Em maio, o 1m50cm de água que invadia a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) envolvia de funcionários a frequentadores em incertezas. Afinal, quais seriam os estragos deixados pela enchente? Quanto tempo seria necessário para que o local pudesse voltar a receber o seu público? E quando os artistas gaúchos poderiam ter novamente uma de suas referências para expor os seus trabalhos?
Demorou três meses e 11 dias. A CCMQ reabre as suas portas para atividades nesta quarta-feira (14), com uma cerimônia para marcar o momento às 18h30min, na Travessa Rua dos Cataventos. Na sequência, haverá um show com Jessie Jazz e Banda, às 19h30min.
O dia ainda será marcado pela inauguração da exposição Reflexos da Emergência, do fotógrafo sul-africano Gideon Mendel — as imagens, que serão expostas na fachada da instituição, retratam as vidas dos gaúchos afetados pela enchente. A entrada é gratuita.
Já na quinta-feira (15), a instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) volta a estar aberta para visitação nos horários regulares, de terça a domingo, das 10h às 20h. Por enquanto, o espaço não estará plenamente em funcionamento, como conta a diretora da instituição, Germana Konrath:
— As pessoas vão encontrar a Casa ainda com reforma em andamento. O nosso entendimento foi de que a gente tinha de reabrir o quanto antes, mesmo com obras, mesmo que não esteja tudo impecável, finalizado. Precisamos desses espaços de cultura para quem é artista, para os espaços comerciais e, principalmente, para a população. Temos de ter novos encontros e poder discutir o que passou, pensar em novos futuros.
A CCMQ ainda está passando por pintura, tanto externa quanto interna. Os visitantes perceberão, neste retorno, que um espaço da estrutura está sendo utilizado como oficina temporária na recuperação das esquadrias atingidas pela enchente. Além disso, duas salas da Cinemateca Paulo Amorim ainda estarão fechadas, passando por reformas.
Alas
A prioridade desta retomada foi deixar a ala leste da CCMQ pronta para ser plenamente usada — isto porque é neste setor, mais próximo da Praça da Alfândega, que os comércios do térreo do espaço estão localizados. Ali, por exemplo, estão a livraria Taverna — que deve voltar às atividades no final de agosto — e a Sala Eduardo Hirtz, da Cinemateca Paulo Amorim — reaberta desde a última quinta-feira (8).
Em maio, quando as águas começaram a subir na Capital, a equipe da instituição levou o mobiliário e obras de arte que eram de fácil manuseio para os andares superiores do prédio — móveis fixos, portas e janelas foram os que mais sofreram, bem como as paredes, enlameadas.
Porém, os espaços comerciais do primeiro andar, como a cafeteria Luciamaria, a loja Andaime e a livraria Taverna tiveram perdas significativas, desde os móveis planejados até os produtos vendidos. Estes devem ir retomando as suas atividades aos poucos, cada qual com as suas particularidades. O bar e restaurante Térreo já está em funcionamento.
Ao mesmo tempo em que se busca colocar a CCMQ a pleno, tal qual era antes da enchente, também se está trabalhando para a inserção de novos elementos na instituição. No Dia Estadual do Patrimônio, celebrado em 17 de agosto, a ideia é inaugurar uma placa de sinalização da cota da enchente e, futuramente, criar uma ação pedagógica para abordar, junto ao público, a relação do espaço com a água — afinal, o centro cultural está no limite de onde chegava o Guaíba antes do aterramento na região.
De acordo com Germana, as obras de recuperação — incluindo pintura, troca de móveis e carpetes, conserto dos sistemas de monitoramento e da rede elétrica, manutenção de elevadores e do sistema de prevenção contra incêndio — foram possíveis graças ao aporte realizado pelo Banrisul na recuperação da cultura — apenas para a CCMQ, foram destinados quase R$ 2,5 milhões.
No total, afirma a diretora da instituição, mais de cem pessoas se envolveram nesta retomada. Para a sequência da reabertura, ainda no mês de agosto, haverá seminário, eventos, exposições temporárias e peças teatrais. A programação completa pode ser conferida no perfil da CCMQ no Instagram.
— É uma alegria ver a Casa reabrindo, porque a gente sabe o desafio que foi aquele período de incerteza. Quando a água parou de entrar, deu aquela sensação de começar tudo do zero, porque a Casa de Cultura estava em um momento tão feliz, com tudo arrumado, organizado. A ideia, agora, é reabrir para ser, novamente, um ponto de referência, inaugurar uma primavera da cultura, lançando esse sopro de alegria, de esperança — explica Germana.