Enquanto Pipa Diniz retornava para o No Limite mais de duas décadas depois da primeira participação no reality show da Globo, Simoni Santos estreou na atração em 2023. Gaúchas, ambas se diziam preparadas para brigar pelo prêmio de R$ 500 mil, além da glória de vencer o programa que exige tanto física quanto psicologicamente dos participantes — afinal, disputar provas desgastantes no meio da Amazônia, com comida racionada e nenhum conforto, é para poucos.
Mesmo com altas expectativas pelas performances das duas, elas acabaram sendo eliminadas do No Limite logo nos primeiros episódios do programa — Pipa foi a segunda eliminada e Simoni foi a terceira. Porém, uma reviravolta no episódio que foi ao ar na noite de quinta-feira (27) mudou o cenário: com a desistência de Paulo Vilhena em receber uma segunda chance no programa, a oportunidade foi dada a Simoni. Ela irá para um terceiro acampamento com Dedé e os próximos eliminados, que disputarão uma vaga para voltar ao No Limite.
Mas, afinal, o que provocou a saída delas? A reportagem de GZH conversou com as participantes e elas apontaram os principais motivos para as eliminações precoces: etarismo e machismo.
Pipa
A segunda eliminada do programa chegou na Amazônia com uma grande bagagem, afinal, foi vice-campeã da primeira edição de No Limite, em 2000. Depois de deixar o reality show, Pipa refletiu sobre os motivos que a levaram a ser a mais votada por sua equipe e chegou à conclusão que o etarismo pesou na hora da escolha dos colegas, mais jovens.
— Hoje em dia, o reality show se transformou em um outro tipo de jogo. Então, ter saído daquele jeito me deixa um pouco subestimada, talvez, pela minha idade. A gente não tinha muito conhecimento um do outro ali naquelas primeiras semanas. A juventude é efêmera, eles querem as coisas para ontem, não se preocupam com a experiência adquirida pelo outro. Eles querem olhar para o futuro — reflete a chef confeiteira. — Ninguém veio me perguntar como foi a experiência do primeiro, como foi já ter vivido no reality. Ninguém teve interesse de me conhecer.
De acordo com Pipa, que tem 52 anos, com o passar do tempo, ela passou a se preocupar em caminhar ao lado das pessoas, criando uma jornada compartilhada, diferentemente do pensamento individualista dos colegas do programa.
— Há 23 anos, as pessoas me perguntavam qual era o maior desafio do No Limite e eu dizia que eram as pessoas. E quando me perguntavam qual foi a melhor coisa, eu também dizia que eram as pessoas. Por que, na verdade, o que faz o reality ser aquilo tudo são as características individuais de cada um. Então, hoje, eu posso dizer exatamente a mesma coisa — avalia.
Mesmo assim, Pipa afirma que foi um privilégio ser convidada para retornar ao programa que a deixou conhecida nacionalmente 23 anos atrás. Estar na Amazônia, de acordo com a gaúcha, foi uma experiência inesquecível, uma vez que se integrou rapidamente ao local — de um dia para o outro, ela relembra que deixou as botas de lado e passou a andar de pés descalços pela mata.
Desta segunda passagem pelo No Limite, a participante ressalta que novamente transformou-se e agora estuda novas oportunidades — o café que Pipa tinha no bairro Auxiliadora, na Capital, ela decidiu fechar. Para o futuro, a chef pretende se manter dentro do mundo da confeitaria, mas também levantar a bandeira das mulheres 50+, tornando-se uma voz da causa nas redes sociais ou em veículos de comunicação.
— Eu acho que quando a gente quer uma coisa, quando a gente acredita que aquilo ali vai fazer bem, vai ter um resultado, a gente se joga. E eu sou assim, eu sou uma pessoa muito intensa, de me jogar mesmo — ressalta.
Sobre um convite para uma nova participação em No Limite, a gaúcha crava:
— Ah, eu vou de novo. Só que eu espero que a próxima aventura seja na neve. Na praia e na floresta, eu já vivi. Agora, eu quero uma montanha com nevasca (risos).
Simoni
Aos 37 anos, a porto-alegrense campeã mundial de muai thay foi eliminada no terceiro episódio do reality show. Em entrevista a GZH na terça-feira (26), Simoni comentou que estava pronta para as provas, para passar fome e frio. Porém, ela afirma que não tinha se preparado para traições e, principalmente, para lidar com o machismo dentro da atração.
— Acho que fizeram um grupo de homens machistas e uma mulher enganada. Acho que a Amanda foi enganada, acreditando muito nos meninos. Então, isso causou a minha saída. E o Marcos estava com pergaminho e aquilo ali engrandeceu bastante ele, que disse com todas as palavras que queria arrancar todas as mulheres — explica Simoni, destacando que estava sozinha contra a turma. — A minha eliminação foi traição atrás de traição.
A ex-atleta conta que durante as gravações de No Limite sofreu com o "bafo" no local, ocasionado pela alta temperatura e a grande umidade do ar. Além disso, ela relembra que a escassez de comida e a falta de pequenos confortos do dia a dia dificultam a experiência, mas não o suficiente para fazê-la pensar em desistir.
— O maior desafio para mim foram as pessoas, conseguir passar o meu jeito de pensar para elas. As pessoas são muito diferentes umas das outras. Escutei muitas coisas que não foram passadas no programa. Não dá para a gente mudar pessoas que têm uma personalidade, um caráter já montado, e não conseguir me encaixar naquilo foi a maior dificuldade para mim. E quando tu se impõe, aparece. E quando aparece, é votada. Infelizmente, eu tenho pavio curto — aponta Simoni.
A campeã mundial de muay thai explica que aprendeu a valorizar as pequenas coisas, como ter um sabonete, um xampu e uma toalha para poder tomar banho.
Ela ainda conta que, fora do reality, pretende intensificar as atividades do centro de treinamento dela, bem como utilizar a visibilidade conquistada no programa da Globo para expandir o alcance de seu projeto social, que auxilia crianças a se profissionalizarem. Porém, o mais importante para ela foi se conhecer melhor:
— Eu descobri que eu sou uma feminista, porque até então, eu não sabia que era. Estou muito orgulhosa de saber que eu sou. Eu sofri o que eu sofri, passei o que eu passei e agora vou colher os frutos de tudo isso. Estou acreditando muito no trabalho que eu fiz lá dentro.
Questionada sobre um possível retorno ao No Limite, Simoni havia dito:
— Calma, acabei de sair (risos). Mas, se tivesse de voltar, voltaria com certeza.
E voltou mesmo. Agora é aguardar os próximos episódios, em que os participantes começam a competir individualmente.