O Google amanheceu com uma homenagem ao sambista gaúcho Lupicínio Rodrigues nesta segunda-feira (16), quando ele completaria 105 anos. O doodle na página inicial do portal ganhou uma animação do músico com uma referência a um coração partido.
O cantor e compositor porto-alegrense, que morreu em 1974, ficou conhecido pelas marchinhas de Carnaval e sambas que se referiam a amores perdidos. Lupi, como era apelidado, também compôs o hino do Grêmio.
Com um carreira repleta de sucessos, o músico ganhou relevância a partir de 1935, após vencer concurso do centenário da Revolução Farroupilha. Também era conhecido pela fama de boêmio, tendo sido proprietário de diversos bares, churrascarias e restaurantes com espaço para apresentações musicais.
Confira, abaixo, 10 curiosidades da vida do sambista através da visão do diretor e dramaturgo Artur José Pinto, que estudou a vida de Lupicínio para levar aos palcos a peça Lupi, o Musical: Uma Vida em Estado de Paixão, encenada em 2014 em Porto Alegre.
1. Boêmio x caseiro
Segundo Arthur, Lupicínio só era boêmio de segunda a sexta. No fim de semana, gostava de reunir a família, fazer churrasco, cozinhar para os amigos. Chegou até a comprar um sítio na Zona Sul para criar animais, pois adorava essa vida.
2. Não podia chegar em casa depois das 4h
Lupicínio tinha uma carta de alforria da esposa. Se chegasse às 4h01min, a casa caía. Então, ele tinha uma rotina: chegava em casa pontualmente às 4h, tomava uma sopinha e ia deitar. Perto do meio dia, acordava e ia cozinhar. Almoçava, tirava uma sesta e, pelas 15h, começava o ritual: vestia o melhor terno e saía. Usava como desculpa ser representante da SBACEM (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música) para ir de bar em bar.
3. Trabalhou na Carris
Antes de se tornar o Lupi que conhecemos, o sambista trabalhou na Carris, empresa pública de transporte de Porto Alegre, como auxiliar de mecânico. Durou pouco. Depois, foi trabalhar na Faculdade de Direito da UFRGS, cuidando dos corredores e fazendo serviço para professores. Aí deu certo, e ele ficou muito tempo fazendo essas funções.
4. Seu melhor amigo era um boxeador que cantava na noite
O maior amigo de Lupi era Orlando Silva, mais conhecido como Johnson. Johnson era boxeador e um dos maiores intérpretes das composições do Lupicínio na noite. Era um grande amigo do sambista, tanto que as pessoas contam que, no enterro do Lupi, Johnson não conseguia aceitar que ele estava morto.
5. Era o culpado por falir todos os investimentos em que punha a mão
O sambista foi proprietário de alguns bares e restaurantes e era sócio do Rubens Santos. Nenhum existe mais. Rubens reclamava muito porque Lupicínio ia de bar em bar e aproveitava para dar uma canja em cada um deles, e aí os fãs acabavam seguindo a peregrinação com ele. Isso o levou à falência, já que as pessoas acabavam não indo nos bares de Lupicínio.
6. Foi quase aposentado pela bossa nova e pela jovem guarda
Na década de 1960, Lupicínio sofreu com a invasão da jovem guarda, do rock, da tropicália, da bossa nova. O gênero em que ele compunha ficou em segundo plano, principalmente em Porto Alegre. Ele foi voltar só depois, nos anos 1970.
7. Papo com Caetano Veloso
Lupicínio encontrou Caetano Veloso em um bar aqui em Porto Alegre e eles ficaram a madrugada toda conversando. Caetano gravou Felicidade. Foi um marco, porque depois ele começou a ser gravado por Bethânia, Gal, Jamelão, Elza Soares, Elis Regina. Ele acabou voltando. Quando morreu, em 1974, Lupicínio estava no auge de novo.
8. Aos 14 anos, já circulava pelas rodas de samba
Lupicínio era um papa-prêmio. Onde ele colocava música, ganhava troféu. Com 14 anos, já estava fazendo samba. A música se chamava Carnaval. O pai dele, seu Francisco, preocupado com seu futuro, alistou Lupi no Exército. Achou que ia mudar a personalidade dele, só que não deu muito certo. Em Santa Maria, onde ele foi ser praça, acabou formando um grupo para passar a noite inteira tocando samba no quartel.
9. A dor de cotovelo tinha muito de marketing
Nervos de Aço, Cadeira Vazia e Se Acaso Você Chegasse. A cada experiência amorosa, ele fazia música para sublimar a dor. Mas a dor de cotovelo foi uma escolha bastante profissional, nem tanto de catarse artística. Porque ele viu que fazia sucesso, as pessoas gostavam e compravam, e ele se firmou no gênero.
10. Deu o troco em um dono de restaurante racista
O sambista costumava ir ao restaurante de um português em Porto Alegre. Certo dia, o garçom se recusou a atendê-lo, informou que o dono não queria mais receber negros. Lupicínio protestou, chamou a polícia e citou a lei Afonso Arinos (assinada por Getúlio Vargas em 1951, que proíbe a discriminação racial no Brasil), que tinha sido aprovada havia pouco. Era quase inédito um negro protestar dessa maneira, como também era muito difícil que um delegado acatasse a queixa. O dono do restaurante foi citado judicialmente e respondeu processo.