NOVA YORK – Em março, em um estúdio de gravação em Williamsburg, no bairro do Brooklyn, onde painéis de madeira nas paredes e no teto desprendiam uma leve fragrância de pinho, Charlie Rosen se posicionou de pé diante de outros 17 músicos com um sorriso no rosto. Conhecido principalmente por seu trabalho na Broadway, Rosen acompanhava o ritmo da música, batuta na mão, enquanto o conjunto tocava a trilha sonora de um jogo de corrida de carros da Nintendo.
Acompanhando em uma TV sem som as deixas da composição, ele e sua 8-Bit Big Band estavam gravando a música para o jogo Mario Kart 64 em uma performance arrasadora com 36 instrumentos, incluindo saxofones, trompetes, trombones, 11 violinos, três violoncelos e uma harpa.
"Você tem tudo de que precisamos para essa seção?", perguntou ao engenheiro de som. "Ótimo. Vamos passar para o nível 3."
Aos 28 anos, Rosen é um orquestrador, compositor e arranjador capaz de lidar com muitos elementos musicais. É ele o responsável por supervisionar e orquestrar a peça da Broadway "Be More Chill", para a qual também toca guitarra. Ele tem uma banda dedicada a músicas de videogame e outra a músicas de teatro.
Rosen também produz trilhas publicitárias para a marca de produtos para a pele Olay em seu pequeno escritório no Harlem. Em um quarto de 2,7 m por 3 m com vista para uma silenciosa rua, mantém 52 instrumentos, entre eles uma melódica, um trombone, uma cítara e um teremim; este último, que produz o som "ooo-oo-ooo" presente em filmes de ficção científica, é tocado movimentando as mãos no ar.
Se você contar o que ele chama de "brinquedos" – como gaitas, tamborins e uma kalimba –, Rosen tem 70 instrumentos em casa. Ele sabe tocar todos. "Isso é uma loucura. Sou insano", disse, após fazer as contas.
Essa coleção representa mais do que um artifício sofisticado para festas. Ele se denomina antes de tudo um baixista, mas a facilidade que apresenta com tantos instrumentos é parte do que faz dele um orquestrador tão valioso.
É como cozinhar. Quanto mais temperos você conhecer, mais poderá combiná-los para criar novos sabores inesperados.
CHARLIE ROSEN
músico, compositor, orquestrador e arranjador
"É como cozinhar. Quanto mais temperos você conhecer, mais poderá combiná-los para criar novos sabores inesperados", complementou. Ele estima que, uma vez por ano, enquanto trabalha em uma peça de música, pensa: "Sabe do que isso precisa? De um baixo melódico." Rosen é como uma ponte entre estilos e gerações, abraçando clássicos da Broadway, músicas pop e jogos como o Tetris. E tudo isso é canalizado em seu trabalho.
Marc Shaiman, vencedor do prêmio Tony e compositor de trilhas sonoras indicado ao Oscar, descreveu Rosen como um grande talento, mas sem as costumeiras excentricidades que o título sugere. "É o tipo de talento que me faz quase querer odiá-lo. Mas não consigo", confessou.
Jennifer Ashley Tepper, produtora de "Be More Chill" o descreveu como um eixo de conexão para jovens músicos da Broadway, já que, entre bandas e shows, ele contrata muitos deles. "Ele é uma referência de inacreditável calma e de estabilidade. Quando você descobre que tem uma pessoa importante da mídia chegando ou que alguma coisa deu muito errado e você não consegue consertar, ele é o primeiro a dizer: 'O.k., vamos bolar um plano'", contou.
Rosen, com barba impecável e sorriso fácil, mora, desde os 22 anos, no mesmo apartamento de seis dormitórios no Harlem que divide com um grupo itinerante de amigos. A namorada, Danielle Gimbal, transcreve sua música e é presença frequente tanto na casa quanto nas gravações.
Criado em Los Angeles, Rosen é filho de uma fagotista (que também toca flauta, clarinete, flautim e saxofone) e de um organista (que também domina o violão, o banjo e o acordeão). Na casa onde passou a infância, há um órgão de tubos Wurlitzer completo, o tipo visto em casas de filmes mudos.
Seus pais perceberam que ele, aos três anos, era capaz de diferenciar se uma nota tocada no piano era branca ou preta – tinha ouvido absoluto. Por isso, começou com o piano, tendo a mãe como primeira professora.
Ele não planejou trabalhar na Broadway. Mas, aos 15 anos, enquanto se especializava em jazz durante o ensino médio em uma escola de artes cênicas, fez um teste para tocar em uma produção regional do musical "13" – e foi assim que tudo começou.
Cursou quatro semestres da Escola de Música Berklee, em Boston, com algumas interrupções entre as peças da Broadway. Ele escolhia as matérias que poderiam ajudá-lo profissionalmente, como produção musical, arranjos e percussão afro-caribenha.
Seus principais trabalhos atualmente são "Be More Chill" – em que toca uma guitarra vestida a caráter com um laço de cabelo marrom – e "Moulin Rouge!", programado para estrear na Broadway em julho, no qual divide a orquestração.
Graças a Rosen, há um teremim em "Be More Chill", responsável pelo som eletrônico que indica a morte do supercomputador controlador de mentes. O flugelbone também marca presença, instrumento que ele descreve como sua "arma secreta da orquestração": é uma trompa que pode ser manuseada por quem toca o trompete, mas que pode soar como uma trompa francesa ou um trombone, permitindo que apenas um músico seja capaz de produzir uma variedade de timbres para uma orquestra pequena.
Joe Iconis, que compôs as letras e melodias para "Be More Chill", disse que a capacidade demonstrada por Rosen de ter tantos instrumentos na cabeça, e também diferentes tipos de música, tanto atuais como antigos, confere ao trabalho dele uma aura "mágica".
"O conhecimento dele da música é tão vasto que simplesmente intimida. Assim como consegue identificar o som do sintetizador usado na última gravação de Ariana Grande, ele sabe o modelo do trombone usado na orquestração do musical 'How to Succeed in Business Without Really Trying'", elogiou Iconis.
Rosen revelou ter muitos planos – gostaria de escrever música para jogos de videogame, trilhas sonoras para filmes, uma peça para uma grande orquestra sinfônica –, mas nenhum objetivo final em particular em mente. Ele apenas quer continuar.
"Você não chega a ser Charlie sem ser absurdamente ambicioso", argumentou Jason Robert Brown, que foi o compositor e letrista de "13" e trabalhou com Rosen em diversos concertos e shows desde então. "Mas acho que é realmente uma ambição dele ter tanta música quanto possível na vida, na cabeça e na boca. Ele simplesmente ama fazer música."
Por Elizabeth A. Harris