A Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, entidade católica com sede no Rio de Janeiro, conseguiu na Justiça nesta quarta-feira (8) uma decisão favorável que determinou que o Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo, veiculado pela Netflix, seja retirado do ar. Essa, porém, não é a primeira vez que a associação processa o grupo humorístico.
A entidade católica já entrou com pelo menos três ações na Justiça do Rio de Janeiro pedindo indenizações por dano moral e a retirada de vídeos do Porta dos Fundos do YouTube, em que o grupo possui um canal com mais de 16 milhões de inscritos. As esquetes promovem uma sátira à Igreja Católica e trazem personagens como Jesus e Deus. Em todos os casos, a entidade perdeu os pedidos de tutela de urgência e teve as decisões indeferidas.
Em 2017, o objeto da polêmica foi o vídeo Céu Católico, publicado em outubro de 2016, que ironiza os Dez Mandamentos da Igreja Católica. A esquete de quatro minutos mostra Deus designando que Adolf Hitler receba e apresente o Céu a um homem que acaba de morrer. A entidade católica pediu R$ 5 milhões em indenização — na época, o equivalente a R$ 1 por visualização.
Em janeiro de 2018, o Centro Dom Bosco entendeu que o vídeo intitulado Ele Está no Meio de Nós, publicado em 11 de novembro de 2017 no YouTube, feria o sentimento religioso e os fiéis. Na nova ação, além de pedir a exclusão da esquete do site, a entidade novamente solicitou uma indenização de R$ 1 por visualização.
Cinco meses depois, a associação entrou com uma nova ação no TJ do Rio devido à esquete O Corpo de Cristo, publicada em 31 de maio de 2018, também solicitando indenização por dano moral.
Quem é o Centro Dom Bosco
O Centro Dom Bosco foi fundado em setembro de 2016 e hoje atua na edição e publicação de livros e oferece estudos sobre o catolicismo. De acordo com o site oficial, "todas as atividades do Centro Dom Bosco partem do princípio — consignado de maneira sublime por Santo Tomás, na longínqua Idade Média — de que fé e razão não se contradizem, mas se complementam".
Após receber a primeira decisão favorável da Justiça, relacionado ao especial de Natal do Porta dos Fundos para a Netflix, o presidente da entidade, Pedro Affonseca, se manifestou em um vídeo, publicado no YouTube, defendendo que Deus não pode ser objeto de piadas, segundo a visão da associação.
— Não se trata simplesmente de uma defesa dos fiéis, é uma defesa simplesmente daqueles que creem em nosso senhor Jesus Cristo, dos fiéis católicos. É uma defesa da fé, uma defesa de Deus. Alguns até argumentam: Deus não precisa de ninguém que o defenda. Isso é evidente, Deus é inatingível. Mas Deus deve ser adorado, deve ser amado, ele não pode ser ofendido, não pode ser objeto de piadas, não pode ser transformado em um homossexual. É ridículo, é pueril — argumentou Affonseca, no vídeo.