Assim como o homem que inspirou seu nome, Crystom Rodrigues nasceu para ser líder. O jovem de 21 anos não quer ser exemplo e, sim, inspiração, conforme declara em Falas Negras, especial que vai ao ar neste sábado (20), após Um Lugar ao Sol, na RBS TV. No Dia da Consciência Negra, a Globo produziu, pelo segundo ano seguido, um programa alusivo à data com depoimentos de cinco pessoas dos quatro cantos do país que carregam na pele o impacto do racismo e a luta por uma sociedade mais igualitária.
No caso de Rodrigues, a batalha é enfrentada com seu celular em mãos. Morador do Morro da Cruz, em Porto Alegre, ele criou uma produtora audiovisual em 2019 com a proposta de divulgar artistas negros da periferia da Capital e da Região Metropolitana. Os mais de cem clipes já registrados enaltecendo diferentes expressões artísticas — da poesia ao funk — são produzidos com a ajuda de seu aparelho celular, incluindo a gravação e a edição.
O projeto, financiado por recursos próprios de seu trabalho como motoboy em meio turno, é inspirado nas trajetórias dos rappers norte-americanos The Notorious B.I.G. e Tupac Shakur.
— Eu sentia falta de emoção em certas partes da música e do audiovisual aqui no morro, então comecei a produzir artistas para começar uma revolução, que nem eles fizeram por lá — diz Rodrigues.
Filho de mãe solo, o jovem que teve o nome inspirado em Jesus Cristo sempre estudou em escola pública e se formou como técnico em Segurança do Trabalho. Não quis entrar para a faculdade: prefere investir no sonho como produtor, enquanto estuda música, cinema e história da humanidade por conta própria.
O perfil do gaúcho se cruza com o de outro entrevistado de Falas Negras, o baiano Geomar Rabelo. Concursado da prefeitura de São Vicente (SP), o pedreiro é missionário evangélico e prega sobre a igualdade das pessoas, inspirado por Martin Luther King Jr.
A intenção de transformar a sociedade também está no DNA dos outros retratados. A professora Ana Fernandes dá aulas na pequena Vila Bela da Santíssima Trindade (a 540 quilômetros da capital do Mato Grosso, Cuiabá), enquanto a estudante de gastronomia Negralinda comanda um bistrô comunitário em Ilha de Deus, no Recife (PE). O programa ainda conta a história da carioca Fátima Oladejo, uma ginecologista que fez carreira na Marinha e hoje se dedica a atender principalmente mulheres negras em seu consultório. Em comum, todos desejam um futuro sem julgamento por cores.
— Temos políticos que vêm mudando isso aos poucos, mas precisamos fazer o nosso. Com meu trabalho, acho que consigo botar um pingo de esperança para a geração que vem aí — aposta Rodrigues.