A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) iniciou nesta quarta-feira (10) uma missão internacional de emergência no Rio Grande do Sul. Até o próximo dia 19, especialistas da entidade global percorrerão equipamentos culturais – como museus, acervos e bibliotecas – do Estado para avaliar os danos causados pela enchente.
A iniciativa não fará levantamentos financeiros do dano da enchente, mas visa detalhar o problema e sugerir soluções. Um levantamento preliminar indica que serão necessários R$ 47,4 milhões para recuperar bens e acervos públicos e privados.
A missão será financiada com recursos do Fundo de Emergência do Patrimônio da Unesco, sem contrapartida do governo gaúcho. O início da atividade ocorreu durante cerimônia no Palácio Piratini, na tarde desta quarta, com a presença do governador Eduardo Leite.
— A partir do diagnóstico dos itens, vamos fazer a recuperação dos acervos. Esse processo deve envolver a necessidade de recursos, que serão articulados pelo Estado. Recuperar a cultura não é menos importante — disse Leite.
A missão terá a historiadora e arqueóloga Andrea Richards, de Barbados, e o socorrista cultural Samuel Franco, da Guatemala. Andrea apoiou a gestão de crise em cenários como o ciclone Freddy, no Malaui, furacão Maria, na Ilha de Dominica, e do furacão Irma, nas Ilhas de Antígua e Barbuda. Samuel atuou em emergências culturais em diversos continentes e é presidente do Conselho Internacional de Museus (Icom) Guatemala.
— Escolhemos profissionais com larga experiência em contextos de emergência causados por mudanças climáticas. É importante contar com pessoas que já tenham vivido situações semelhantes. Cada acervo ou documento histórico, seja um papel, quadro ou edifício, precisa ter um tipo específico de cuidado — pontuou Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil.
Visitas presenciais e trabalho a distância
Os especialistas começarão as atividades em Porto Alegre. Entre os locais visitados na Capital estão o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e o arquivo do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4).
Ainda há previsão de agenda em São Leopoldo, no Vale do Sinos, Muçum, no Vale do Taquari, e Igrejinha, no Vale do Paranhana. As visitas e conversas com os centros de cultura serão documentadas em um relatório que será compartilhado com o poder público e as instituições do Estado.
— Vamos complementar o diagnóstico que já estava sendo feito, fazer avaliações e apontar algumas sugestões a partir da experiência dos especialistas — acrescentou a representante da Unesco.
O fim da atividade presencial no Estado não significa o término da atuação da Unesco: a entidade seguirá com o suporte para os responsáveis pelos centros culturais gaúchos. Até dezembro, estão previstas oficinas online para o resgate e a recuperação de itens, além da criação de um manual com esses conteúdos para divulgação e consulta.
— A capacitação é necessária porque muitas das instituições não têm museólogo, bibliotecário ou arquivista. A demanda é enorme e sozinhos não teríamos fôlego para tudo neste momento — disse Beatriz Araujo, secretária estadual de cultura.
O tamanho do prejuízo
Segundo o governo estadual, 50 equipamentos culturais foram afetados pela crise climática, com danos que vão da destruição completa à infiltração de água, estragos no telhado e transbordamento de calhas. Conforme o Executivo, os prejuízos foram “severos e ainda não estão contabilizados”.
Um levantamento preliminar da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) indica que serão necessários R$ 47,4 milhões para recuperar bens e acervos públicos e privados danificados pela enchente. A estimativa, porém, não é do executivo estadual: foi feita por gestores ou dirigentes culturais de mais de cem municípios e enviada à Sedac.