Vai na Fé chega ao fim nesta sexta-feira (11) com o mérito de ter recuperado a audiência da faixa das 19h, que há tempos não conseguia deslanchar na Globo. Muitos são os motivos que ajudam a explicar o sucesso da trama de Rosane Svartman junto ao público — e os temas abordados ao longo do folhetim, alguns deles polêmicos, certamente integram essa lista.
A autora conseguiu inserir no roteiro uma série de discussões pertinentes aos tempos atuais, mas sem pesar a mão e sem deixar de lado o bom humor e a leveza que se tornaram marcas registradas da novela. Ponto para ela.
Abaixo, GZH relembra os principais temas que estiveram presentes no folhetim.
Violência sexual
Um dos principais temas mobilizadores de Vai na Fé foi a violência sexual, a começar pelo arco de Sol (Sheron Menezzes). A protagonista foi violentada na juventude por Théo, personagem de Emílio Dantas. No decorrer do folhetim, ela conseguiu enfrentar os traumas causados pelo episódio e criou coragem para lutar por justiça. Assim, ela se tornou incentivadora de outras mulheres que também haviam sido vítimas de Théo para que denunciassem o criminoso.
Na reta final da novela, o processo movido pelo grupo de vítimas contra Théo foi um dos principais enredos. Os julgamentos se arrastaram por vários capítulos, alimentando no público a expectativa pela punição do vilão e servindo de pretexto para a inserção de importantes reflexões dentro da trama.
Nesse sentido, também houve espaço para a temática dos relacionamentos abusivos. O assunto foi abordado em Vai na Fé, sobretudo, a partir das relações que as personagens Kate (Clara Moneke) e Clara (Regiane Alves) mantiveram com Théo. As duas sofreram de manipulação, violência psicológica e violência física nas mãos do vilão, protagonizando sequências que também serviram de alerta para o público.
Racismo
Outro tema que esteve presente na novela em diferentes momentos foi o racismo. Com um núcleo central formado por personagens negros, incluindo os protagonistas Sol e Ben (Samuel de Assis), Vai na Fé conseguiu mostrar as mais diferentes faces da desigualdade racial no Brasil, sem reduzir o arco de seus personagens negros a isso.
O assunto apareceu na novela através das sutilezas — como ao mostrar as dificuldades diárias enfrentadas por alunos negros no Ensino Superior —, mas também de maneira explícita. Um exemplo é o personagem Yuri (Jean Paulo Campos), que em dado momento da trama foi confundido com um criminoso e acabou sendo preso injustamente, vítima do racismo institucional das instâncias de segurança pública.
Diversidade religiosa
A religiosidade também esteve em pauta em Vai na Fé. A novela foi a primeira da Globo a contar com uma protagonista cristã evangélica e também fez história ao representar a religião, uma das que mais cresce no Brasil, de forma não estereotipada. O enredo valorizou os aspectos positivos da religiosidade na vida de Sol, sem tecer nenhum tipo de julgamento.
Com o arco de Ben, o folhetim explorou as religiões de matriz africana — e igualmente mandou bem ao destinar uma representação respeitosa ao culto aos orixás, que muitas vezes é retratado de forma preconceituosa. Na novela, o contato do protagonista com o candomblé também é mostrado de forma positiva, uma vez que a religião é um divisor de águas na vida do personagem.
Relações homoafetivas
O leque de pautas abordadas em Vai na Fé inclui ainda as relações homoafetivas. Através do personagem Yuri, a novela conseguiu abordar a bissexualidade, orientação sexual que ainda é pouco representada nas novelas e que, fora delas, por vezes é pouco compreendida. Nesse sentido, a trama ajudou a desmistificar o tema.
Já através das personagens Clara e Helena (Priscila Sztejnman), a trama tratou da relação entre duas mulheres, abordando o processo de descoberta da própria sexualidade vivido pela personagem de Regiane Alves. As duas formaram um dos casais mais queridos pelo público, que aguarda ansiosamente para descobrir qual será o desfecho de "Clarena".