Chegadas e Partidas retorna com uma nova temporada nesta quarta-feira (15) e com uma missão especial: relembrar a vida nos aeroportos brasileiros antes da pandemia de coronavírus. Gravado no ano passado, o programa apresentado por Astrid Fontenelle circulou por terminais para ouvir histórias e captar emoções dos viajantes — locais que hoje, praticamente vazios, não lembram ser um espaço caloroso de encontros e despedidas.
No ar com a atração desde 2011 no canal por assinatura GNT, Astrid comemora que o Chegadas (como carinhosamente chama a série) esteja chegando na 10ª temporada. Durante meia hora, em conversa exclusiva por telefone com GaúchaZH, a apresentadora e jornalista contou o segredo da atração.
— Eu vou inteira, disposta, no tempo que for necessário, para ouvir as pessoas. As pessoas no aeroporto ficam surpresas com minha disponibilidade. Eu olho, presto atenção. Quem vê, se sente respeitado e respeita isso — diz Astrid.
Astrid capta as histórias com um "olho clínico", que enxerga de longe o que determinada pessoa tem para relatar no aeroporto. A equipe do programa é praticamente invisível nas gravações: a apresentadora não usa microfone nas mãos e a maioria das imagens é captada de longe, justamente para deixar os protagonistas à vontade.
— O único "defeito" do programa, que algumas pessoas me dizem, é que ele é tarde e elas vão dormir chorando, acordam com o olho inchado. Já ouvi isso da Ivete Sangalo — revela Astrid, rindo.
E se preparem para chorar muito nos novos episódios. Com pequenos spoilers, Astrid revelou que essa temporada é baseada em histórias de brasileiros que voltaram desiludidos após tentar a vida no Exterior.
— Teve gente que foi para Portugal achando que ia encontrar o paraíso, mas não encontrou. Temos histórias de brasileiros deportados, que voltaram com a roupa de presidiário no corpo, com tênis sem cadarço, sem dinheiro no bolso — antecipa.
O Brasil passa pelo programa
— Tudo mudou, mas nada mudou.
Foi assim a resposta de Astrid ao ser questionada se o formato do Chegadas e Partidas mudou ao longo de 10 temporadas. Observando a circulação de pessoas nas áreas de embarque e desembarque, Astrid obedecendo a um padrão: ouvir e acompanhar as histórias.
Porém, ao mesmo tempo, seus olhos seguiram um movimento de mudança socioeconômica do brasileiro, que transitou pelos terminais com rostos e objetivos diferentes. Mesmo que o jeito de fazer e conduzir a série não tenha mudado, as pessoas se transformaram e, de uma certa forma, foram responsáveis por modificar o programa todos os anos.
—Eu tenho vontade de pegar todos os episódios e fazer um documentário sobre esses 10 anos. Por exemplo, a gente passou por um momento que era o jovem indo embora, por conta do Ciência Sem Fronteiras (programa do Governo Federal de estímulo ao estudo no Exterior). Em outra temporada, era o brasileiro indo embora de saco cheio com o Brasil. Agora, nós temos gente voltando desiludida com essa ida — fala a apresentadora, empolgada.
Um futuro de incertezas
Se a nova temporada do Chegadas e Partidas nos fará relembrar um passado não muito distante e se o presente é de incertezas, Astrid é temerária ao dizer que o programa terá um futuro. Afinal, ela precisa estar em um aeroporto e ter contato com as pessoas.
— Eu sei que nossa vida não será mais como antes, mas não sei nem se vai ser possível fazer esse programa. Será que as pessoas vão se aproximar? Será que a gente vai poder andar sem máscara? Será que vou ter coragem de gravar sem máscara? — destaca a apresentadora, considerada do grupo de risco do coronavírus por ter sido diagnosticada com lúpus em 2012.
Para estar próxima do público quando os episódios inéditos forem ao ar, Astrid usará a ferramenta que une as pessoas em tempos de isolamento:
— Vai ser muito importante estar colada nas redes sociais escrevendo sobre isso, conversando com as pessoas sobre esse mundo em que a gente não vive mais. Aquele mundo ali não é mais o mundo de hoje, a gente está vivendo um luto daquele mundo. Ave Maria, se eu já chorava vendo, agora vai ser um horror.