Em pouco mais de um ano, a Cultura vive instabilidades com sucessivas trocas de comando. Regina Duarte é a quarta comandante desde que essa área deixou ser um ministério para virar secretaria especial.
A cada novo secretário, instituições culturais federais podem ter seus comandos alterados. Mas a carta branca que Jair Bolsonaro dizia ter oferecido a Regina não se refletiu em nomeações de pessoal.
São vinculadas à Cultura a Agência Nacional do Cinema (Ancine), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), a Biblioteca Nacional, a Casa de Rui Barbosa, a Fundação Cultural Palmares e a Fundação Nacional de Artes (Funarte).
Se, ao assumir, a atriz demitiu pessoas indicadas por gestões anteriores, o que se vê hoje, mais de dois meses depois de sua posse, são pessoas que seguem no cargo a despeito de críticas que receberam dela, como Sergio Camargo, da Palmares, e nomeações que não têm relação com Regina.
Na semana passada, Luciano Querido foi nomeado presidente substituto da Funarte. O ex-funcionário do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro foi nomeado após Dante Mantovani ser reconduzido, por menos de 24 horas, ao cargo.
Mantovani foi demitido quando Regina assumiu a secretaria. Em seu lugar, assumiu Marcos Teixeira Campos, servidor de carreira da Funarte indicado pela atriz. No último dia 5, Mantovani foi renomeado. No mesmo dia, edição extra do Diário Oficial tornou a nomeação sem efeito.
Segundo funcionários da Funarte, Querido, que é pastor da Assembleia de Deus e especialista em mídias sociais, teria dito que não pretende fazer demissões nem trocas de cargos. A Funarte prepara agora editais para trabalhos de arte desenvolvidos online.
Troca de ministérios
Regina trabalha para consolidar a transposição da secretaria do Ministério da Cidadania para o do Turismo. Permanecem com a Cidadania todos os atos administrativos e de gestão, enquanto nomeação, exoneração, designação e dispensa de cargo nas autarquias, fundações e agência ficam com o Turismo.
O fracionamento da nova secretaria especial tem travado projetos na Ancine. Uma das dificuldades é o represamento de mais de R$ 2 bilhões do Fundo Setorial do Audiovisual. Para a liberação dos recursos é necessário que sejam feitas reuniões do Comitê Gestor do FSA, encabeçado pelo ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. Segundo a Secretaria da Cultura, ainda não existe data para a publicação do decreto que arrumaria a casa.
A Ancine segue sem presidente desde agosto, comandada interinamente por Alex Braga, um dos membros da diretoria colegiada da agência.
Na Palmares, a leitura mais comum sobre a gestão de Sérgio Camargo é de que o autodenominado "negro de direita" busca usar a instituição para promover um revisionismo da história negra, o que tem gerado conflitos com ativistas.
Regina e Camargo se estranham desde o começo. Em março, logo após a nomeação de Regina, Camargo extinguiu órgãos colegiados, passando a concentrar poder de decisões.
No Iphan, funcionários dizem acreditar que a gestão se abre para demandas comerciais. Nesta semana, foi nomeada Larissa Rodrigues Peixoto Dutra para a presidência do instituto. Ela é casada com um amigo da família Bolsonaro, Gerson Dutra Júnior, agente da Polícia Federal.
O Ibram é hoje presidido por Pedro Machado Mastrobuono, advogado especializado em direitos autorais indicado por Regina Duarte.
A Biblioteca Nacional não sofreu dança das cadeiras. O presidente Rafael Nogueira, nomeado no início de dezembro, segue no comando.
Assim como ele, Letícia Dornelles segue no comando da Casa de Rui Barbosa, onde está desde outubro. A jornalista e roteirista foi nomeada ainda por Osmar Terra, então na Cidadania. Desde o começo, ela enfrenta críticas, já que, tradicionalmente, presidem a casa pessoas de perfil acadêmico.
Segundo funcionários, desde que assumiu, Dornelles não se reuniu com a equipe do centro de pesquisa. Para eles, está sendo dada mais atenção ao jardim, a conferências de pessoas de fora da instituição.
Nesta semana, Dornelles publicou na revista Terça Livre um texto intitulado "Quem Mandou Matar?", no qual retoma o episódio da facada em Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Na mesma revista, em janeiro, Dornelles escreveu um texto de elogios a Carlos Bolsonaro. "É uma personalidade fascinante para qualquer escritor. Se Carlos não tivesse nascido, teria de ser criado numa novela", diz o artigo.