Do jeito irreverente em sala de aula direto para um dos palcos mais importantes do Rio Grande do Sul. É possível cravar que o próximo domingo (15) será inesquecível na vida de Marcito Castro, 40 anos. Cria do bairro Sarandi, na zona norte da Capital (como faz questão de se apresentar), o humorista vai realizar a gravação do especial Respeita a Vila, a partir das 20h, no Auditório Araújo Vianna. O roteiro da apresentação faz um apanhado do dia a dia na periferia, misturando os perrengues de quem vive com pouco dinheiro, lembranças dos anos 1980 e 1990 e memórias afetivas do próprio artista.
— É uma timeline da minha vida, uma periferia nostálgica. A galera vai embarcar comigo por uma viagem no tempo. Até mesmo quem não viveu naquela época vai curtir — afirma Marcito, que destaca outros detalhes (ainda mais) importantes da noite:
— Meu pai e minha mãe estarão lá (no Araújo Vianna). Eles, que sempre me deram tudo que podiam, vão ver aquele público enorme de três mil pessoas rindo e aplaudindo o filho deles. Fico emocionado desde agora. O que me anima, também, é ter a certeza de que a vila estará em peso comigo.
Identificação
Os poucos ingressos ainda disponíveis indicam isso mesmo: casa cheia. Quase um déjà vu — guardadas as devidas proporções — do que aconteceu em 2018, quando o artista apresentou seu primeiro stand-up solo. Batizado como Vida de Sor: Aulas, Bullying, Sarandi, Sexo, Drogas e Sacolé, o show do então professor de História de cursinho pré-vestibular lotou um bar do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.
— Quando comecei em sala de aula, queria fazer a linha do professor sério. Não durou muito. Soltei uma piada, e a sala inteira caiu na gargalhada. Passei, então, a adaptar as minhas aulas para uma realidade de humor. Os colegas e alunos falavam: “Porque não faz um stand-up?”. Mas eu nunca tinha pensado nisso como uma profissão — conta.
Era o impulso que faltava para a dúvida virar certeza. Logo, Marcito passou a rodar pelo Estado inteiro. O início foi em um festival de open mic — termo vêm de “microfone aberto”, espaço de tempo cedido para pessoas que estão começando no stand-up — realizado no Bardo Comedy, em Novo Hamburgo. Já na estreia, ficou em primeiro lugar. O sucesso foi tanto que passou a ser chamado para se apresentar em outros comedy clubs, dividindo o palco com grandes nomes dos cenários gaúcho e nacional.
Na mesma velocidade, foi ganhando força total nas redes sociais. Hoje trabalhando exclusivamente como profissional do riso, ele soma mais de 500 mil seguidores no Instagram, 50 mil inscritos no YouTube e 10 milhões de curtidas no TikTok. O grande trunfo?
— A galera comenta: “Bah, parece que tu tá falando de mim”. A minha comédia é, basicamente, uma comédia de identificação. Sai tão natural, sou totalmente genuíno no que falo. Eu vivo para a comédia e estou muito feliz pelo atual momento da minha vida. Em um mundo pós-pandemia, as pessoas querem rir. Depois de catástrofes, guerras, as pessoas buscam o entretenimento para aliviar. O meu show trás um pouco desse alívio — aponta o humorista.
A ideia, a partir da gravação do show deste domingo, é ampliar o público e ter uma projeção nacional. Sem muito tempo de descanso (apenas uma folga mais do que merecida nesta terça-feira, dia 17, para comemorar seu aniversário), na próxima semana, ele cumpre agenda em quatro cidades de São Paulo. Depois, duas paradas em Santa Catarina. Mas uma coisa é certa: apesar dos voos cada vez mais altos, o filho da ZN de Porto Alegre jamais deixará de lado as raízes. Bem pelo contrário! Ainda quer ver um sonho antigo se realizar por aqui.
— Meu desejo é organizar um projeto para levar o stand-up para as periferias e projetar novos talentos. Conheço muita gente engraçada que não sabe que pode mudar a vida da família deles com isso. Quero arrebanhar essa galera para que andem com as próprias pernas — afirma, dando a letra aos guris e às gurias que querem seguir esse caminho:
— Incomodem os comediantes, me incomodem. Podem mandar mensagens à vontade.
De pai para filhos
Pai dedicado, Marcito é exemplo para os filhos Gabriel, 14 anos, e Isabela, cinco. A forte ligação entre eles fica clara nas publicação nas redes sociais que mostram os momentos descontraídos em família. Tudo, claro, permeado por muita graça – como no vídeo em que ele leva as “cria” ao Park Tupã. Não seria surpresa encontrar na genética dos filhos o talento do pai.
— A minha filha é muito comunicativa e, se deixar, vai ser comediante. Dia desses, no carro por aplicativo, o motorista comentou: “Eu tenho duas filhas gêmeas, e está vindo uma terceira por aí”. E ela soltou: “Tá vindo da onde? Tava em outra cidade?”. Ela falou para tirar onda mesmo. Eu fiquei meio constrangido, e ela riu pra mim. Já o Gabriel é mais boleiro. Está jogando futebol, é atleta. Ele tem uma destreza muito boa. Sou um pai muito sortudo — orgulha-se.
Te programa
- O quê: Gravação do especial Respeita a Vila
- Quando: neste domingo (15), às 20h
- Onde: Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685)
- Quanto: ingressos a partir de R$ 40, à venda no site sympla.com.br, com taxas
- Classificação: 16 anos