MUDANÇA DE PERFIL
Até a virada do século, havia um perfil de consumo predominante. Os vinhos tintos com alto teor alcoólico e passagem por madeira, que agregam aroma e sabor na construção final da bebida, eram os considerados de qualidade, explica a enóloga Natália Frighetto.
A partir de 2014, a mudança de consumo abriu espaço para vinhos de outro perfil. Agora, a valorização está em rótulos mais frescos e com menor teor alcoólico. A presença da madeira já não protagoniza a estrutura do vinho, até mesmo por questões sustentáveis. Assim, ariu-se espaço para os frutados.
Hoje, uma bebida considerada boa leva em conta toda potencialidade natural da fruta.
DEMOCRATIZAÇÃO DO VINHO
Os vinhos em taça já eram uma tendência consolidada na Europa quando Jaqueline Meneghetti decidiu trazer a ideia para Porto Alegre, na Dionísia Wine Bar. A casa foi a primeira a introduzir o conceito de vinho em torneiras.
É uma modalidade que veio para democratizar o consumo da bebida, possibilitando experimentar pequenas doses de rótulos vindos de outros países e, principalmente, do Brasil, valorizando as vinícolas nacionais.
A curiosidade do público por conhecer mais as histórias por trás das bebidas tem sido percebida por Jaqueline, desde que o restaurante abriu as portas há quatro anos. A cultura, as famílias, o tempo e toda a experiência em torno da bebida despertam essa relação íntima do consumidor com o produto e com quem o faz.
VINHO EM LATA
Com apenas dois anos no mercado, o propósito da Lovin é descomplicar o consumo do vinho, visando a simplicidade como o auge da sofisticação. Na praia, no parque, sozinho ou em uma roda de amigos: o vinho em lata é versátil para todas as situações. Não há preocupação se a bebida vai ser servida na taça, em um copo baixo ou, até mesmo, direto da lata. O importante é degustar.
A ideia veio de uma conversa entre amigos sobre a tendência nos Estados Unidos das bebidas ready to drink (do inglês, pronta para beber). Grandes redes de supermercados tinham os vinhos em lata como concorrência das milenares garrafas.
A novidade atraiu quem não era próximo do universo, ao passo que os adeptos da bebida se permitiram testar a novidade. O consumo em lata se consolidou nas prateleiras dos principais mercados nacionais, e a expectativa de João Paulo Sattamini, sócio da Lovin, é que a praticidade e a versatilidade aproximem a bebida ainda mais dos brasileiros.
A TENDÊNCIA DOS NATURAIS
Os vinhos de mínima intervenção, que não levam aditivos químicos, correções ou manipulações durante o processo, têm ganhado mais força e adesão do público consumidor nos últimos anos. São bebidas que valorizam o sabor e o aroma da fruta.
Apesar da produção de vinhos sem intervenção ser milenar, já que os aditivos enológicos foram inventados no final da década de 1970, no Brasil ainda é algo muito recente. Um lugar em Porto Alegre que tem investido nesse nicho é a Casa Vivá, que conta com uma das maiores cartas de vinhos naturais do país, com um total de 840 rótulos. O diferencial é a curadoria que preza pela qualidade e pela transparência com o consumidor.
Não há nada na bebida a não ser os poucos ingredientes descritos no rótulo. E, embora os vinhos naturais estejam muito relacionados ao modo artesanal, a casa investe em tecnologias de ponta para entregar o melhor resultado na produção de rótulos próprios.
Até mesmo os clientes do local não sabiam o que era uma bebida natural antes de conhecer seus produtos. A cultura foi introduzida e sentida na prática, quando chegam feedbacks como “bebi tudo aquilo ontem e, hoje, acordei sem ressaca”, conta Cristian Silva, proprietário da loja.
NA QUARENTENA
Durante a pandemia, tomar uma tacinha se tornou um hábito mais frequente. As bebidas comuns em festas saíram de cena e deram espaço ao vinho: aconchegante e acolhedor, que abre portas para um mundo infinito de experiências.
O interesse pelo produto e a facilidade da compra através dos e-commerces respingaram no percentual de consumidores em 2020, que aumentou 18% no Brasil, segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV).
O crescimento foi o maior registrado no período, mesmo que, geralmente, o país não consuma tanto vinho. No cenário mundial, representamos apenas 2% do total de litros consumidos, ou seja, 2,4 litros por pessoa ao ano, segundo a OIV.
Quem lidera o pódio atualmente são os Estados Unidos, com 14% do consumo mundial, seguido por França e Itália. Por outro lado, o Brasil é destaque quando o assunto é produção de vinho. Em 2021, atingimos 60% de crescimento.