O espumante é superdemocrático, tem para todos os gostos e bolsos. Embora seja símbolo de celebrações, a bebida das borbulhas cai bem em qualquer momento. Conversamos com a sommelière Gabriele Negri para desvendar algumas curiosidades comuns que irão fazer você parecer um entendedor nato nos próximos encontros de amigos, entre uma taça e outra.
ESPUMANTE E CHAMPANHE SÃO IGUAIS?
Todo champanhe é um espumante, mas nem todo espumante é um champanhe. A grande diferença é que o champanhe é exclusivamente elaborado na região de Champagne, no norte da França. Além da questão geográfica, existe uma série de regras. Ele só pode ser feito com três uvas específicas: chardonnay, pinot noir e pinot meunier. Outra exigência é que a bebida deve ser, obrigatoriamente, feita pelo método champenoise.
NO BRASIL, TEM ESPUMANTE QUE PODE SER CHAMADO DE CHAMPANHE?
Pelas normas exigidas, como condições do solo e do clima, teoricamente, não teríamos como elaborar champanhe no Brasil. Mas, em 1913, a Vinícola Peterlongo começou a produzir um espumante dentro de todas as regras exigidas para ser chamado de champanhe e, isso ocorreu antes da legislação francesa, registrada em 1927. A vinícola gaúcha, então, entrou na Justiça para conseguir autorização e, em 1974, o Supremo Tribunal Federal a liberou para estampar em seus rótulos o nome “champanhe”, mesmo sendo produzido em terras brasileiras.
O ESPUMANTE PODE ACOMPANHAR DA ENTRADA À SOBREMESA?
Sim, é uma das bebidas mais versáteis. As borbulhas funcionam como um agente que limpa o paladar, contribuindo para que a gente deguste alimentos diversos. O ideal é que sejam usados diferentes tipos de espumantes para cada etapa. Os feitos pelo método charmat são perfeitos para pratos mais leves, enquanto as bebidas mais estruturadas, que passam por períodos mais longos de fermentação, combinam melhor com pratos mais gordurosos e com carnes vermelhas. Para a hora da sobremesa, o ideal é que a bebida seja tão ou mais doce do que a própria sobremesa, ou seja, um moscatel não tem erro.
QUANTO MAIS CARO MELHOR?
O valor da bebida está muito mais relacionado à elaboração do que, de fato, com a qualidade. Existem dois grandes grupos: os espumantes produzidos pelo método charmat, em que toda a produção é feita em tanques de aço inox, e os pelo método champenoise, no qual a primeira fermentação ocorre no tanque e a segunda, na garrafa. Esse último demanda muito mais tempo e dedicação. O espumante precisa descansar e fazer a remuage, que é a virada das garrafas para que as leveduras se depositem no bico. Por isso, é um produto com um valor agregado maior. Mas nada tem a ver com a qualidade da bebida.
QUANTO MAIS BORBULHAS MELHOR?
Sem dúvidas. A perlage ou borbulha é um indicativo de qualidade. Quanto mais resistentes e abundantes ela for, o processo foi feito com um cuidado maior. Além disso, ao contrário da água com gás, que contém bolhas maiores e mais grosseiras, no espumante devem ser pequenas e finas. E quanto mais tempo permanecerem na taça, maior o indicativo de que o processo de elaboração foi bem feito.
ESPUMANTE BOM É FEITO COM UMA ÚNICA UVA?
O corte ou o uso de mais de uma variedade de uva não determina a qualidade, inclusive um dos espumantes mais famosos no mundo é, justamente, o corte de chardonnay com pinot noir. Quando a gente agrega mais uvas, temos um produto muito mais complexo, equilibrado e melhor elaborado.
DEMI-SÉC E PROSECCO SÃO O MESMO?
Não são. Demi-séc é uma classificação em relação a graduação de açúcar. Pela legislação brasileira, o meio seco deve ser produzido com 20,1g a 60g de açúcar por litro. Já o prosecco é uma uva da região de Prosecco, na Itália, uma história muito similar à do champanhe. Inclusive, os produtores de Prosecco vêm tentando delimitar o uso da nomenclatura para a região, assim como o champanhe.
O FORMATO DA TAÇA INFLUENCIA NA BEBIDA?
A perlage, uma das coisas mais interessantes do espumante, fica mais perceptível quando se tem porosidade na taça. Por isso, o mais indicado é utilizar as de cristal, que faz com que as borbulhas se formem melhor. Além disso, pode ser um espumante excelente, mas se a taça não estiver bem limpa e se for, por exemplo, de vidro, as bolhas não vão conseguir se expressar da maneira que deveriam para uma boa análise.
Quanto ao formato, uma das mais indicadas é a tulipa. Por ser estreita na base, faz com as borbulhas durem por mais tempo. Outro ponto é que essa taça se abre em um bojo maior, permitindo que todos os aromas sejam sentidos. No caso de espumantes mais complexos, como sur lie ou feitos pelo método tradicional, é indicado usar taças de vinho branco. Com bojo mais aberto, permitem que os aromas se abram com mais facilidade.
Mas “seus vinhos, suas regras”. O que vale mesmo é termos em mente a ocasião em que vamos degustar cada bebida. Se for em um momento descontraído com amigos, curtindo uma tarde de verão na piscina com um espumante leve e jovem, até a taça de plástico está valendo. A circunstância é muito mais relevante do que o formato da taça.