A microbiologista brasileira Natalia Pasternak e o neurocientista norte-americano Stuart Firestein realizarão a conferência presencial de abertura do Fronteiras do Pensamento 2022 nesta quarta-feira (10), a partir das 20h, na Casa da Ospa, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Av. Borges de Medeiros, 1.501), em Porto Alegre. As inscrições para o ciclo de palestras, que tem como tema Tecnologias para a Vida, podem ser realizadas no site do evento.
Tendo se destacado ao levar informações para a população brasileira de forma simples e direta durante a pandemia de covid-19, Natalia foi eleita uma das mulheres mais influentes e inspiradoras do mundo em 2021, de acordo com a BBC 100 Women. É pesquisadora da Universidade Columbia e da USP. Preside o Instituto Questão de Ciência e é pesquisadora sênior da Associação Nacional de Escritores Científicos, em Nova York. Como comunicadora científica, escreve para o jornal O Globo e para a revista britânica The Skeptic. Ela ainda publicou os livros Ciência no Cotidiano (editora Contexto) — vencedor do Prêmio Jabuti de Não Ficção em Ciências em 2021 — e Contra a Realidade (Editora Papirus 7 Mares), ambos ao lado de Carlos Orsi.
Natalia acredita que, atualmente, a ciência é ensinada como um aglomerado de fatos indisputáveis, não como uma prática diária de uso do senso crítico para separar fato de especulação. São respostas prontas. Assim, na visão dela, é necessário mudar a maneira como a ciência é ensinada, passando de um estilo conteudista para um que promova o pensamento científico, combatendo as verdades absolutas vendidas por "charlatões".
"Uma população acostumada a ver a ciência como um processo investigativo que navega em incertezas vai desconfiar de vendedores de certezas. Apresentar a incerteza sem medo, saber comunicá-la com honestidade e transparência, pode ser a melhor estratégia para formar cidadãos mais racionais e críticos, que não sejam tão facilmente enganados pelas 'verdades absolutas' das mídias sociais", escreveu, em texto para a Revista Fronteiras do Pensamento.
Já Firestein é pesquisador da Universidade Columbia, onde foi presidente do Departamento de Ciências Biológicas. É reconhecido por seus estudos sobre a natureza do olfato e foi eleito membro da Associação Americana para o Avanço da Ciência. É pós-doutor em neurobiologia e atuou nas universidades Yale, Paris VI e Cambridge. Ele ainda é autor dos livros Ignorância: Como Ela Impulsiona a Ciência (Companhia das Letras) e Failure: Why Science Is So Successful ("Fracasso: por que a ciência é tão bem-sucedida"), este ainda não publicado no Brasil.
O norte-americano concorda com a brasileira que é necessário melhorar a comunicação científica com o público e, por isso, passou a pesquisar com Natalia sobre o tema. Firestein defende que são necessárias mudanças na maneira como se ensina a ciência ao longo de toda a educação formal, da escola à faculdade, onde, segundo ele, ainda prevalece uma visão determinista típica do século 19.
O neurocientista ainda vai além, sustentando há muito tempo uma ideia contraintuitiva: a de que a ignorância e o fracasso são fundamentais para o progresso científico. Tanto é que, em 2006, ele criou um curso chamado Ignorância na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, onde dá aulas de neurociência. Em 2012, ele lançou o já citado livro de mesmo título (publicado no Brasil em 2019). A ideia dele é mostrar quais são as grandes questões que os cientistas tentam responder, apresentando mais as dúvidas e as incertezas e menos os fatos e os dados.
— Quando eu me encontro com outros cientistas, a gente não fala sobre o que a gente sabe. A gente fala sobre as grandes questões e sobre como vamos atacá-las. Quando percebi essa desconexão entre a forma como a ciência é percebida e a forma como a ciência é perseguida, pensei: "O que estamos ensinando aos estudantes?". Não estamos ensinando o que há de empolgante na ciência. E então pensei que deveríamos ensinar as coisas que a gente não sabe, porque é disso que a ciência trata — declarou, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Presencial e online
A temporada 2022 do Fronteiras do Pensamento contará com 12 conferências, entre presenciais e online. Além da abertura, com Stuart Firestein e Natalia Pasternak, os demais palestrantes que passarão pela Casa da Ospa serão Frédéric Martel, Steven Johnson, Luc Ferry, Élisabeth Roudinesco e Marcelo Gleiser.
No ambiente virtual, Maria Homem, Martha Gabriel, Rodrigo Petronio, Mayana Zatz, Jorge Caldeira e Sidarta Ribeiro compartilharão as suas ideias — as conferências dos três últimos nomes, inclusive, já estão disponíveis para o público desde segunda-feira (8). A programação completa pode ser conferida no site fronteiras.com.
O Fronteiras do Pensamento tem patrocínio de Hospital Moinhos de Vento, Unimed Porto Alegre, Dexco e Icatu Seguros, com parceria acadêmica da PUCRS, parceria empresarial de Uniodonto, Sinergy e Colégio Bertoni Med, parceria institucional do Pacto Global e promoção do Grupo RBS.