Tal qual uma novela, a disputa judicial envolvendo a herança bilionária de Gugu Liberato ganha novos capítulos e personagens a cada dia que passa. O apresentador morreu em novembro de 2019, aos 60 anos, em Orlando, na Flórida, nos Estados Unidos, após um acidente doméstico.
Desde então, a viúva, Rose Miriam di Matteo, os filhos, Marina, Sofia e João Liberato, a irmã, Aparecida Liberato, e o suposto namorado, Thiago Salvático, brigam na Justiça pela divisão da fortuna do apresentador. Estima-se que Gugu tenha deixado cerca de R$ 1 bilhão em bens.
Abaixo, GZH explica como a disputa judicial começou, quem são os envolvidos e como está o andamento do processo, que é marcado por barraco em audiência e revelações sobre a intimidade de Gugu.
Rose Miriam questiona testamento
Em testamento, Gugu designou 75% do seu patrimônio para os três filhos e 25% para os cinco sobrinhos, deixando Rose Miriam de fora da lista de herdeiros. Ela era apresentada ao público como esposa de Gugu, mas os dois nunca chegaram a se casar no papel.
O teor da relação sempre foi nebuloso. Ao longo dos 20 anos em que supostamente estiveram juntos, diversos boatos sobre a veracidade da união deles circularam na mídia. Alguns afirmavam que a relação era de fachada e que Rose teria sido uma espécie de "barriga de aluguel" para Gugu, que desejava ser pai, mas não queria um relacionamento convencional. Em troca disso, o apresentador garantiria a ela uma "boa vida", no sentido financeiro. A história nunca foi confirmada.
Contudo, em seu testamento, o apresentador deixou a irmã, Aparecida Liberato, como responsável por cuidar do seu espólio e não reconheceu Rose Miriam como sua companheira. Ela, por sua vez, alega que vivia, sim, um relacionamento com o apresentador.
Desde 2019, Rose Miriam tenta na Justiça o reconhecimento de sua suposta união estável com Gugu para ter direito a parte da fortuna deixada por ele, estimada em R$ 1 bilhão. Caso vença a disputa, ela terá direito a 50% do espólio, ficando a outra metade com os filhos.
Thiago Salvático entra na disputa
Um novo personagem entrou na disputa em 2020. Trata-se do chef de cozinha Thiago Salvático, que afirma ter sido o verdadeiro companheiro de Gugu. Assim como Rose Miriam, ele entrou na Justiça para obter reconhecimento de suposta união estável com o apresentador e, com isso, tornar-se herdeiro dele.
Ainda em 2020, Salvático acabou desistindo da disputa judicial. Depois, porém, entrou novamente no páreo, mas teve o pedido negado pela Justiça. Na decisão, protocolada no Tribunal de Justiça de São Paulo, o juiz José Walter Chacon Cardoso classificou a relação dos dois como "clandestina" e disse que a mesma pode ser considerada como "amizade".
Recentemente, o chef de cozinha disse que tentará novamente provar a união estável com Gugu e afirmou ter provas do relacionamento, como fotos, documentos e até vídeos de sexo.
— Não coloquei vídeos desse nível no processo — garantiu ele, em entrevista à Veja.
Ele deu mais detalhes sobre o suposto relacionamento com o apresentador:
— Era normal, íamos ao shopping, a restaurantes, assistíamos a filmes. Tudo normal. Só que ele era muito discreto. Recebi uma mensagem hoje, de uma pessoa da companhia Azul: "Conheci teu companheiro e realmente quem via ele chegando no aeroporto nem desconfiava quem era. Ele andava tão simples, com o bonezinho dele, óculos, camiseta básica, ninguém o reconhecia nos lugares".
Vazamento de mensagens expõe divergência entre os filhos
Desde que Rose Miriam contestou o testamento de Gugu na Justiça, iniciou-se a briga familiar pela herança. Enquanto as gêmeas Marina e Sofia apoiam a mãe e confirmam que ela tinha uma união estável com o pai, João Augusto defende que o testamento deixado por Gugu seja respeitado e diz que os pais não viviam um relacionamento.
Recentemente, a revista Veja obteve com exclusividade mensagens de texto e trechos do processo que detalham a divergência entre os irmãos. No material divulgado, os três conversam abertamente sobre o teor da relação dos pais e o andamento do processo, citando, inclusive, Thiago Salvático, que é descrito como "o gay lá" por uma das gêmeas.
Marina diz, em uma das conversas divulgadas, que não quer ter que dividir a herança com o chef de cozinha nem ser vista como "a menina que nasceu de uma barriga de aluguel", afirmando que seria uma "imagem ridícula". João, então, responde à irmã que "essa é a realidade que a gente teve".
"Papai nunca quis ter um casamento, nunca quis morar junto com ninguém, mas ele queria filhos e teve a gente. A mamãe e nossa família por parte de mãe precisam de dinheiro, Marina. Sem dinheiro ninguém tem nada. O papai sempre soube que a gente nunca deixaria a mamãe na mão em relação a dinheiro", diz ele.
Em outro trecho, o jovem reitera que a mãe não ficaria desamparada, citando a possibilidade de um acordo com ela, mas defende que a vontade expressa por Gugu no testamento seja respeitada: "A gente quer fazer um acordo em que ela se sinta bem, é isso que a gente quer. Só que não vai ter união estável, porque não existiu união estável."
Audiência sobre o caso é marcada por barraco
Em 22 de maio, teve início a série de audiências que devem tratar do reconhecimento da união estável de Rose Miriam com Gugu. Marina e Sofia Liberato prestaram depoimento em favor da mãe durante a sessão. As duas, assim como Rose Miriam, são representadas pelo advogado Nelson Wilians.
— As gêmeas Marina e Sofia sempre estiveram ao lado da mãe na busca dela pelo reconhecimento de união estável na Justiça — disse ele ao g1. — Todos os elementos comprovam que Rose e Gugu mantinham uma relação pública, notória, duradoura, contínua e com objetivo de constituir família. Reafirmamos acreditar que, a cada dia, estamos mais próximos de vermos a justiça ser feita — ressaltou.
João Augusto e Aparecida Liberato também estiveram presentes na audiência, mas não foram ouvidos na ocasião. Em seu Instagram, João definiu o depoimento das irmãs como inverídico.
"Tive que me segurar para não falar quando não era o momento. Foi muito triste ver e ouvir tantas coisas que não eram verdadeiras, mas eu respeitei as regras da audiência", disse ele, que ainda será ouvido.
Conforme o portal Splash, a audiência de 22 de maio foi marcada por uma pergunta sobre sexo. Durante o testemunho de Rose Miriam, o advogado de João Augusto a teria questionado sobre relações sexuais com Gugu durante os 20 anos em que eles supostamente mantiveram união estável.
Rose, então, teria respondido que fazia sexo com o apresentador, ao passo em que o advogado teria insistido para saber a frequência. O questionamento gerou discussões na audiência, segundo o portal.
As próximas audiências do caso, que ocorreriam nos dias 23 e 24 de maio, foram adiadas para o final de junho.
STJ valida testamento
Em 20 de junho, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) validou o testamento deixado pelo apresentador. A decisão, emitida pela ministra Nancy Andrighi, reconheceu o documento de 2011 que não reconhece Rose Miriam Di Matteo como uma das herdeiras do artista.
Para o colegiado, Gugu "pretendeu dispor de todo o seu patrimônio e não apenas da parcela disponível. Isto porque, se referiu, no ato de disposição, reiteradamente à totalidade do seu patrimônio". De acordo com a decisão, de forma unânime, "quando o testador (Gugu) fala em 25% do patrimônio total, aponta intenção de dispor sobre a divisão da legítima aos seus três herdeiros necessários, o que não lhe era vedado".
Suposto filho
Um dia depois, na audiência do dia 21 de junho, em que Rose Miriam Di Matteo busca reconhecimento de que vivia em união estável com o apresentador, a sessão foi interrompida por um oficial de Justiça com a missão de entregar uma intimação aos três filhos do apresentador, João Augusto, Marina e Sofia, e à irmã dele, Aparecida.
Conforme apurado pela colunista Mônica Bergamo, os quatro foram informados de que há uma ação de investigação de paternidade post mortem em andamento contra Gugu. O comerciante Ricardo Rocha, 48 anos, alega ser filho do apresentador e busca, portanto, a parte que lhe caberia da herança da celebridade da TV.
Rocha solicitou que os os filhos e a irmã de Gugu coletem material genético para a realização do teste de DNA. Caso eles se recusem a cooperar, o comerciante demanda que o corpo do apresentador seja exumado para que seja feito o exame.
Conforme a intimação, a qual O Globo teve acesso, a mãe de Rocha, Otacília Gomes da Silva, conheceu Antonio Augusto Moraes Liberato em 1973, "em uma padaria que existia na rua Aimberê, no 458, bairro de Perdizes, nesta capital (São Paulo)". Eles teriam tido um relacionamento íntimo e, em 1974, ela descobriu que estava grávida. Otacília teria tentado contatá-lo, mas "este não mais foi encontrado naquele comércio, perdendo totalmente o contato".
Ainda de acordo com o documento, Rocha sabia da paternidade quando Gugu iniciou a carreira na televisão, mas preferiu acompanhá-lo à distância e "protelar a busca do reconhecimento da paternidade para o futuro".
Carta polêmica
O processo ganhou mais um capítulo polêmico nesta quinta-feira (22). Durante audiência pelo reconhecimento ou não de uma suposta união estável entre Rose Miriam e o apresentador, a família tomou conhecimento de uma carta de seis páginas, datada de 2010, que teria sido escrita a mão por Rose. No documento, ela reconhece saber que Gugu era bissexual e garante que poderia reverter a condição "com oração e jejum"
O material foi reconhecido como verídico pelo advogado de Rose Miriam e das filhas gêmeas, Nelson Willians, na tarde desta quinta. Ao longo do dia, as imagens das páginas ganharam as redes sociais e foram publicadas pela coluna Em Off.
Em nota oficial enviada ao F5, Willians argumenta: "Rose escreveu a referida carta com o coração, em desespero ao saber da traição e da bissexualidade do marido, que ela tanto amava, e porque queria também proteger os filhos. Ainda que imensamente abatida, ela encontra na fé e no seu amor por ele uma saída", explica um trecho da nota oficial.
O documento escrito pelo advogado diz, ainda, que o casal entrou em crise na época do envio da carta. "Nesse contexto surge o malfadado contrato para criação dos filhos, que Rose Miriam assinou dopada, sob efeito de medicamentos fortíssimos; e o famigerado testamento de 2011", completa a nota.