Há três décadas, uma família amarela e disfuncional encanta os espectadores com seu humor corrosivo, fazendo troça de costumes, do cotidiano e de personalidades. A família composta por Homer (pai), Marge (mãe), Bart (filho mais velho), Lisa (filha do meio) e Meg (filha mais nova) já havia sido apresentada em 1987, em vinhetas no Tracey Ullman Show. Ao estrear seu próprio programa, Os Simpsons abriu caminho para séries animadas direcionadas ao público adulto, a exemplo de South Park e Family Guy.
Em sua 31ª temporada, Os Simpsons é a série televisiva mais longeva da história e, consequentemente, com o maior número de episódios (672 até o momento). Aclamada como o melhor programa de TV do século 20 pela revista americana Time e vencedora de 11 Emmys, a atração já se expandiu para fora da TV: ganhou um longa-metragem para o cinema em 2007, adaptações para os videogames e outras mídias, além de inúmeros produtos, de roupas a brinquedos.
Autor do livro Os Simpsons e a História: Imagens de Brasil e Globalização (2012), o historiador Alessandro Almeida aponta que um dos elementos responsáveis pelo sucesso da série é seu humor ácido:
— Desafia autoridades, personalidades, grandes monumentos, grandes ideias da história e de países, como aconteceu com o Brasil em Feitiço de Lisa (episódio polêmico da 13ª temporada, no qual a família visita o país). Esse desafio aos políticos e aos costumes torna o desenho bastante crítico e atrativo.
Escracho
O psicanalista Mário Corso, colunista de GaúchaZH, também ressalta que o humor abrangente da série é um dos catalisadores para que a atração tenha atravessado todos esses anos.
— É para rir de todo mundo: polícia, juiz, pastor, patrão — destaca Corso. — Não há um nicho estabelecido, como piada de português ou de loira. Acho que o forte é essa coisa escrachada e ampla, que nivela a todos. Não temos muitos heróis, todos somos suscetíveis a erros. Há um nivelamento da humanidade numa massa uniforme de gente sem muita elevação moral, mas é assim que funciona na realidade.
Há 30 anos que Os Simpsons faz um elogio à família, conclui Corso, por mais disfuncional que esta possa ser:
— Essa família é totalmente atrapalhada, mas se mantém unida. Tem um aspecto conservador na série, que aponta que a família ainda é o espaço ideal, apesar de todos os aspectos que eles aprontam. O sentimento básico é de união e amor.
Dublador de Homer Simpson no Brasil desde a 18ª temporada, Carlos Alberto Vasconcellos avalia a longevidade da série:
— Sempre trouxe a realidade não só da família americana, mas também das mais convencionais. As situações se diversificam pela equipe de criação com atualidades do mundo inteiro. Fazem alusões às histórias dos países que estão visitando. Às vezes de uma forma engraçada, às vezes tentando agredir, mas com muito humor.
Além da veia desafiadora, crítica e hilariante de sua comédia, Os Simpsons também possuía um primoroso diferencial, que foi mais aguçado em sua primeira década e se esvaeceu com o passar do tempo: já foi uma série com mais humanidade e doçura.
Como no episódio Vovó Simpson, da sétima temporada. Após se despedir de sua mãe, Homer senta no capô de seu carro. A trilha sobe, anoitece, e ele está olhando para as estrelas, como se procurasse pela sua mãe, que partiu mais uma vez. Em seus melhores momentos, Os Simpsons transbordava sensibilidade, dispensando diálogos.