Por Beatriz Araujo
Secretária da Cultura do Rio Grande do Sul
A ideia de Cultura pode ser entendida como um conceito abstrato, que nos une por simbologias, associações de sentidos, memórias e vivências. Nossa civilização é resultado do acúmulo do conhecimento, da bagagem cultural humana. A história se encarrega das narrativas e cabe às gerações as constantes revisões e ampliações dos conceitos e paradigmas.
Nosso país possui um pujante tesouro que, certamente, pertence a todos os brasileiros: nossas múltiplas e diversas culturas. Não temos uma só cor ou melodia, pois conjugamos todas as cores e matizes, tons e acordes. A cultura brasileira não é um só sabor, mas todos os sabores, gostos e humores; todos os doces, os de Pelotas e os da Ilha de Marajó. O Brasil de todos os cheiros e todas as melodias.
A Cultura pode ser lida em três dimensões. A dimensão simbólica, que também é civilizatória, são os livros, os filmes, as imagens e partituras, todos os artefatos e ideias que se traduzem em símbolos. A outra dimensão seria a cidadã, que é humana, territorial e social. As ações e políticas públicas que olham para todo o Rio Grande do Sul, suas carências e demandas, exemplificam essa perspectiva. A dimensão econômica fecha essa tríade, toca na ideia de profissionalização e geração de emprego e resulta no capital financeiro. Essa última precisa ser muito bem compreendida, pois afeta toda a sociedade quando se faz ausente.
A economia criativa no Rio Grande do Sul é responsável por 4,1% da força de trabalho do Estado. Setores vinculados à Cultura geram mais empregos que segmentos tradicionais da economia gaúcha. Os indicadores nos mostram que, no Estado, o setor cultural tem a mesma importância para a geração de empregos do que a construção civil e ultrapassa o setor automobilístico e calçadista. Na Cultura, a concentração de renda é menor do que nas áreas citadas, ou seja, a Cultura distribui melhor os valores que movimenta.
Precisamos atender com responsabilidade os setores que sustentam essa pujante economia criativa, garantir que o capital financeiro não se esgote durante a crise. O desafio se traduz em assegurar que a cadeia de emprego e serviços gerados pela Cultura mantenha sua vida e capilaridade. A paralisação das atividades por conta do momento em que vivemos exige de todos nós alguns elementos que já são matéria-prima do fazer cultural, entre eles estão a criatividade, a adaptação e a solidariedade.
A Lei Aldir Blanc atenderá aos trabalhadores e aos espaços culturais e sua cadeia produtiva, além dos criadores sem visibilidade, que devem receber a principal atenção do Estado neste momento tão difícil. Devemos buscar os detentores do saber cultural, artístico e antropológico, os povos originários, as culturas comunitárias, os centros de tradição e todo o patrimônio material e imaterial que a Lei de Emergência Cultural visa contemplar.
A economia criativa no Rio Grande do Sul é responsável por 4,1% da força de trabalho do Estado. Setores vinculados à Cultura geram mais empregos que segmentos tradicionais da economia gaúcha. Na Cultura, a concentração de renda é menor do que nas áreas citadas, ou seja, a Cultura distribui melhor os valores que movimenta.
Para além das ações de Estados e municípios, a sociedade precisa estar atenta e solidária com os artistas e seus empreendimentos. É muito importante que se apoiem as iniciativas locais – da cidade, do bairro. É preciso que cultivemos a microeconomia cultural, social e solidária. Neste momento de distanciamento social, os projetos digitais revelam conhecimentos e sabedorias. Os espaços de interatividade, em que muitos criativos vêm apresentando seus empreendimentos, são seguros e até mesmo lucrativos. Cursos, formações, exibições de filmes, apresentações ao vivo de espetáculos musicais, teatrais e de diversas outras linguagens.
Além dos editais como o FAC Digital RS, que distribuirá gratuitamente um número jamais visto de conteúdos online, muitos artistas já estão comercializando seus produtos na internet em pequena e em grande escala. Apoiar as iniciativas locais, apostando no Interior e nas relações solidárias entre municípios e regiões, é importante para a difusão do conhecimento e fortalecimento da economia criativa.
Devemos consumir um produto intelectual com a mesma percepção que temos para a nossa saúde. Ao optarmos por uma hortaliça orgânica, plantada em nossa cidade, sabemos de seus benefícios e qualidades. Assim é com a produção artística. Dessa maneira, o público vai encontrando espelhos e se reconhecendo por meio de seus artistas. Sem eles e suas obras, nossas vidas seriam solitárias e vazias nestes tempos difíceis.