Quando surgiu a vontade de entrevistar personalidades do mundo do vinho, o meu desejo era justamente entender o que leva as pessoas a começarem a trabalhar nessa área. Cada um tem uma história, um porquê, um propósito. O vinho une, agrega e faz muitos amigos.
Compartilho o papo leve que tive com a Débora Kellermann, profissional que se reinventou com o vinho. Depois de uma temporada no exterior, onde não podia exercer sua formação de fisioterapeuta, ela encontrou no vinho algo para estudar e trabalhar ao redor do mundo todo. Hoje, ela está há dois anos vivendo do seu próprio negócio, comercializando vinhos com propósito e já está na segunda edição do projeto Wine Bar Pop Up, dentro da Casa Cor de Porto Alegre.
Como foi o seu começo no mundo do vinho?
Sempre fui muito curiosa, desde pequena. Comecei ainda adolescente, quando acompanhava minha mãe no fim de tarde, com alguma taça. O vinho sempre esteve presente na minha família, foi ali que tudo começou, quando percebi que gostava da bebida e do que existe além da taça.
A partir de uma experiência no exterior, morando na Coreia, onde não podia exercer a minha profissão como fisioterapeuta, comecei a estudar o vinho.
Foi uma alternativa para recomeçar e para trabalhar no mundo todo.
Qual foi momento mais marcante da sua carreira?
Quando entendi que estava dentro do setor, com consultoria em bares e restaurantes. Foi também quando comecei a trabalhar com a Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha, fizemos um trabalho bem bacana com a Fazenda Barba Negra, onde a carta era exclusiva de vinhos da Campanha Gaúcha.
Assim surgiu o Terroir Vinhos de Boutique, nascido na pandemia, a partir de um convite para começar uma operação no litoral e, hoje, já tem dois anos. Além disso, temos um espaço em Porto Alegre, que oferece degustações e eventos. Além da operação temporária na Casa Cor, onde geramos negócios dentro do wine bar, num espaço projetado por arquitetos, e colocamos o vinho junto com a arte.
Qual é sua hora de tomar um bom vinho?
Nos finais de tarde! Quando tenho a possibilidade de estar em casa nesse horário, apreciar o pôr do sol, relaxar ouvindo minhas filhas tocarem piano com uma tacinha na mão, não tem preço! É claro que com os amigos também é ótimo, é a companhia perfeita para conversar e acompanhar.
Qual a sua harmonização perfeita?
Sabes que não tenho? É algo tão incrível e tão inusitado que a harmonização me surpreende com frequência. A brincadeira de explorar e testar o certo e o errado, e que, às vezes, a harmonização mais simples dá tão certo, me surpreende sempre.
O que você diria para quem quer entrar no mercado de vinho?
É preciso de coragem e muito estudo. Muitas pessoas confundem gostar de beber vinho com vender vinho. Eu, inclusive, tive resistência em vender, é uma coisa muito comercial, nada romântica. A Terroir Vinhos de Boutique tem um propósito, com todo um cuidado e carinho por trás da seleção dos rótulos.
Qual a sua dica para os novos consumidores?
Experimente, não fique fixo numa casta, num país, num estilo de vinho. Não fique engessado, prove coisas novas, a mesma uva de vários países.
Como você imagina o vinho brasileiro daqui a 10 anos ?
Eu acredito muito no vinho brasileiro, estamos evoluindo. Essa nova geração de produtores está se especializando, indo atrás, literalmente. Estamos entendendo o terroir, a condução, tudo leva tempo, mas já ganhamos muito espaço com espumante e também vamos ganhar com os vinhos, que a qualidade só cresce.
Vinhos varietais ou de corte?
Varietais. Nada contra cortes, mas acabo sempre escolhendo os varietais.
Alguma variedade em especial? Se sim, por quê?
Tenho muito carinho pela nebbiolo, mas tem uma que toca o meu coração que é a nerelo mascarele, talvez pela minha experiência com ela, quando estive na Sicília.
Como você percebe o potencial dos vinhos brasileiros no mercado internacional?
Essa é uma pergunta interessante. Eu recebo clientes de fora na Terroir, e eles vêm questionando sobre os produtos nacionais. Ficam superfelizes em encontrar produtos brasileiros, pois querem experimentar variedades diferentes de regiões brasileiras.
Os estrangeiros são mais abertos, a aceitação deles é muito maior.
Qual a sua aposta na tendência do mercado de vinho?
É que mais jovens passem a consumir. As pessoas estão mais preocupadas com os benefícios para a saúde, por isso, estão buscando bebidas de melhor qualidade.
Assim como as cervejas artesanais que, embora com preços mais altos, o consumo aumentou, devido a qualidade maior. Isso se assemelha muito ao vinho e faz com que os fãs de cervejas artesanais também o consumam.