Com jeito turrão, às vezes impaciente, Babu Santana criou desafetos na casa do Big Brother Brasil 20. O ator de 40 anos é alvo de constantes críticas de participantes como Marcela, Daniel, Ivy e Gizelly – tidos como o "bloco hegemônico" ou a "comunidade hippie" –, o que o tornou um alvo fácil para ser colocado no paredão.
Embora perseguido por aqueles que antes eram favoritos, ele já voltou de quatro votações populares e se fortalece cada vez mais na disputa pelo prêmio de R$ 1,5 milhão.
No paredão da última terça-feira (17), Babu superou o forte Pyong (uma potência no sentido de contar com uma estrutura de marketing e fãs dedicados a seu favor, o que levantou nas redes sociais a suspeita do uso robôs para votar) em um acirrado paredão. Apoiando o ator na berlinda estavam celebridades, jogadores de futebol e uma mobilização forte entre influenciadores digitais.
Mas como um dos participantes mais rejeitados da casa tem grande aclamação do lado de fora? A seguir, confira a construção da "Babumania".
Necessidade
Com dezenas de trabalhos no currículo – como os filmes Tim Maia (2014) e Estômago (2007), além de séries como Carcereiros e Os Suburbanos –, o ator vive a dura realidade da classe, que muitas vezes não tem trabalhos fixos. Babu acumulou dívidas, incluindo a do aluguel. Como relata reportagem do jornal Extra, ele vive em uma casa simples na Ilha da Gigóia, na Zona Oeste do Rio, com sua namorada, um amigo e um de seus três filhos.
Babu já declarou que uma parte do prêmio de R$ 1,5 milhão será destinado para quintar suas dívidas, além de investir no futuro de seus filhos. Em sua apresentação ao site Gshow antes de entrar no programa, ele destacou que sua motivação é a premiação, não a fama. "Estou integralmente buscando esse prêmio no sentido financeiro. Tenho mil projetos que posso alavancar", afirmou.
Essas questões financeiras passam pelos seus discursos de defesa quando é indicado ao paredão. Na formação da berlinda no último domingo (15), ele fez uma paródia da música Tudo Ok, de Thiaguinho MT, sobre sua situação:
— Dívidas, ok. Desempregado, ok. Três filhos para criar, ok. Então, deixa o Babu ficar pro desespero dos BBBs.
Deslocamento e perseguição
É celebre um vídeo em que Pyong deseja "bom dia" a Babu, que responde com um nada delicado "bom dia é o c###lho!". Com um temperamento mais "esquentado", o ator já brigou por bolacha, arroz e feijão na casa, além de dar broncas pela falta de limpeza.
Somado a uma entonação mais forte ao se expressar, embora sincera e inofensiva, o jeito ranzinza do brother o afastou de outros participantes. Marcela e Ivy já afirmaram sentir medo de falar com Babu.
No entanto, essa exclusão costuma se enveredar para a perseguição. Ele é constantemente depreciado pelo "bloco hegemônico". Muitas vezes, esses comentários são tachados de elitistas ou preconceituosos na web. Um desses deboches que repercutiu no Twitter foi o de Gizelly. Em uma conversa com Marcela e Daniel, a advogada ironizou o discurso do último domingo de Babu:
— Coitadinho do papai, papai tem dívidas.
Imediatamente, ela foi repreendida por Daniel. Após a saída de Pyong, Gizelly voltou a desdenhar da fala de Babu, dizendo que ela deveria contar sua história para todo mundo ter "compaixão" dela também. A advogada já declarou que "os filhos do Babu devem sofrer com ele". Além disso, ninguém do "bloco hegemônico" pareceu acreditar que o ator permaneceu na casa por méritos próprios, tanto que passaram dois dias achando que foi um paredão falso e que Pyong, sebastianisticamente, iria retornar.
— O que o Babu faz aqui nessa casa além de arrumar confusão? — questionou Gizelly na tarde da última quarta-feira (18).
Outro episódio bastante criticado nas redes sociais foi quando Ivy riu do pente garfo de Babu. Gargalhando, ela questionou Gizelly e Pyong sobre "quem que penteia o cabelo com um trem desses?". O comentário da sister foi apontado como racista e alguns usuários do Twitter pediram a expulsão da participante. Houve também um momento em que Ivy e Marcela riram da forma física de Babu enquanto ele dormia.
Em conversa com Manu, Thelma e Gabi, na última quarta-feira, a influenciadora digital Rafa atestou que "as meninas" (Ivy, Gizelly e Marcela) não falam com Babu.
— Ele fala que as pessoas viram a cara, mudam de assunto na cara dele, às vezes saem andando e o deixam falando sozinho. Tem que ter o mínimo de respeito —disse Rafa.
Mais de uma vez, Babu relatou o desprezo que sente com o olhar de Marcela.
— Vou te falar uma coisa, é um ranço abstrato, é o jeito de olhar, eu já recebi muito aqueles olhares. Marcela me olha igual a minha patroa que um dia eu pedi para ela sair, e ela me falou um monte de merda. Ela me olha igual — descreveu em conversa com Felipe Prior.
No começo de março, a médica brincou que, se fosse líder, traria Babu para o vip para ele "arrumar a cozinha todo dia". No mesmo dia, a expressão "BABU NÃO É ESCRAVO" estava entre os assuntos mais comentados no Twitter.
Isolado e perseguido, Babu conquistou a empatia de parte do público e a defesa de influenciadores digitais ligados a questões antirracistas. Na casa, ele só tem uma relação sólida de amizade.
Ter um amigo, na vida é tão bom ter amigos
Isolados na casa e na adversidade da xepa, coube a Babu e Prior abraçar a causa um do outro. Esse abraço metafórico se repete fisicamente com muita emoção toda a vez que um deles volta da berlinda ou assume a liderança. É uma das cenas mais celebradas entre os fãs dos dois participantes.
É uma relação em que um protege o outro no jogo. Prior já declarou que votar em Babu é votar nele. Também há um senso paternal do ator em relação ao arquiteto de 27 anos: Babu dá conselhos e distribui puxões de orelha quando necessário.
Denominada "Pribu", a amizade conquistou o público pelas conversas sinceras, por suas danças nas festas e momentos cômicos. Eles já foram comparados a duplas como Timão e Pumba ou Drake e Josh. Em um dos momentos mais divertidos do BBB 20, e talvez de todas as edições do reality show, Babu chamou a atenção de Prior, que mexia nas partes íntimas.
— Pô, para de ficar mexendo no peru aí, cara! O Brasil todo vendo você mexendo no peru aí. Estou conversando contigo e fica mexendo no peru — alertou.
Segurando uma garalhada, Prior destacou que estava ouvindo risos da produção do programa.
— Não estava mexendo, não. É que está grudando. Tinha uma fita na roupa (do quarto branco) — justificou Prior.
Nada delicado, Babu retrucou:
— Toma um banho, c###lho! Deve ter confete do carnaval no seu c* até agora!
Boleiros e artistas
Carismático ao seu modo, Babu ganhou a simpatia de colegas de profissão e atletas. Um dos torcedores mais fervorosos do ator é Gabriel Barbosa, popularmente chamado de Gabigol. O centroavante do Flamengo, inclusive, já comemorou gol imitando a dança de Babu.
Flamenguista, Babu chegou a se perguntar na casa se o jogador havia permanecido no time carioca. Por sua vez, Gabigol costuma manifestar, nas redes sociais, sua torcida pelo ator e também fez campanha durante o paredão contra Pyong.
Outros atletas do Flamengo também torcem para Babu, como o atacante Pedro e o meia uruguaio Arrascaeta.
Jogadores de outros clubes também entraram para a torcida. Casos de Rodrygo (Real Madrid), Igor Julião (Fluminense), Rodrigo Pimpão (CSA), Richarlison (Everton), Jean Pyerre (Grêmio), entre outros.
O boxe brasileiro também está com Babu. Ele já recebeu o apoio de Esquiva Falcão, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, e do lendário Maguila.
No mundo da música, Anitta se juntou à "babumania". Em publicação no Instagram do ator, ela comentou: "Gente, deixa eu cuidar do Instagram do Babu pelo amor de Deus. Cadê vocês pedindo para ele não sair no paredão. Ajuda a gente".
Também declararam apoio ao ator nomes do rap (Emicida, Rael e ConeCrewDiretoria) e do funk (Rennan da Penha e Dennis DJ).
No último paredão, Babu recebeu apoio de colegas de profissão como Ingrid Guimarães, Marina Ruy Barbosa, Fernanda Paes Leme, Heloisa Périssé, Paulinho Serra, Bruno Gagliasso, entre outros.
Controvérsias
Mais de uma vez, contudo, Babu foi "cancelado". Há falas do ator na casa que já foram condenadas pelo público. Em uma conversa com Manu e Felipe Prior, na qual se falava sobre o arquiteto nunca ter tido uma namorada, ele disse que o amigo poderia escolher uma pessoa para se relacionar no momento em que saísse do jogo.
— Agora que vai vir um cardápio, você vai escolher. Aí, quando você provar: (você vai falar) "É isso, é isso que eu quero para a minha vida" — disse o ator.
A hashtag #mulhernãoécardápio ficou entre os assuntos mais comentados na rede social naquele dia (11/03). No dia seguinte, em conversa com Prior durante a festa do líder, o ator fez uma declaração considerada homofóbica ao falar de Daniel. Em mais de uma oportunidade, ele também expressou vontade de agredir o participante gaúcho.
— É muito mais fácil eu ser o monstro, negão, cara de mal, e ele o príncipe loirinho de olho azul. Fico p**** com isso — desabafou Babu, que já foi apontado como "um monstro" por Ivy.
Em outra declaração machista, ele avaliou o seguinte sobre o episódio em que Bianca Andrade estava bêbada e pediu para Guilherme sair de perto, senão iria beijá-lo.
— Se alguém faz alguma coisa, aí a culpa é de quem fez? Porque teve uma hora que ela veio fazer dancinha sensual e eu até falei "para, para, para", e a gente nunca teve confiança um com o outro, sacou?
Consciência
Por outro lado, Babu tem consciência que ainda está em processo de desconstrução. No começo de fevereiro, ele conversou com Prior e Lucas para que ambos tivessem mais empatia com as sisters e entendessem o lugar de fala delas.
— Chegou a hora das mulheres terem voz. Então, quando a gente não entende um questionamento delas, algo que uma amiga minha me ensinou: cala a boca e escuta. Mesmo que você esteja contrariado, peça desculpa e vá refletir, porque é muito difícil sair da posição de privilégio. O feminismo nunca buscou a supremacia das mulheres, é igualdade — refletiu.
Ao conversar com Hadson, participante que tentou promover um "teste de fidelidade" na casa, Babu justificou seu afastamento da convivência com o ex-jogador, Lucas e Prior:
— Fui solidário à causa das meninas. Tenho duas filhas, sou oriundo de uma família de matriarcas. Fui solidário.
De qualquer maneira, Babu constantemente fala sobre as opressões sociais que vive, como o racismo. Nascido na comunidade do Vidigal, no Rio, é o único participante negro e periférico do programa — o que se refletiu em seu discurso do sétimo paredão:
— Da onde eu venho, boa convivência vem de três palavras mágicas: por favor, com licença e obrigado. Onde ações como sujou, limpou. Abriu, fecha. Para mim isso é o começo de uma boa convivência, mas eu acho que aqui não faz muita diferença e tudo bem. São 40 anos contrariando estatísticas, me ajude a contrariar mais uma: quero ser o primeiro homem negro a ganhar o Big Brother.