Novembro é mês de estreias na Globo. Já que a pandemia subverteu a ordem de tantas coisas, o final de ano, desta vez, tem clima de estreia e recomeço. O penúltimo mês de 2021 traz duas novelas inéditas, às 19h e às 21h. Pela primeira vez em quase dois anos, o público terá à disposição três tramas novinhas em folha: um respiro de esperança em meio ao caos que vivemos há tantos meses.
O horário nobre será repleto de frescor e novidade. Lícia Manzo, depois das bem-sucedidas A Vida da Gente (2011) e Sete Vidas (2015), às 18h, escreve sua primeira trama para as nove da noite. Um Lugar ao Sol (RBS TV, 21h30min), que estreia nesta segunda-feira, inova também no formato. Totalmente gravada e editada antes de ir ao ar, vai na contramão da chamada "obra aberta" tradicional.
Relações de afeto profundo, reviravoltas, decisões impactantes e algumas polêmicas. Tudo isso e muito mais permeou o bate-papo do elenco com a imprensa, na coletiva de apresentação da novela. Em uma coisa todos eles concordam: é muito bom ver essa retomada de histórias inéditas na telinha.
"Se fosse possível trocar sua vida, carente e desvalida, pela de outra pessoa, rica e privilegiada – o que você faria? Se para você as portas estivessem todas fechadas e subitamente uma se abrisse, sob a única condição de deixar sua identidade para trás – você iria adiante?". Esse é o questionamento – quase uma provocação – da autora Lícia Manzo no texto de apresentação de sua nova novela, Um Lugar ao Sol. O fio condutor da história surgiu a partir de um documentário assistido pela autora anos atrás, que contava como é difícil para jovens órfãos, criados em abrigos, começar uma vida fora das instituições, ao completarem 18 anos. É o drama de Christian (Cauã Reymond), que ainda bebê foi preterido por uma família rica, que optou por adotar apenas seu irmão gêmeo. Ambos crescem sem saber da existência um do outro, mas se cruzam em um momento crucial, quando a grande reviravolta da novela acontece.
Christian toma o lugar do gêmeo, Renato, cuja existência até então era desconhecida. Deslumbrado pela chance de viver uma vida de luxo na alta sociedade, o jovem humilde dá início a uma farsa repleta de renúncias e sofrimento. Na vida que fica para trás está a batalhadora Lara (Andréia Horta), que fica desesperada com a suposta morte de seu grande amor. Mas é na força de juntar os pedaços e se refazer da perda que reside o grande mérito da personagem, como destaca sua intérprete:
– A Lara fica despedaçada. Ela é uma mulher corajosa, que quer vivenciar o amor e isso é brutalmente interrompido. Ela leva tempo para se levantar e depois se dar uma chance de se reconstruir – conta Andréia.
Logo depois de sair do ar como a mimada Maria Clara na reprise de Império (2014), cujo último capítulo foi exibido na sexta-feira, a atriz ressalta que a nova personagem é o oposto da filha do Comendador.
– A Lara é uma mulher simples, naturalmente bonita. Todos os detalhes dela me encantam. Estou torcendo para que o público goste.
Aprendizado
Dar vida a gêmeos na ficção não é novidade para Cauã Reymond. Mas, ao contrário da minissérie Dois Irmãos (2017), quando viveu Yaqub e Omar, a relação entre seus dois personagens terá poucas cenas. O que dá continuidade à história é a decisão radical de Christian ao se apossar de uma vida que não é sua. Mergulhado na carga dramática que a história exige, o ator tentou compreender ao máximo cada atitude.
– O Christian é um anti-herói que faz coisas que me deixam perplexo e, em outros momentos, me faziam sentir compaixão. Ele me fez questionar até onde eu iria e até onde eu não me perderia. Amadureci muito como indivíduo – garante Cauã.
"É uma das melhores personagens que já fiz"
Ao assumir a vida do gêmeo, Renato, Christian conhece Bárbara (Alinne Moraes), noiva do rapaz. Apesar das atitudes questionáveis, não chega a ser uma vilã. É humana, como todas os tipos criados por Lícia Manzo. A atriz garante que o público ficará dividido.
– As pessoas vão julgá-la por cometer muitos erros, mas também vão se identificar. Pela intensidade do que pude viver na pele dela, posso dizer que é uma das melhores personagens que já fiz – garante Alinne.
Insegura e com uma história familiar problemática, Bárbara tem muitas nuances a serem exploradas, celebra a intérprete:
– É um papel muito complexo. Quando você acha que ela está evoluindo, ela tropeça de novo. Mas é, ao mesmo tempo, uma personagem frágil, humana e muito delicada.