Treze anos após deixar Heroes, o ator Leonard Roberts publicou um texto em primeira pessoa na revista Variety relatando episódios de racismo e desrespeito nos bastidores da série. O artista, que interpretou D.L. Hawkins na trama, também acusou Ali Larter, ex-colega de elenco, de ter provocado sua demissão do seriado.
Conforme Roberts, ele resolveu contar sua experiência agora em função de sentimentos de "raiva, medo e vergonha relacionados ao seu passado profissional" que surgiram com os protestos do movimento Black Lives Matter. "Agora, acredito que (esse passado) merece reflexão e divulgação pública", afirmou.
Ele diz que, logo no início da produção, os roteiros eram constantemente modificados para adiar sua estreia, que inicialmente estava prevista para o piloto, mas foi se concretizar apenas no sexto episódio. Além disso, afirma que as tentativas de conversar com os roteiristas sempre foram frustradas e que, diferentemente do que ocorreu com os outros atores do elenco, ele nunca foi procurado pelo criador Tim Kring para conversar sobre seu personagem.
"Eu descobri que, apesar de ter três atores principais negros, não havia nenhum roteirista negro na equipe de Heroes. Depois, tivemos um photoshoot promocional, no qual todos os atores principais negros adultos foram relegados para a parte de trás e as laterais da foto - eles disseram que nós éramos 'altos'", escreveu.
Em outro momento, Roberts narra situações em que foi tratado com desprezo por Ali Larter, que vivia Niki Sanders, a esposa de seu personagem. "Eu sou um ator do teatro, então estou acostumado com os intérpretes se tornando um pouco passionais no processo. Por isso, após as primeiras tensões entre nós, enviei uma garrafa de vinho a Ali com um bilhete, afirmando o comprometimento com uma colaboração frutífera. Ela nunca me respondeu ou mencionou isso para mim".
Em seguida, falou sobre problemas específicos enfrentados nas gravações com Larter. "Durante uma cena no quarto, ela se ressentiu com o nível de intimidade sugerido entre nossos personagens (...) e disse que nunca havia sido tão desrespeitada". Segundo ele, o diretor do episódio havia pedido que a atriz abaixasse as alças da blusa para passar a impressão de que ela estava nua por baixo das cobertas, mas ela recusou.
Roberts contou que descobriu, pouco depois, que ela havia tido outro comportamento quando precisou gravar uma cena sensual com um ator branco, Adrian Pasdar. "Não pude deixar de pensar: será que minha cor foi um fator na recusa dela?", indagou no texto.
Sobre sua demissão, ele contou que o criador da série mencionou a falta de química com Larter ao explicar a decisão, enquanto um produtor tentou tranquilizá-lo dizendo que "ele era amado por todos no set, enquanto ela era odiada".
Ao TVLine, Larter respondeu aos relatos do ex-colega de elenco afirmando que se sente "profundamente triste" ao tomar conhecimento da experiência do ator na série. "Estou de coração quebrado ao ler sobre a percepção que ele tinha do nosso relacionamento, que não combina com a minha memória, ou a minha experiência, da série. (...) Peço desculpas pelo papel que posso ter desempenhado na experiência dolorosa dele naquela época, e desejo a ele e sua família tudo de melhor."
Já Kring disse que reunir um elenco diverso sempre foi uma prioridade para ele em Heroes, mas reconheceu que errou ao não incluir roteiristas e outros profissionais negros pro trás das câmeras.
Roberts terminou o seu artigo falando das sequelas deixadas pela experiência no seriado. Ele conta que internalizou sentimentos de raiva e derrota e que ficou "exausto" da profissão por saber que poderia ter o mesmo tipo de problema em outro trabalho. Também disse que se afastou de muitas pessoas por acreditar que era "um fracassado, que tudo podia ter sido diferente se eu fosse um ator ou uma pessoa melhor. Minha voz e minha luz foram enfraquecidas".