De onde os escritores tiram inspiração para suas histórias? No caso do alegretense Fernando Campos da Rosa, 64 anos, que lançou seu segundo livro neste domingo (4), com sessão de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre, ela vem de suas experiências, de pessoas com quem ele se comunica pela internet e, acredite, de passageiros de ônibus. É que Fernando, morador do bairro Rubem Berta, trabalha como cobrador na Capital.
– Meu novo livro se chama Alegrete, Meu Amor (Errejota Livros, R$ 20, preço médio), e reúne seis histórias que se passam na cidade. Elas misturam fatos e lugares de lá com coisas que eu inventei, que eu vejo por aí. Um passageiro com quem eu converso enquanto estou na roleta também pode ser inspiração. É realidade misturada com ficção – conta ele, que vive na Capital há mais de 30 anos e é cobrador há 24.
A obra lançada é a segunda escrita por Fernando. A primeira, lançada na Feira do ano passado, chama-se Alegrete nos Tempos do Cine Glória, e tinha a mesma estrutura do segundo livro. Tudo começou pela internet:
– Participo de um grupo no Facebook que reúne pessoas de Alegrete, o Alegretenses Desgarrados. Lá, comecei a escrever essas histórias, que usavam as minhas lembranças da cidade. As pessoas liam, se identificam, gostavam, sabe? E algumas me diziam: por que tu não escreves um livro?
O projeto, que já era uma "semente" há alguns anos na cabeça de Fernando, demorou a sair do papel. Mas ele nunca desistiu. Nas duas oportunidades, pagou pela tiragem do próprio bolso. E não se arrepende:
– Tive que economizar muito. Mas é satisfatório. Às vezes, estou na roleta e pensando no texto que vou escrever quando chegar em casa. É importante a gente ver que pode fazer algo que sonha. É preciso acreditar.
A garra para fazer os livros virarem realidade também tem outro motivo: incentivar a leitura. Fernando não passou do Ensino Médio como estudante, mas é um apaixonado pelas palavras. Ele, inclusive, dá aulas de português e de inglês como voluntário em projetos sociais na zona norte de Porto Alegre.
– Vendo os livros por um preço que cobre meus gastos, mas não quero ter um lucro alto. Quero que as pessoas leiam. Uso algumas palavras de antigamente, outras que só se fala em Alegrete. Quem lê pode aprender estas coisas e muito mais – defende.
É claro que um escritor também precisa ser leitor. Perguntado sobre suas referências, ele as tem na ponta da língua:
– Eu leio muito! Uma das autoras que gosto é a Eliane Brum. Ela tem um livro sobre personagens das ruas (A Vida que Ninguém Vê). Também tem Roberto Drummond, um mineiro, que escreveu Hilda Furacão, e outros. Com cada um vou aprendendo um pouco.
Passado o lançamento em Porto Alegre, Fernando segue para Alegrete, no fim deste mês. É que no dia 25 ele participa de um evento para divulgar sua obra também na cidade que é pano de fundo de suas histórias. Além disso, já planeja seu próximo projeto.
– Vai ser um livro para contar a história de Alegrete. A gente precisa valorizar a história das cidades, né? Mas este não vai ser ficção. Será mais complexo e, por isso, mais demorado – planeja.