Os atores Antonio e Camila Pitanga participaram do Conversa com Bial desta terça-feira (19) para falar sobre família, cultura e identidade. Aos 80 anos, Antonio usou o filme Malês, do qual é diretor, para falar sobre o protagonismo negro no país. O longa conta a história da Revolta dos Malês, movimento de escravos muçulmanos que sacudiu Salvador (BA) no século 19.
— Eu trato do maior, o mais importante levante que aconteceu no Brasil, em 1835. Foram negros que falavam árabe, eram mouros, e tinham conhecimentos da física, da engenharia... Os negros que para cá vieram eram de uma sapiência. Eles tornaram-se escravos pelo colonizador, pela maneira com que eles tomaram de assalto e sequestraram os negros — falou Antonio.
Camila criticou o modo como a história oficial trata a questão da escravidão no Brasil. Para a atriz, o filme mostra a "história que a história não conta".
— A história oficial trata a questão da escravidão com uma narrativa muito empobrecida, porque mostra negros escravizados quase como fossem passivos da sua história. Quando você fala das resistências, quando você tem a figura do Zumbi dos Palmares, quando você fala de Dandara, quando você fala quilombo, quando você fala desses levantes, você mostra que naquele período não eram pessoas resignadas, pelo contrário, eram pessoas em luta contra um estado absolutamente absurdo de exceção — afirmou a atriz.
A dupla também comentou sobre o sobrenome da família. Batizado como Antonio Luiz Sampaio, o pai de Camila aderiu ao sobrenome Pitanga após o sucesso do filme Bahia de Todos os Santos (1960), quando interpretou um dos malandros da trama cujo personagem levava esse nome.
Além dos papéis em novelas e na televisão, Camila contou sobre sua direção no filme Pitanga, uma obra em homenagem ao pai, caracterizado por ela como um "combatente que dança".
— Com todas as dores que o racismo, que está ainda muito na nossa sociedade, muitas vezes ele impera, ele pede das pessoas, é uma luta. Você estar vivo é uma luta, você ascender socialmente, você ocupar o seu lugar é uma luta, mas uma coisa que eu admiro muito no meu pai é que ele não se amargurou — disse a atriz.