Há 10 dias, o ator Jeff Machado, que tinha 44 anos, foi encontrado morto pela polícia do Rio de Janeiro, em 22 de maio. O corpo do artista estava amarrado dentro de um baú de madeira, que foi enterrado e concretado a dois metros de profundidade em um terreno em Campo Grande, na zona oeste da capital fluminense. Investigações indicam que ele estaria morto desde janeiro.
Foi neste mês que a família do ator começou a suspeitar de que algo havia acontecido com ele. A mãe de Jeff, Maria das Dores, seguiu trocando mensagens com o filho, mas estranhou a maneira como ele a respondia e as negativas quando pedia para que fizessem chamadas de vídeo, o que era um hábito dos dois.
Os oito cachorros que Jeff era tutor passaram a ser encontrados vagando por diferentes bairros do Rio, aumentando as dúvidas sobre o paradeiro dele. Após receber uma denúncia, a polícia foi até a residência em Campo Grande — que não era a casa de Jeff — e encontrou o corpo do ator.
Suspeitos
Até o momento, dois suspeitos foram indiciados pelo crime. O primeiro a ter o nome revelado foi Bruno de Souza Rodrigues, homem que se passava por amigo do ator e que foi responsável por registrar o desaparecimento dele. Conforme a polícia, Bruno alugou a residência onde o corpo de Jeff foi encontrado e construiu muros mais altos no terreno.
Em depoimento à polícia, quando registrou o desaparecimento de Jeff, Rodrigues disse estar com chaves da casa e do carro de Jeff, justificando que ele tinha ido fazer um trabalho em São Paulo. Conforme a família do ator, o suspeito também está com os cartões bancários dele.
A fatura do cartão de crédito do mês de fevereiro de 2023 do ator Jeff Machado foi entregue à polícia nesta segunda-feira (29). Ela mostra movimentações suspeitas após o dia 23 de janeiro, totalizando R$ 5.392,02 em compras. Além da movimentação no cartão de crédito, houve também movimentação na conta bancária do ator, o que também já foi notificado à polícia.
Por conta das evidências, Bruno de Souza Rodrigues foi indiciado por homicídio triplamente qualificado. Além dele, Jeander Vinícius da Silva Braga depôs na última sexta-feira (26) e confessou participação na ocultação do corpo do ator, não no assassinato. Contudo, ele também foi indiciado por homicídio triplamente qualificado. Braga tem passagem pela polícia por roubo.
Suposta motivação
As motivações para o crime ainda estão sendo investigadas pela polícia. No caso de Bruno de Souza Rodrigues, investigações apontam que Jeff teria desembolsado em torno de R$ 20 mil ao suspeito, que prometeu conseguir a ele um papel em uma novela. Maria das Dores, mãe do artista, detalhou os pagamentos.
— Pagou R$ 12 mil, depois R$ 2 mil porque tinha que fazer uma filmagem, mais R$ 2 mil porque não sei o que... Você tem um sonho que ele é tão forte dentro de ti que a impressão é que você fica cego para a realidade — afirmou ela.
Amiga próxima de Machado, a esteticista Cintia Hilsendeger contou ao jornal O Globo que, ao não receber nenhuma proposta de trabalho, Jeff confrontou Rodrigues. Ela ainda contou detalhes da relação dos dois.
— Ele se aproximou do Jefferson dizendo ser assistente de produção, explicou que o Jeff teria que dar R$ 20 mil para ter acesso a um papel na novela e não ficar só no elenco de apoio. Acontece que toda hora uma novela nova ia ao ar e nada de o Jeff ser chamado — contou ela. — Ele falava que o Jeff tinha que emagrecer ou engordar. Toda vez ele pedia para o Jeff ter paciência, que o momento dele ia chegar. Falava para ele ficar calmo que tudo ia dar certo, que na próxima novela ele conseguiria. Eu falava para ele não acreditar nele.
Para a esteticista, Rodrigues cometeu o assassinato por estar sem saída diante das cobranças do amigo:
— A gente acredita que a morte dele foi por conta disso, porque ele (Jeff) falou que ia colocar a boca no mundo.
Versões dos suspeitos
Na manhã desta quinta (1º), o responsável pela defesa de Rodrigues, João Maia, realizou uma coletiva de imprensa e assumiu que ele teve participação na ocultação de cadáver. O advogado também detalhou a versão do cliente, que não estaria sendo aceita pela polícia:
— A versão do Bruno é que no dia 23 de janeiro ele e o Jefferson se encontraram para produzir um vídeo sexual. E Bruno convidou um rapaz de conhecimento dele chamado Marcelo. Eram quatro pessoas no quarto. Ainda que a polícia não concorde com esse fato, o Bruno tem colaborado — disse o advogado.
— O ato sexual acontece entre Jefferson, Vinícius e Marcelo. Bruno está gravando o vídeo. Eles combinam a gravação no dia 23 de janeiro. A gravação se encerra, o Bruno desce para beber água e ficam os três, no que Bruno chamou de "finalmente". Bruno desce e vê Jeffeson desacordado e morto. Nesse momento, Marcelo está bastante agressivo e determinou que Jefferson seja colocado no baú. A partir daí o corpo é colocado no carro do Jefferson e o trajeto entre a casa e o local onde o corpo é localizado é feito no carro do ator. O Vinícius dirigindo, Bruno no carona e Marcelo atrás com o baú — detalhou.
Ele disse, ainda, que foi o próprio Bruno quem entregou à polícia o endereço da casa onde estaria o corpo:
— O corpo do Jefferson foi localizado por meio da entrega do endereço pelo Bruno pela sua defesa. A defesa estava presente e acompanhou integralmente todos os atos. O Bruno ofereceu a chave do imóvel. E o Bruno autorizou por telefone que a casa pudesse ser arrombada caso os policiais tivessem dificuldade de entrar.
Já a participação de Jeander Vinícius da Silva Braga é mais nebulosa. Ao confessar seu envolvimento, o suspeito contou à polícia uma história na qual tenta se eximir parcialmente da culpa.
Em um trecho do depoimento de Braga, que foi obtido pelo g1, consta o relato de que ele e Jeff Machado teriam se conhecido em um aplicativo de relacionamentos e, no dia 23 de janeiro, ele teria ido à casa do ator. De acordo com a versão do suspeito, na residência de Machado, eles estariam acompanhados de uma terceira pessoa. Em dado momento, Braga teria ido tomar banho por cerca de 15 minutos e, quando saiu, encontrado o ator deitado na cama, com um fio no pescoço, já morto.
A terceira pessoa, segundo ele, não era Bruno de Souza Rodrigues. Braga afirmou que o suposto assassino teria dito que "é isso que faz com quem passa HIV para os outros" e lhe obrigado a participar da ocultação do corpo de Jeff Machado, colocando-o no baú e transportando-o para a residência em Campo Grande.
Para o advogado da família de Jeff Machado, as versões apresentadas pelos suspeitos, associando o crime a situações de envolvimento sexual, visam desqualificar a vítima.
Investigação
As autoridades responsáveis pelo caso apontam que as versões dos dois suspeitos, que indicam o envolvimento de mais pessoas no crime, são inverídicas. A polícia não acredita que haja um terceiro envolvido na morte do ator.
De acordo com depoimentos e investigações realizadas pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), apenas Jeander e Bruno estavam no local com Jeff e tiveram participação na morte. Eles tiveram prisão temporária pedida junto à Justiça.