Apesar de ser a série mais longeva da televisão, completando 30 anos nesta terça-feira (17), em sua 31ª temporada, Os Simpsons já não tem mais a expressividade de outrora. Se em 1990 a atração da Fox era vista por 33,6 milhões de pessoas nos EUA, quando exibiu Bart Gets an F (no Brasil, A Prova Final), episódio da segunda temporada que foi o mais assistido em suas três décadas, em 2019 a sitcom animada obteve sua pior audiência: em maio, o capítulo Woo-Hoo Dunnit?, da 30ª temporada, foi visto por 1,44 milhão de pessoas, marcando apenas 0,5 ponto de audiência entre adultos de 18 a 49 anos, de acordo com a publicação The Hollywood Reporter. Em sua atual temporada, os números não são animadores, chegando ao máximo nos 5,6 milhões de espectadores (episódio Go Big or Go Homer).
Se em um momento Os Simpsons foram apontados como o melhor programa de TV do século 20, o que teria acontecido para tal declínio e, consequentemente, desinteresse do público? Segundo um site de fãs intitulado Dead Homer Society, a série passou a ficar conhecida como "Zombie Simpsons" a partir da 12ª temporada. "Não tem pulso nem inteligência, mas simplesmente não morre", descreve um manifesto do site.
Foi na nona temporada que um episódio desapontou muitos fãs e serviu como um alerta para os anos vindouros. Em O Diretor e o Soldado, descobre-se que o diretor da escola de Springfield, Seymour Skinner, era um impostor. Conhecida até então por manusear brilhantemente seus personagens secundários, desenvolvendo carinhosamente seus estofos, a série ignorou toda a construção de Skinner até ali.
Zumbi
Naquele momento, a série já estava sem a equipe de roteiristas de seus anos dourados (o que inclui o comediante e apresentador Conan O'Brien) e um dos produtores executivos que ajudaram a moldá-la, Sam Simon, já havia deixado o time. Os Simpsons se consagrou como uma série ferina ao satirizar nuanças da sociedade e representar comicamente o estilo de vida do americano de classe média.
As piadas, mesmo as mais pastelonas, continham uma mecânica precisa e elaborada no roteiro. As atitudes dos personagens faziam sentido dentro daquilo que se propunham. Entretanto, o que se viu na "fase zumbi" foi outra coisa.
Conforme os anos avançam em uma série de TV, é natural que haja evolução ou atualização nos personagens. Porém, em Os Simpsons, eles se tornaram menos consistentes. Divertido, preguiçoso e bonachão, Homer, o pai de família imperfeito, transformou-se em um sociopata cartunesco e irritante, sempre movido por motivos nonsenses em suas desventuras. Isso se estende a outros personagens que foram descaracterizados ou esterilizados (Moe, o dono do bar, por exemplo).
Nessa fase, a narrativa torna-se menos mordaz e segue a lógica das sitcoms convencionais, com o tipo de piada que pede uma risada artificial da claque na plateia, dispensando os subtextos característicos dos tempos áureos.
Se antes era uma série que atacava o status quo, agora Os Simpsons é o status quo — e parece bem acomodada com isso. Há episódios que são uma celebração aos ricos e famosos, amparados na participação de celebridades. Como se o time de roteiristas pensasse: "Vamos chamar um famoso e encher de piada autorreferencial para bombar!". Não dá certo: são momentos que carecem de sinceridade e, principalmente, graça.
De qualquer maneira, mesmo aparentando ter se tornado uma paródia de si própria e assistindo a sua audiência despencar, Os Simpsons já tem a temporada 32 confirmada.