A atriz Aracy Balabanian morreu na manhã desta segunda-feira (7), aos 83 anos. Ela estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. A notícia foi confirmada em comunicado pela Rede Globo. A artista marcou a televisão com papéis como Cassandra, em Sai de Baixo (1996-2002), e dona Armênia, em Rainha da Sucata (1990).
Aracy foi diagnosticada com câncer no pulmão no fim do ano passado. Ao passar por um tratamento para um derrame pleural, que causa acúmulo de líquido nos pulmões, a atriz teria descoberto dois tumores nos órgãos.
Filha de refugiados armênios, Aracy nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e aos 10 anos se mudou para São Paulo, onde conheceu, por intermédio da escola, Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido. Este foi o seu primeiro contato com a atuação, embora o interesse tenha surgido antes, ao visitar circos.
Em entrevista ao site Memória Globo, a atriz contou que foi Boal quem a incentivou a fazer um teste para o Teatro Paulista do Estudante, no qual passou e, desde então, não parou de atuar. Aracy se formou pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP) e se destacou pela atuação nos palcos em espetáculos com o grupo Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC.
Foram mais de 60 anos de carreira dedicados à TV, ao teatro e ao cinema. A primeira protagonista de Aracy foi na novela Antônio Maria (1968). Entre os folhetins em que ela atuou, destacam-se títulos como O Casarão (1976), Coração Alado (1980), Elas por Elas (1982) e Locomotivas (1986), além do programa infantil Vila Sésamo (1972), todos exibidos pela Globo.
Nos anos 1990, Aracy brilhou como dona Armênia, em Rainha da Sucata, a manipuladora Filomena em A Próxima Vítima (1995) e a memorável Cassandra, em Sai de Baixo. Em entrevista ao Conversa com Bial, em agosto de 2022, ela revelou que foi escalada para o humorístico porque queriam mostrar o seu lado "mais engraçado". Durante as filmagens, chegou a pedir demissão porque não conseguia segurar a risada.
— No Sai de Baixo, eu sofri horrores. Eu tinha uma coisa que meu pai me corrigia muito... Eu ia contar uma coisa e ria ou chorava antes de concluir. Meu pai falava: "Espera! Conta e depois você sente". Aí fui pedir para o Daniel (Filho, diretor) para sair. Eu disse: "Daniel, eu tenho que sair porque não estou correspondendo". Ele: "Por quê?". "Porque o outro começa a falar", principalmente o Miguel Falabella e o Tom Cavalcante, que faziam improvisações, e na hora eu não conseguia me controlar, chegava a me unhar toda.
Foi então que a atriz foi aconselhada pelo diretor a usar o riso em cena:
— "Ri. Você está com vontade de rir, ri", respondeu (Daniel Filho). Como o Miguel (Falabella) dizia, eu fechava a piada. A piada era fechada por mim, aqui terminava a piada. Por que eu não tinha condições de fazer graça diante deles — concluiu Aracy.
O último papel de Aracy na TV foi em 2019, no especial de fim de ano da Globo A Magia Acontece. No ano anterior, ela fez uma participação em Malhação: Vidas Brasileiras.
Vida pessoal
Aracy não teve filhos e nunca se casou, por escolha própria. A atriz participou de uma reportagem da revista Veja, publicada em 1997, em que revelou que fez dois abortos. Já na biografia Aracy Balabanian: Nunca Fui Anjo, ela comentou sobre os motivos de ter passado pelos procedimentos.
"A profissão não era regulamentada, não tínhamos bons salários, licença-maternidade e direitos", afirmou sobre o primeiro. Comentando o segundo procedimento, ela afirmou: "Fiz um segundo aborto, porque meu filho teria um pai que não desejaria para ninguém."
Em 2013, à revista Quem, ela falou sobre a relação com a família.
— Tenho vários filhinhos. Tenho 13 sobrinhos, 12 sobrinhos-netos e já já serei bisa-tia-avó, acho que é isso — disse, também comentando a participação na vida da afilhada Antônia, então com 10 anos, de quem era bastante próxima.
— Participo de tudo da vida dela. Levo ao dentista, ao balé. Amo comprar roupinhas — contou.