Vitimadas pelas enchentes que devastaram cidades do Rio Grande do Sul, as 250 pessoas que estão abrigadas no Parque Esportivo da PUCRS, em Porto Alegre, encontram na cultura, na recreação e na prática de exercícios físicos aliados que ajudam a suportar a dureza da realidade. GZH circulou pelo local na tarde desta quarta-feira (8) e acompanhou algumas das atividades oferecidas, em trabalho coordenado por professores e alunos da universidade. O objetivo é tornar mais leve a estadia de adultos e crianças no abrigo.
Para atender aos pequenos, a sala onde antes funcionava um laboratório do curso de Educação Física foi adaptada para virar brinquedoteca. O espaço fica aberto das 8h30min às 13h30min, quando as famílias são encaminhadas para o almoço, e reabre às 13h30min para, então, fechar novamente às 18h. Ali, as crianças podem usufruir de livros, brinquedos, jogos e materiais para desenho e pintura, além de participar de momentos de contação de histórias e outras atividades orientadas por monitores voluntários.
A adesão é grande. Nesta quarta-feira, pouco antes das 13h30min, horário em que a sala reabriria, dezenas de crianças já aguardavam para reingressar no local. Mostraram à reportagem, orgulhosas, os desenhos que haviam feito. Os trabalhos ficam expostos em "galerias de arte" montadas dentro da sala que virou brinquedoteca e também no ginásio onde as famílias estão alojadas.
— Nesses desenhos, dá para perceber que algumas crianças fazem associações com o que aconteceu. Elas estão exorcizando os traumas através da arte — destaca o professor Ricardo Barberena, diretor do Instituto de Cultura da PUCRS e um dos coordenadores das atividades culturais e recreativas promovidas no abrigo.
— Essas ações são importantes porque, com o passar dos dias, a rotina no abrigo começa a ficar cada vez mais pesada. É uma situação traumática, de medo e insegurança pelo que virá amanhã, sobretudo com a possibilidade de novos temporais. Então, tentamos usar a arte e a cultura para amenizar a angústia de quem está passando por isso — explica Barberena.
Segundo o professor, o maior desafio tem sido incluir os jovens e os adultos nas atividades. As crianças, mergulhadas na inocência infantil, aderem com entusiasmo ao que é proposto, mas o mesmo não ocorre com quem entende plenamente o que está acontecendo no Estado. Por isso, a equipe de cultura e recreação tenta diversificar ao máximo a programação oferecida ao público desta faixa etária, realizando desde bingos até sessões de cinema.
A primeira exibição está marcada para ocorrer nesta quinta (9). O filme ainda não está definido, mas deve ser de temática leve e classificação indicativa livre, para que possa ser assistido por todos. A projeção será feita em um telão colocado no ginásio, e a intenção é que novas exibições sejam feitas diariamente. O local também deve ser palco para apresentações musicais nos próximos dias. O plano da equipe é levar uma roda de samba ao abrigo já neste final de semana, para proporcionar um momento de confraternização e lazer aos abrigados.
Já para garantir o acesso à literatura, uma biblioteca comunitária foi montada com livros oriundos de doações. A procura pelas obras tem sido grande entre os abrigados, conforme Barberena. É possível contribuir com a ação doando livros diretamente no ponto de coleta montado no Portão 1 da PUCRS, nas proximidades do Museu de Ciências e Tecnologia.
Exercícios físicos
A prática de exercícios físicos também vem sendo alternativa para preencher os dias no abrigo. Da manhã até o final da tarde, diferentes atividades são oferecidas por cerca de 110 voluntários ligados aos cursos de Educação Física e Fisioterapia. Há turmas de alongamento, caminhada e ginástica para os adultos, entre outras modalidades. Já no trabalho com as crianças, brincadeiras e esportes coletivos como o futebol são os carros-chefe.
As atividades físicas podem ajudar a lidar melhor com a situação enfrentada. É o que explica o professor Nelson Todt, membro da Comissão Coordenadora do Curso de Educação Física e um dos responsáveis pelo trabalho da área no local.
— Fisiologicamente falando, quando se pratica atividade física, o corpo produz substâncias bioquímicas que melhoram a sensação de bem-estar — diz Todt. — Não é que isso vá resolver o problema das pessoas, mas pode ser uma forma de liberar a tensão emocional. E, durante as atividades, os voluntários também conseguem escutar, dar um colo e oferecer algum conforto nesse momento de dor.