Walter Breda, 71 anos, e Neusa Borges, 79, são aqueles atores com longa estrada pelo teatro, pelo cinema e pela TV. Mesmo com grandes produções em décadas de carreira, os dois encararam um novo e inédito desafio em Auto Posto, série de comédia nacional que estreia nesta terça-feira (9), às 22h, no canal de TV paga Comedy Central. Breda ocupará a posição de protagonista de um seriado pela primeira vez. Já Neusa fará sua primeira produção exclusiva para a televisão por assinatura.
Os dois atores são conhecidos por papéis, juntos ou individualmente, em diversas novelas e trabalhos na Globo, mesmo que em tramas secundárias. Em Salve Jorge (2012), novela de Glória Perez, a dupla ganhou a simpatia do público ao interpretar o dono de bar Clóvis e a ciumenta Diva, casal que deu um show à parte na trama. Na TV, a dupla também se esbarrou em América (2005).
— É um casamento profissional — disse Neusa Borges, em entrevista por telefone a GaúchaZH, onde revelou que tomou como hábito chamar Breda de “marido”.
— Nos conhecemos em 1972, em uma peça de teatro e inclusive viajamos para Porto Alegre. Depois nos encontramos em trabalhos no cinema e depois na TV. Nossa relação é muito boa, seja pessoal ou profissional — disse Walter Breda, também por telefone.
Antes casal, os dois passam agora a conviver como patrão e funcionária. Nelson, personagem de Breda, é ex-cantor de música brega e dono de um posto de gasolina e serviços automotivos. Seu negócio, que já não estava muito bem, é ameaçado à falência quando um outro posto, mais moderno, se instala em frente ao seu estabelecimento. As tentativas e trapalhadas para superar a crise darão o tom cômico para Auto Posto.
— Eu faço o papel-título, que é o Nelson, mas eu acho que o papel principal da série é o posto de gasolina, a vida que acontece no entorno do posto de gasolina. Qualquer funcionário e qualquer personagem, se observado com mais cuidado, pode ser o principal — explicou Breda.
Entre os funcionários, estão lavadores de carros, caixas, o segurança e o borracheiro. Cada um possui suas próprias características e jeitos de lidar com a crise no emprego. E, claro, há o núcleo dos frentistas, comandado por Bernadete, personagem de Neusa que promete diversos conflitos com o patrão.
— O meu personagem não é um estrondo, mas foi uma coisa muito gratificante. Eu faço meus personagens aparecerem, mesmo não tendo nada. A Bernadete vai aparecer. Mas é uma velha ranzinza — contou, entre risos.
No elenco, também estão nomes como Paulo Tiefenthaler, Micheli Machado, Robson Nunes e Nill Marcondes. Haverá participações especiais de Rita Cadillac, Felipe Torres e Adriano Silva (da dupla Hermes e Renato).
Semelhanças com a realidade
Auto Posto celebra o fato de poder mostrar um nicho brasileiro, mas conversa muito com a realidade do coronavírus. A série, gravada antes da pandemia, não toca no tema, mas é semelhante ao retratar como um negócio e as pessoas que dependem dele se comportam em uma situação de crise. Além de também falar de um problema de saúde em um dos episódios:
— Tem um episódio da série que há uma contaminação, uma infestação de ratos no posto. E aí as pessoas têm que usar máscaras por conta da questão sanitária. Coincidiu com o atual momento. Foi uma premonição da situação atual — revelou Breda, em um pequeno spoiler.
Talento das novelas
Apesar de lamentar que não tenha tido mais oportunidades em novelas nos últimos anos – na Globo, sua última foi Boogie Oogie (2014) -, Neusa celebra o fato de ainda ser lembrada com carinho pelos seus personagens. Um deles, inclusive, pode ser revisto agora, também na TV paga, com a reprise de O Clone (2001) no canal Viva. Na trama, ela viveu a Dalva, responsável pela criação dos gêmeos Lucas e Diogo (Murilo Benício).
— Eu estava mostrando para meu neto, esses dias, eu falando em russo e em japonês, já que a novela foi vendida para vários países. O pessoal me manda as cenas com a dublagem e eu dou muita risada — contou.
Moradora de Salvador (BA) e natural de Florianópolis (SC), a atriz afirma que tenta encarar com alegria o isolamento social, mesmo se considerando uma “pessoa da rua”. Para passar o tempo, faz palavras cruzadas e toma uns copinhos de cerveja "estupidamente gelada", como ela mesmo disse.
— Eu estou muito feliz com o trabalho, de fazer com 79 anos de idade trabalhando. Eu me sinto uma negra bonita, sei do meu valor, seu o quanto sofri para chegar onde estou hoje. Mesmo não chegando em lugar nenhum (risos) — resumiu, de forma modesta.