Quando estreou na tela da Globo, em 2016, Justiça foi uma grata surpresa aos espectadores. Formato antológico, fotografia impecável, roteiro amarrado, histórias capazes de despertar identificação e personagens densos fizeram com que a produção se diferenciasse daquilo que o público estava acostumado a ver na TV aberta até então, fazendo da série de Manuela Dias uma das mais aclamadas da última década.
Oito anos depois, a autora tira novamente do armário sua receita de sucesso para Justiça 2, que estreia no Globoplay nesta quinta-feira (11), com novas histórias, novos personagens e a igual intenção de debulhar o conceito de justiça.
— Não é uma série focada nas questões judiciais, mas naquilo que a gente acredita que é a justiça — definiu Manuela Dias em coletiva de imprensa.
— Acreditamos tanto na justiça que, quando a da terra falha, a gente acha que vai haver uma justiça divina. Mas é possível existir justiça sem reparação? E é possível que haja justiça em um crime que não tem possibilidade de reparação? O cerne da série está nas questões que se abrem quando falamos disso — completou a autora.
Justiça 2 costura as histórias de quatro personagens principais que são presos no mesmo dia em Brasília (na primeira temporada, a trama se desenvolveu em Recife). A série detalha o que motivou suas prisões — nem todas justas — e salta para acompanhar a retomada da vida deles após o cumprimento da pena. Fora da cadeia, "eles buscam uma justiça que vai além da lógica dos processos judiciários", como define a autora.
Os protagonistas são vividos por Juan Paiva (Balthazar), Belize Pombal (Geíza), Nanda Costa (Milena) e Murilo Benício (Jayme). Nos núcleos que constituem as trajetórias dos quatro personagens, a produção também conta com elenco prestigiado, formado por nomes como Paolla Oliveira, Julia Lemmertz, Alice Wegmann, Fábio Lago, Leandra Leal, Danton Mello, Marcello Novaes, Marco Ricca e Maria Padilha.
Histórias
Balthazar, interpretado por Juan Paiva, o João Pedro de Renascer, é um entregador que acaba preso injustamente após ser reconhecido em um catálogo digital de suspeitos pelo ex-patrão, que o culpa por um roubo em seu restaurante. Por conta do falso reconhecimento, o personagem é acusado de outros crimes e passa sete anos preso, vítima de uma injustiça que também propõe a reflexão sobre o racismo das instituições.
Já a trama de Geíza levanta o debate sobre quando um crime é ou não justificável. Moradora da periferia de Brasília, ela briga com um traficante da região, Renato (Filipe Bragança, no ar em Elas por Elas), e mata o rapaz para defender a filha, Sandra (Gi Fernandes, de Os Outros). Belize Pombal, que arrancou elogios do público na primeira fase de Renascer, celebrou o retorno em Justiça 2:
— Como artista, eu me sinto agraciada em fazer parte de um projeto tão poderoso. O texto da Manuela Dias traz muitas possibilidades. Lendo, eu já me sentia muito tocada. Geíza é uma personagem que fala sobre tantas mulheres com as quais eu convivi; mulheres negras, de periferia, e mulheres com as quais eu não convivi, mas que têm realidades que me tocam.
Nanda Costa, intérprete de Milena, também rasgou elogios a Manuela Dias. A personagem interpretada por ela vive de pequenos golpes enquanto não consegue realizar o sonho de ser cantora. Sem dinheiro para pagar nem mesmo a conta de luz, Milena rouba um carro e acaba sendo presa por homicídio, pois o veículo tem um corpo escondido no porta-malas. Trata-se do irmão de Jordana (Paolla Oliveira), assassinado por ela.
Quando sai da cadeia, a personagem de Nanda Costa busca vingança, mas se envolve afetivamente com a de Paolla Oliveira, que teve em Justiça 2 seu último papel como contratada da Globo.
— A gente não pode deixar o trabalho de ator estacionar, criar poeira. Mesmo trabalhando sem folga, eu queria estar envolvida em arte. Queria ter um texto e uma direção que me permitissem fazer o meu trabalho sem estar preocupada com tudo o que envolve uma novela, por exemplo. Preciso deixar registrado o quanto foi gratificante estar em Justiça 2 e o quanto meus desejos foram atendidos com esse trabalho — disse a atriz.
Murilo Benício, que interpreta Jayme, teve dois grandes desafios na trama. Para dar vida ao quarto protagonista de Justiça 2, o ator raspou os cabelos e fez uso de uma prótese no nariz, em um trabalho de caracterização que durava cerca de duas horas diárias. O perfil psicológico do personagem também tirou o ator da zona de conforto. Jayme é preso por estuprar a sobrinha, Carolina, durante dois anos da adolescência dela.
Alice Wegmann, intérprete de Carolina, vê na personagem uma possibilidade de alertar sobre a realidade do abuso sexual no país:
— Uma mulher é estuprada a cada oito minutos no Brasil. Muitos dos ataques ocorrem dentro das famílias, por pais, tios, padrastos e amigos dos pais. Geralmente, são pessoas que exercem um certo poder na família, como é o caso do Jayme, o que levanta dúvidas sobre denunciar ou não. Enquanto mulher, eu digo que é melhor que a denúncia seja feita.
As histórias dos quatro personagens principais de Justiça 2 serão apresentadas ao longo de 28 episódios. A cada semana, uma leva de quatro capítulos será disponibilizada no Globoplay, sempre às quintas-feiras, até 23 de maio. E quando a série chegar ao fim, o público não precisará lamentar: no que depender da autora Manuela Dias, haverá Justiça 3.