Assistir a Suspicion, série que estreia na Apple TV+ nesta sexta-feira (4), pode remeter à brincadeira de detetive. Ou, quem sabe, a jogar Among Us — game online que foi sensação em 2020. Ambas as experiências consistem em um grupo de pessoas em que uma delas é uma impostora ou assassina e o objetivo é descobrir quem está logrando os outros. A graça dessas dinâmicas é a jornada para descobrir quem é o culpado, que, por sua vez, desdobra-se mirabolantemente para mentir. Há troca de acusações, confusão e a sensação de que não se pode confiar em ninguém. Mais ou menos como o eixo central da narrativa da série.
Com direção de Chris Long (The Americans e O Mentalista) e Stefan Schwartz (The Boys, Luther e também The Americans), Suspicion tem oito episódios — sendo dois capítulos lançados na estreia — e é uma adaptação da série israelense False Flag. Tudo começa com um sequestro: o jovem Leo Newman (Gerran Howell) é raptado em um hotel de Nova York por sequestradores que usavam máscaras de membros da família real britânica. Ele é filho de uma poderosa empresária da área de relações públicas, Katherine Newman (Uma Thurman), que está na iminência de ser eleita embaixadora dos Estados Unidos no Reino Unido.
A captura de Leo é gravada pelas câmeras de segurança do hotel e, imediatamente, é divulgada na internet, tornando-se um viral instantâneo. Cinco britânicos que estavam no hotel na mesma noite se tornam os principais suspeitos: Aadesh Chopra (Kunal Nayyar, o eterno Raj de The Big Bang Theory), Natalie Thompson (Georgina Campbell), Tara McAllister (Elizabeth Henstridge), Sean Tilson (Elyse Gabel) e Eddie Walker (Tom Rhys Harries). Os sequestradores fazem apenas uma exigência: que Katherine conte a verdade. Só não especificam qual verdade.
Cria-se uma força-tarefa transatlântica, encabeçada pelos investigadores Scott Anderson (Noah Emmerich, que volta a interpretar um agente do FBI assim como fazia em The Americans), pela parte americana, e Vanessa Okoye (Angel Coulby), representando o lado britânico. Se Vanessa é pragmática e cerebral em seus procedimentos, Scott usa e abusa de táticas para desestabilizar os investigados.
Entre os suspeitos, cada um tinha uma motivação diferente para estar em Nova York na noite do sequestro. Aadesh é um hacker que alega ter cruzado o oceano para uma entrevista de emprego visando trabalhar na empresa de Katherine. Natalie é uma noiva que teria ido até a cidade para sua despedida de solteira, acompanhada da mãe e da irmã. Tara é uma professora divorciada com uma filha de 11 anos, cujo marido tem a guarda da criança. Ela viajou até os Estados Unidos para participar de um evento, em que precisou discursar sobre as doações da empresa de Katherine para a universidade onde trabalha.
Também há o estudante Eddie Walker, que estava de farra na cidade. Despojado e arrogante, ele parece um tanto perdido entre o grupo. Por fim, há Sean Tilson, quem o espectador pode imaginar que seja culpado logo de cara. Ele é um mercenário sem amarras para assassinar quem esteja em seu caminho. Fugitivo da polícia, o personagem é quem protagoniza as principais cenas de ação da série, em coreografias contundentes. Só que suas atitudes têm motivações nebulosas — nunca se sabe qual será o próximo passo de Tilson.
Suspicion é um thriller intrigante calcado em personagens ambíguos: todos parecem ter culpa no cartório. Há uma recorrente sensação de que ninguém é inocente: os suspeitos apresentam comportamentos estranhos e ações incriminatórias ao longo dos episódios. A narrativa distribui reviravoltas e a audiência pode se pegar mudando de opinião toda hora sobre quem teve envolvimento com o sequestro ou quem apenas estava no lugar errado na hora errada.
Talvez a série patine na conclusão de quem orquestrou o sequestro, indo para um caminho que qualquer espectador versado em Scooby-Doo! possa suspeitar desde o início. De qualquer maneira, trata-se de uma clássica história de mistério, que se fosse uma partida de detetive, todos os participantes poderiam ser apontados como assassinos.