E se todo mundo sabe o final da história, como contá-la de forma que a audiência se sinta instigada a ir até o fim? É um exercício de criatividade e qualidade, entre outros atributos – algo que o produtorRyan Murphy conseguiu no ano passado com a primeira temporada de sua nova série antológica, American Crime Story.
Responsável por sucessos como Glee e American Horror Story, Murphy criou uma obra-prima da TV retratando uma das histórias mais exploradas dos EUA (e talvez do mundo), mesmo antes da era da internet: o chamado "julgamento do século", que levou o ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson ao banco dos réus em 1994, acusado de ter matado sua ex-mulher, Nicole Brown, e o amigo dela Ronald Goldman.
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Embora tenha sido transmitida pelo FXno Brasil quase ao mesmo tempo que nos EUA, em fevereiro de 2016, American Crime Story: o Povo contra O.J. Simpson parece finalmente ter sido descoberta pelo público brasileiro ao entrar no catálogo da Netflix na semana passada. A produção, aliás, foi uma das principais vencedoras da última leva de premiações, ao conquistar dois Globo de Ouro e impressionantes 10 Emmy.
Um dos segredos do sucesso: abordar um ângulo desconhecido ou pouco explorado. Neste caso, foi o julgamento por "dentro", pelo ponto de vista de promotores, advogados de defesa, juiz, jurados e até amigos do suspeito (alguns deles mais famosos hoje do que na época por levarem o sobrenome Kardashian). Aqui entra outro trunfo: as grandes atuações em ambos os lados do tribunal. Se Cuba Gooding Jr. está apenas okay no papel-título, Sarah Paulson e, especialmente, Courtney B. Vance estão destruidores na pele da promotora Marcia Clark e do defensor Johnnie Cochran.
A série de 10 episódios mostra que não só estratégias equivocadas da promotoria e a questão racial influenciaram na reviravolta de uma batalha que, no início, parecia estar ganha para a acusação. Aborda, também, como o gênero, a personalidade, a vida pessoal e até o cabelo de Marcia Clark, assim como o cansaço do júri (o julgamento durou um ano), impactaram na absolvição de O.J., mesmo que boa parte do país ainda hoje não acredite na sua inocência.
Baseada no livro The Run of His Life – the People vs. O. J. Simpson, a produção não tende claramente para nenhum lado, mas foi vista como uma espécie de desagravo a Marcia perante os que a consideraram incompetente por não ter conseguido uma condenação (Sarah Paulson chegou a levar a ex-promotora como seu plus one na cerimônia do Emmy, em setembro).
Em forma de antologia, American Crime Story contará um caso a cada temporada. Duas já estão confirmadas e previstas para este ano. A segunda terá como temao furacão Katrina, que atingiu os EUA em 2005, e a terceira será sobre o assassinato do estilista Gianni Versace, em 1997. A esperança é de que, ao contrário de American Horror Story, esta mantenha a qualidade com o passar do tempo.
Onde ver
American Crime Story: o Povo contra O.J. Simpson está no catálogo da Netflix. No elenco, Cuba Gooding Jr., Sarah Paulson, Courtney B. Vance, John Travolta, David Schwimmer e Sterling K. Brown.
MAIS NOSTALGIA
No intervalo do Super Bowl 51, disputado no domingo, os fãs de Stranger Things puderam ver o primeiro teaser da segunda temporada da série da Netflix. A volta agora também tem dada de estreia: 31 de outubro de 2017, Halloween.
UM FEITO RARO
This is Us conseguiu um feito e tanto para uma série novata da TV aberta americana: foi renovada não só para uma temporada, mas para duas. O drama familiar caiu nas graças de público e crítica, conseguindotrês indicações ao Globo de Ouro poucos meses após estrear na NBC.
POUCOS SUCESSOS
Poucas séries novas se destacaram nesta fall season. Além de This is Us, lembro apenas da comédia The Good Place, do mesmo criador de Parks and Recreation e Brooklyn 9-9. Estrelada por Kristen Bell, mostra os dramas de uma mulher detestável que tinha de ir para o inferno, mas foi parar no céu.