidade para cruzar o fogo com o ar – explica o chef.
ARTE EM FORMA DE COMIDA
Cada prato do Vistta é uma verdadeira obra de arte, criado cuidadosamente para expor o máximo de sabor e frescor que os ingredientes têm a oferecer, e as sobremesas não seriam diferentes.
Provamos o sorvete natural de banana (R$ 38), feito na casa, servido com caramelo salgado, uma farofinha de cuca e raspas de limão. E, para os chocólatras, pedimos também o Cacau (R$ 42), um crocante de chocolate 70%, com chantilly de bergamota e pate a choux.
Sobremesas extremamente criativas, que exploram os ingredientes na sua melhor forma, e com o doce na medida. Tudo em perfeito equilíbrio.
PARA APRECIAR O SOL
Outra experiência, que ainda é uma novidade, para quem estiver hospedado no Vistta, é o sunset. A paisagem do pôr do sol parece uma pintura no céu. Curtimos o momento com um espumante da serra gaúcha, uma fogueira para aquecer e, claro, ótimos belisquetes.
Vale ressaltar também que há uma carta de vinhos e espumantes completa de rótulos das serras gaúcha e catarinense.
Aqui, provamos o Homus de Beterraba (R$ 89), que explora todas as texturas do legume, servido com coalhada da casa e o pãozinho árabe, e o Babaganoush (R$ 118), a pasta árabe de berinjela, tahini e cebola crispy, acompanhando também a coalhada e uma dupla de kafta de cordeiro, com um vinagrete fresco.
Para o café da manhã, há duas opções. Você pode ser servido no restaurante ou então ao ar livre ao nascer do sol. Não tivemos dúvidas. Acordamos às 5h30min e foi uma das experiências mais incríveis que vivemos nos últimos tempos.
Fomos recebidas com fogueira, cafezinho passado, eggs benedicts, avocado toasts, toast de salmão gravlax, pães e croissants feitos na casa, iogurte natural, frutas e muito mais.
Apesar de todos os sabores deliciosos do café da manhã, o verdadeiro espetáculo fica por conta da natureza. O sol se ergue formando um laranja inexplicável enquanto balões vão subindo no céu – na cidade há a possibilidade de contratar passeio de balonismo. É emocionante.
Para ser sincera, palavra nenhuma é capaz de descrever esse final de semana. O restaurante está aberto para almoço e jantar todos os dias, mas recomendamos de olhos fechados a experiência completa de hospedagem. Jamais esqueceremos desse nascer do sol. Obrigada, Vistta!
VISTTA
Endereço: Na Rota dos Tropeiros, 1.700, em Praia Grande, em Santa Catarina
Horário de funcionamento: Todos os dias, das 10h às 22h
Reservas disponíveis pelo WhatsApp (48) 99211-0377
@vistta_sc