Durante uma participação no Encontro desta quinta-feira (17), Zezé Motta relatou ter sofrido agressões racistas do público na época em que gravou Corpo a Corpo. Na novela de 1984, ela interpretou Sônia, que vivia um relacionamento inter-racial com o personagem de Marcos Paulo.
— Foi uma loucura, uma surpresa super desagradável para todos nós. Para o autor, para mim, para o Marquinhos. O Marcos Paulo chegava em casa e tinha recados na secretária eletrônica dele. Era aquela época da secretária eletrônica, né? Recados desaforados, revoltados e agressivos dizendo: "Eu não acredito nesse casal, você beijando aquela mulher horrorosa".
Zezé relembrou um caso marcante:
— Teve um homem que foi horrível, eu fiquei chocada. Ele falou: "Se a Globo me obrigasse a beijar essa negra feia, eu lavaria a boca com água sanitária quando chegasse em casa". Umas coisas horríveis.
O racismo sofrido por Sônia por conta do relacionamento com um homem branco era um dos temas da novela. Por conta disso, a atriz de 78 anos disse que ficou surpresa com os ataques vindos dos espectadores.
— Mas tinha muita gente que torcia!
Zezé também recordou outros papéis que fez ao longo da carreira. Ao comentar sobre A Próxima Vítima (1995), ela disse que a trama foi importante por mostrar personagens negras que não apenas serviam os personagens brancos.
— Teve uma época em que os personagens negros não tinham família. Não tinham pais, não tinham mães, não tinham filhos. Sempre eram serviçais de uma família branca e tal. E, de repente, eu era uma dona de casa, trabalhava fora, tinha marido e dois filhos. Antonio Pitanga era meu marido, Camila (Pitanga) era minha filha... Foi muito incrível. A realização de um sonho. Me senti vencedora de uma luta. Que é essa, a luta que continua: por espaço.