Quando se fala em cultura pop dos anos 1960, é difícil não pensar nas figuras de Marilyn Monroe e Andy Warhol. E essa união ocorre muito por conta do retrato Shot Sage Blue Marilyn, produzido pelo artista em 1964, dois anos após a morte da atriz, e tido por muitos como a pedra angular do movimento pop art. Não à toa, a obra foi leiloada na segunda (9) por US$ 195 milhões — pouco mais de R$ 1 bilhão —, tornando-se a mais cara do século 20.
A peça é uma das cinco presentes na série The Shot Marilyns e trata-se de uma tela de acrílico e seda, de cerca de 2,5 metros quadrados sobre linho. A serigrafia foi produzida a partir de uma foto tirada pelo produtor Gene Korman para a divulgação para o filme Torrente de Paixão (1953).
— Shot Sage Blue Marilyn é o auge absoluto do pop americano — declarou Alex Rotter, presidente de arte dos séculos 20 e 21 da casa de leilões Christie's, que promoveu a venda. — A pintura transcende o gênero do retrato, substituindo a arte e a cultura do século 20.
Apesar de atuarem em diferentes frentes, há uma relação entre os dois artistas que faz com que o quadro seja tão representativo. Para começar, a pop art de Warhol se caracteriza principalmente por retratar objetos do universo do consumo e da cultura de massa como temas de obras de arte. Já Marilyn, com sua trajetória da pobreza ao estrelato, carrega uma imagem cercada de glamour e tragédia que a torna a musa perfeita para o artista.
A história de ambos foi retratada recentemente em documentários que estão disponíveis no streaming. A seguir, saiba mais sobre as duas produções:
Diários de Andy Warhol
Lançado em 9 de março pela Netflix, a série documental Diários de Andy Warhol retrata a vida pessoal do artista. Assinada por Ryan Murphy, diretor de Glee, Pose e American Horror Story, a produção foi criada a partir dos diários de Warhol, enviados à jornalista Pat Hackett e publicados após a sua morte, em 1987.
Em certo ponto, a série revela a forma como o artista enxergava o futuro da arte:
— Ele nos falou especificamente que todo mundo ia ser famoso por 15 minutos. Andy iria amar o mundo de hoje… por causa do freak show que é a cultura contemporânea — diz Rob Lowe.
Os episódios apresentam a ascensão de Warhol, desde sua criação como filho de imigrantes eslavos em Pittsburgh até sua chegada ao estrelato em Nova York, tocando em assuntos como a sua relação com Jean-Michel Basquiat.
Outro ponto que a série aborda é a sexualidade do artista. Segundo conhecidos, Warhol seria homossexual, mas disfarçava, por medo do preconceito da época, afirmando que era assexual. Esse sentimento de repreensão, somado ao fato de que ele não "se via como uma pessoa bonita", teria inspirado a sua busca por reconhecimento artístico:
— Warhol podia ver beleza ao seu redor, mas não em si mesmo. Para um gay, se você não é um garanhão, pode ser uma aberração. As drag queens nos ensinaram isso há muito tempo. Você não vai me bater porque estou montado. Vou criar uma imagem tão poderosa que você não poderá me atingir — afirma Patrick Moore, diretor do Andy Warhol Museum.
O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas
Também lançado pela Netflix, em 27 de abril, o documentário O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas, dirigido por Emma Cooper, aborda a misteriosa morte da atriz.
O filme começa com gravações de áudio da pesquisa que o jornalista Anthony Summers começou em 1982, quando a promotoria do condado de Los Angeles deu início a um inquérito sobre a morte de Monroe por overdose de barbitúricos para decidir se deveria reabrir uma investigação completa. Entre as informações enfatizadas pelo documentário, está um registro sobre o quanto Marilyn desejava ir além de um sex symbol.
— Ela era muito brilhante e queria aprender. Estava interessada em tudo para ajudá-la a controlar sua carreira — disse Jane Russel, que trabalhou com Marilyn em Os Homens Preferem as Loiras.
A obra também aborda sua infância conturbada, incluindo relatos sobre os abusos sexuais e a sua experiência em lares adotivos. Há também depoimentos sobre seus casamentos e vício em drogas.
Por fim, o filme aborda sua relação com os irmãos Kennedy e apresenta informações que questionam o quanto isso influenciou a morte da atriz. De acordo com o documentário, a reação de John e Robert ao fatídico Parabéns a Você cantado pela atriz ao ex-presidente mexeu com a artista.
— Ela ficou magoada, terrivelmente magoada quando lhe disseram diretamente para nunca ligar ou entrar em contato novamente — diz seu amigo Arthur James. — Isso foi uma ordem. Jack não entrou em contato com ela, Bob sim. E foi isso que a matou.