A prefeitura de Porto Alegre divulgou na tarde desta sexta-feira (3) os resultados do evento-teste do último domingo (25), etapa importante para a retomada das atividades das casas noturnas. Entre 156 frequentadores da festa que fizeram exame de covid-19 ao longo desta semana, dois tiveram resultado positivo.
Realizado por empresários do ramo na Casa NTX, na zona norte de Porto Alegre, o evento sem obrigatoriedade de máscara e distanciamento social propiciou dados para que a prefeitura e o governo do Estado possam planejar as flexibilizações. Do total de 599 pagantes, 200 optaram por testar, além de na véspera, instantes antes de ingressar na festa. Outros 200 escolheram ser testados dias depois do evento — nem todos compareceram.
Segundo avaliação da Secretaria Municipal de Saúde, o evento não aumentou o número de casos de coronavírus. Antes da festa, foram feitos 927 testes (incluindo funcionários) e 12 tiveram resultado positivo (1,3%), sendo proibidos de participar. Depois dela, a porcentagem dos frequentadores positivados foi a mesma: dois entre 156 testes, representando 1,3%.
— Queria que não fosse ninguém, mas não é de todo ruim. Não houve uma explosão de casos pós-festa. Se traçarmos um paralelo com o controle sanitário feito por duas semanas no aeroporto Salgado Filho, em que aproximadamente 1% dos testados eram positivos, parece que é um número bem presente atualmente na população — explica o coordenador da Vigilância em Saúde, Fernando Ritter, observando ainda que não é possível saber se as duas pessoas que testaram positivo ao longo da semana já estavam contaminadas no evento, se pegaram coronavírus durante a festa ou após.
O epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry não vê o resultado como positivo. Segundo ele, o evento-teste mostrou que ainda há propagação do vírus e que não é completamente seguro participar de festas.
— Esse vírus tem uma característica exponencial. Se tem duas pessoas em uma festa com o vírus, elas podem contaminar várias. Me parece precipitado acelerar essa volta uma vez que ainda não temos um quantitativo de vacinas que deem a chamada imunidade coletiva.
Ele lembra ainda que os testes nem sempre acusam o vírus: no período de incubação viral, que é o tempo entre a exposição e o início dos sintomas, acontece de dar resultado negativo. Nesse período, os infectados já podem transmitir a doença.
Outra ressalva do especialista diz respeito à chegada da variante Delta ao Estado - um estudo que contou com pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Imperial College, do Reino Unido, sugeriu que ela é a mais contagiosa entre as cepas que já foram sequenciadas.
Frequentadores receberão comunicado
A secretaria enviou para os organizadores um comunicado que deve ser repassado a todos que estiveram no evento. Nele, é relatado que houve positivados, preservando os nomes, e é recomendada a busca de atendimento médico a qualquer um que apresentar sintomas relacionados à covid-19.
Além disso, as duas pessoas que estão com covid-19 deverão repassar aos organizadores uma lista dos nomes com quem interagiram diretamente durante o evento. Esses, sim, serão convidados a ir a um posto de saúde do município para fazer o exame.
Durante a semana, o coordenador da Vigilância Sanitária falou, em entrevista a GZH, que, se houvesse resultados positivos de pessoas que participaram da festa, recomendaria a testagem de todos os presentes. Mas voltou atrás.
— Discutimos internamente e emitimos esse comunicado para o organizador do evento passar para todas as pessoas, para não precisar testar todo mundo na festa. Não faz sentido testar quem não teve contato nenhum — diz ele.
Para Ritter, o evento-teste mostrou que a testagem das pessoas é necessária - em razão dela, 12 potenciais disseminadores do vírus foram isolados. O resultado, segundo o coordenador da Vigilância, reforça a convicção da prefeitura em seu plano de reabertura e retomada de grandes eventos apresentado ao Gabinete de Crise no dia 14 de julho, com testagem prévia e outros protocolos.
Segundo o calendário proposto pelo município a Eduardo Leite, haveria um aumento gradual da capacidade dos eventos, a cada duas semanas. Primeiro, seriam autorizados eventos com ocupação máxima de 50% do alvará ou do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) e limite de público de mil pessoas.
Após, poderiam ser liberadas atividades com 50% da ocupação máxima, até 5 mil pessoas, então ocupação de 75% e público de 10 mil e, em setembro, poderia chegar a 20 mil pessoas. Depois dessas oito semanas, de acordo com a evolução da vacinação e do contágio do vírus, a prefeitura avaliaria se pode abrir mão do teste de covid.
O governo do Estado já assinalou que pretende iniciar o processo de liberação de eventos, shows e público em estádios a partir da próxima semana, mas ainda não definiu de que forma fará essa flexibilização. A expectativa é que o Gabinete de Crise analise os dados do evento-teste até segunda-feira (2) e, a partir de então, defina as novas regras para todo o Estado.