Passei boa parte da terceira temporada do MasterChef Brasil 3 expressando minha saudade da segunda temporada, que nos trouxe gente cheia de personalidade, como Jiang, Cristiano, Iranete, Raul e mesmo os "vilões" Fernando e Aritana. Passei a temporada do MasterChef Profissionais guardando para mim uma certeza: não gostaria de ser amigo nem colega de nenhum de seus participantes, quase todos meio víboras.
Pois bem.
Dois episódios de MasterChef 4 já foram suficientes para nutrir meu coraçãozinho. Na estreia, ficara encantado por personagens como a espirituosa e algo espalhafatosa tailandesa Yukontorn, por dona Marzilia e pela mãe solteira Roberta – que se viu abandonada pelo marido 12 dias antes do nascimento de seus filhos gêmeos, de cinco meses. No segundo programa, nesta terça, surgiram mais candidatos bacanas – pena que uns duraram pouco. Teria sido no mínimo divertida a permanência da "vovó sensual", como alguns sites batizaram a curitibana Adriana, 50 anos, desejosa de estrelar uma versão MasterSexy – chegou a propor um piroquete, um croquete erótico. Ela acabou eliminada no último duelo da noite – perdeu para Luciana na prova do ovo poché e do omelete ("Mexer com ovos é sempre interessante", disse Adriana).
Aliás, falando em duelo, vamos falar de um dos pecados do MasterChef: o de nos forçar a duelar contra o nosso sono. O programa começa muito tarde e termina mais tarde ainda! Batia a 1h no meu relógio... Acho que identifiquei um dos motivos: aquela contagem regressiva entoada pela Ana Paula Padrão na hora da finalização e apresentação dos pratos. São os 10 segundos mais longos da história da humanidade. Se na terça que vem eu não estiver um zumbi diante da TV, vou cronometrar para ver a diferença entre o relógio dela e os do mundo real.
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E por falar em Ana Paula, nesta terça ela começou o programa com uma tirada arriscada nestes tempos de patrulha do politicamente correto (patrulha na qual, admito, de vez em quando eu me alisto também: tem coisas com que não se pode brincar, tem coisas que não podem acontecer). Com bom humor, a apresentadora descreveu o primeiro participante como "um chinês paraguaio fazendo ovas falsas". Abel, o sujeito, fez Paola Carosella provar do próprio veneno. Se na estreia a jurada constrangeu o gaúcho Amaral ao insinuar que ele, açougueiro, a estava comparando a um pedaço de carne (o que gerou uma polêmica sobre machismo que a própria Paola, no Twitter, fez questão de dissipar), no segundo episódio foi a argentina que acabou mal interpretada. Quando soube que Abel tinha nascido no Paraguai, Paola perguntou:
– E como é que você fala tão bem o português?
O concorrente, talvez intimidado por anos e anos de estereotipização dos orientais, foi rude:
– Por quê? Você acha que eu tinha de falar "flango flito"?
Eu, que na semana passada critiquei Paola, desta vez estendi minha solidariedade. O que a espantou, como argentina que já mora há algum tempo no Brasil, foi a total ausência de sotaque espanhol na fala de Abel – como depois ela teve a chance de explicar (aproveitou o embalo e passou um pito no carinha).
Logo depois, entrou em cena mais um dos personagens pelos quais já estou torcendo. O publicitário Leonardo, 22 anos, demonstrou ter foco e aquela mistura saborosa de autoconfiança e humildade. Para ganhar um avental, resolveu preparar carré de cordeiro com molho de hortelã acompanhado por aligot. Um prato difícil, na opinião dos jurados. Um deles perguntou se Leonardo já havia testado a receita.
– Tô comendo cordeiro a semana inteira! – respondeu o rapaz, rindo mas sem perder a concentração.
No meio da função, Paola tirou as palavras da minha boca:
– Você tem a postura que eu espero de um candidato numa entrevista de trabalho.
Após um desnecessário suspense – que incluiu um surpreendente intervalo comercial! –, é claro que o publicitário foi aprovado. Na finaleira do episódio, ele voltou para disputar duas vagas contra outros três concorrentes, no desafio das sobremesas. Leonardo sobrou, no bom sentido: sua torta de chocolate branco com framboesa e limão siciliano parecia divina. Manteve o avental, assim como o gaúcho Douglas, que serviu cheesecake de chocolate – ambos derrotaram a crepe suzette de Paulo e a panna cotta de Michel. Mas isso só no MasterChef – na minha mesa, as quatro sobremesas teriam merecido um sonoro e gordo sim!