Pela primeira vez, duas novelas das nove estarão no ar ao mesmo tempo: Travessia, na TV aberta, e, a partir desta quarta-feira (19), Todas as Flores, no Globoplay. A trama foi escrita especialmente para o streaming. Serão cinco capítulos liberados por semana e, assim, o público pode escolher a forma como prefere assistir: um por dia, maratonar, deixar acumular e degustar aos poucos, a escolha está ao alcance de um clique. Autor dessa história, João Emanuel Carneiro se mostra animado com a nova incursão audiovisual e garante que a novela terá sua marca registrada.
— Gosto de fazer cada capítulo como se fosse um filme, pensando no gancho final. Talvez por isso, eu me encaixe no lugar de autor de streaming. Cada capítulo para mim é um desafio. Trouxe um pouco dessa técnica de cinema para as novelas — conta o criador de sucessos como Avenida Brasil (2012) e A Favorita (2008).
Em oposição ao já conhecido formato de "obra aberta" — que vai sendo escrita e gravada aos poucos, o que propicia até algumas mudanças ao longo da história —, no streaming, a produção deve ficar disponível em sua totalidade para o público, que deve ter acesso à metade de Todas as Flores, cerca de 40 capítulos, até o final do ano. A segunda parte será liberada no primeiro semestre de 2023, totalizando 85 capítulos. A título de comparação, Pantanal teve 167 episódios.
— Estou muito feliz por esse desafio, que é fazer uma novela para o streaming, em formato um pouco menor, em que eu posso pensar até o final, o que é uma coisa diferente para mim — destaca o autor.
A história
O autor adianta que, inovações à parte, Todas as Flores não deixa de ser um folhetim clássico:
— É uma brincadeira com a história da gata borralheira.
A Cinderela moderna, no caso, é Maíra, vivida por Sophie Charlotte. Com deficiência visual, a jovem foi abandonada pela mãe ainda bebê e mora com o pai, Rivaldo (Chico Diaz), no interior de Goiás. Eis que, de repente, surge uma "mãe arrependida": no papel da megera Zoé está Regina Casé, estreante na riqueza e na vilania.
— Nunca fiz nem uma pessoa de classe média, quanto mais rica. Mas a Zoé merece um flashback a cada capítulo, porque vamos descobrindo coisas novas dela — conta Regina, sem entregar muito sobre o papel.
Dona Lourdes, a carismática personagem de Amor de Mãe (2019), saiu do ar há mais de um ano, mas certamente ainda está bem viva no coração do público. Mas se depender de Regina, este novo trabalho fará muita gente se esquecer da bondosa matriarca da trama anterior. Zoé passa longe das personagens anteriores de Regina, que tem no currículo uma série de tipos populares e carismáticos. Passa bem distante também da própria atriz, que até lamenta não poder circular pelos outros núcleos e rever velhos amigos.
— Estou sofrendo muito nessa novela. Puxei meu bonde todo: tem Douglas Silva, Mumuzinho, Xande de Pilares. Todo mundo lá, e não tenho uma cena, porque fiquei rica justo nessa novela (risos). Estou com muita raiva disso — brinca a atriz.
Malvadas
Apesar das maldades cometidas por sua personagem, Regina defende Zoé, a quem não considera uma vilã. E adianta que, aos poucos, a proximidade com Maíra conseguirá humanizar a megera.
— Ela não é uma personagem maquiavélica, que faz as coisas por vingança, ela encara aquilo quase como um trabalho — completa Regina, que "acusa" Vanessa, interpretada por Letícia Colin, de ser a grande malvada da história:
— Ouso dizer que a personagem da Letícia é bem pior do que eu. Eu falo várias vezes, "como você pode ser assim?"
Logo nos primeiros capítulos, Zoé decide resgatar o contato com Maíra por puro interesse. Sua outra filha, Vanessa, está com leucemia e a doação de medula da irmã é sua última esperança. Apesar de ser salva por Maíra, a vilã não mudará nem um pouco seu comportamento.
— Eu estou amando fazer vilã. Primeiro, eu tive muita dificuldade de dizer as atrocidades que a Vanessa diz. Ela é o contrário de tudo que eu acredito no mundo, ela é muito egoísta — revela Letícia que, ao contrário de Regina, não tenta justificar as maldades de sua personagem:
— Sou a favor de que ela seja punida, porque beira à psicopatia e é muito perigosa.
Além de invejar a irmã, Vanessa terá ainda mais motivos para ver em Maíra sua rival. A mocinha se apaixona por Rafael (Humberto Carrão), então noivo de Vanessa. A pilantra tem uma relação por interesse, já que o rapaz é filho de Humberto (Fabio Assunção) e herdeiro da empresa Rhodes.
Ninho de cobras
Sem saber, Maíra entra em um verdadeiro ninho de cobras. Para Sophie, interpretar uma moça cega é mais do que um desafio profissional: é uma profunda mudança pessoal.
— Maíra e a vivência desta novela têm sido uma transformação imensa na minha vida. Ter oportunidade de entrar em contato com pessoas com deficiência visual no dia a dia tem sido uma transformação. Tudo isso me marcou, é um divisor na minha vida — ressalta Sophie.